Pocah se emociona ao lembrar de relacionamento abusivo: “Achei que ia morrer diversas vezes”

Por - 10/08/21 às 04:23

pocah chorandoPocah faz relato emocionante (Reprodução GNT)

O programa “Papo de Segunda”, no GNT, desta segunda-feira, 09 de agosto, recebeu Pocah como convidada. A cantora falou sobre censura do clipe, sua sexualidade, sensualidade e julgamentos. Porém, o ponto que mais chamou a atenção foi o comovente relato sobre as agressões que sofreu em um relacionamento abusivo com seu ex-parceiro.

Mas para começar em ritmo de descontração, o apresentador Fábio Porchat brincou com uma característica que marcou a ex-BBB durante o reality.

“Acordada? A essa hora da noite imaginei que estava dormindo”, disse ele e já emendou perguntando sobre a requalificação do videoclipe da sua música “Muito Prazer”, que foi proibido para menores de 18 anos.

“Tem raba? Tem. Mas tem em vários clipes. Tá muito seletivo, eu tenho percebido, se fosse algo que fosse pra todos, ok. Tá muito seletivo para as mulheres. Se tivesse um cara colocando um monte de mulheres assim… Meu clipe é arte, inclusive tem uma galeria de arte e o monumento sou eu mesma”

E Porchat questionou se o problema talvez não estivesse na letra da canção.

“Essa música é uma música que falo sobre sexo, sexo oral, prazer feminino. Isso não é de hoje, eu não inventei hoje. Madonna falava explicitamente de sexo nas músicas, Cindy Lauper, várias cantoras maravilhosas, incríveis, há muito já fazem isso. É liberdade de expressão. Essa música, especificamente, é uma música pra adulto. Eu reconheço isso. Pra mim, criança não tem que tá na internet. Os pais que devem dar a liberdade ou não. Meu filho vai usar a internet, meu filho não vai usar internet. O responsável pela criança ou não que deve decidir isso”

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DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

Pocah continuou seu relato sobre o pensamento machista que ainda prevalece em muitas esferas na nossa população.

“Ser mulher no nosso país… Eu como mulher posso falar. Quando falo isso, não estou me vitimizando, mas ser mulher, trabalhando no ramo musical, artístico, é muita pedra que a gente recebe. E esse lance que a gente tá dizendo, na hora de pegarem a gente, colocar a bunda, objetificar, tá lindo, maravilhoso. Mas na hora da mulher usar a voz dela, falar abertamente sobre sexualidade, prazer, aí ela não pode

Na minha música, eu falo ‘Se gostou do que eu faço com a raba, imagina o que eu faço com a boca’. Eu tô falando de sexo oral? Estou falando de sexo oral. Porém também quero dizer que sou uma mulher cheia de experiências na vida e eu tenho muito a dizer. Não é pra me limitar só a raba, ao funk, não. Eu sou muito mais além disso. Eu não consigo ver diálogos dessa forma quando é um homem cantando. Mas quando é a mulher, eu tenho que vir a público: ‘Galera, meu clipe foi censurado e tal. É diferente. Se é pra um, tem que ser pra todo mundo. Minha luta é essa. Não quero ser melhor que ninguém

SEXO À VENDA

O assunto do programa passou a ser a comercialização de nudes que está muito em moda, principalmente com o aplicativo OlyFans. A cantora seu ponto de vista sobre o tabu com o sexo.

“Não aguento mais esse tabu, a gente tem que destruir esse tabu. Eu gosto de falar abertamente sobre. Sou uma mulher livre. Falar sobre sexo com os amigos, na internet até mesmo na educação sexual. Seria muito melhor uma criança falar sobre sexo com os pais do que ser abusada em casa e descredibilizada pela família, silenciada, que é o que mais acontece

Tratar o sexo como algo anormal é um problema gigantesco. A minha filha tem cinco anos. Converso com ela e ela entende tudo. Ela sabe onde não pode tocar. Óbvio que existe um limite e essa amizade que eu tenho com ela só tem coisas boas. Ela me conta cada coisinha mínima que eu tenho a confiança. É um caminho que devia ser investido mais. Seria um grande passo que isso fosse tratado de forma mais natural

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JULGAMENTO

Ela contou também sobre os constantes julgamentos que sofreu e ainda sofre em sua vida, e que se sente ainda mais indignada quando essa perseguição é feito por uma mulher.

“Eu já fui muito julgada. O que me deixa triste é ser julgada por mulher que não compreende meu trabalho e que eu sou uma mulher séria, meu trabalho é sério, ganho minha vida com a minha arte, minha música e vem uma mulher querer me botar lá embaixo só porque eu gosto de mostrar na minha arte a minha sensualidade. É muito complicado, mas vou fazer o quê? Só lamento, é minha vida e faço dela o que eu quiser

AGRESSÕES

O segundo bloco do programa foi o mais denso e comovente. O assunto era sobre o aniversário de criação da Lei Maria da Penha, e Pocah contou os momentos difíceis que viveu com seu ex-companheiro, pai de sua filha, onde viveu alguns anos sofrendo agressões físicas e morais.

“Eu vivi muitos anos com essa pessoa e eu comecei a namorar muito nova. Esse relacionamento, ele é completamente conturbado, era infernal pra mim e pra quem estivesse ao meu redor. Minha família, meus amigos, era terrível e eu via o quanto era tóxico e as pessoas falavam o quanto. Eu tentava de todas as formas me livrar daquilo

Havia agressões físicas, verbais, psicológicas, manipulação, meu temor a Deus. Sou uma pessoa que tenho uma ligação com Deus muito grande e essa pessoa usava a minha fé. Ele me traía, eu ficava sabendo, ele me agredia. Eu dizia: ‘O que você fez comigo?’ Eu quase fiquei cega do olho esquerdo. Era pesado. Em diversos momentos fui agredida, queria ir embora e ele dizia que estava sendo usado pelo diabo e que aquilo era o testemunho da nossa vida e que a gente iria contar isso como uma vitória”

A cantora disse que chegou a perdoá-lo por mais de uma vez, mas que muitas vezes temeu pela sua vida: “Eu perdoei uma vez, perdoei duas vezes, três vezes e muito mais. Sabe por quê? Porque eu tinha medo das ameaças que eu recebia. Tinha medo de morrer em diversos momentos em meio a essas brigas, achei que eu fosse morrer. A sensação que eu tinha é que eu já estava morrendo

Começou com gritos, começou com abuso das minhas amizades. ‘Aí, fulana não presta.’ Começava a colocar defeito nas minhas amizades. Essa roupa, tá muito curta. Roupa de pu*a. Começa assim, e você tem que se atentar aos sinais. Isso são sinais. Relacionamento muito das vezes você tem que ceder, mas quando infringe os seus direitos… É muito difícil falar disso. Você não tem que deixar de ser quem você é pra agradar outra pessoa

PONTO FINAL

A ex-BBB confessou que o nascimento de sua filha foi que lhe deu forças para dar um basta nesta situação e abandonasse o companheiro.

“Até ela nascer, era terrível, chute, fui parar no hospital. Quando ela nasceu, eu falei: ‘Eu tenho que mudar isso. Eu não admito mais manter isso aqui ou eu vou morrer e a minha filha depende de mim, não posso deixar minha filha na mão desse cara’. Era uma pessoa completamente toxica.

Eu, determinada, após descobrir uma traição recente, fui pra casa da minha mãe, falei pra ela dizer que eu não estava e simplesmente desapareci. Ele ficava indo atrás, ameaçando. E teve outra questão que é contratual, a gente era sócio na época. Eu tinha provas de roubos, traições, tudo aquilo. E falei pra ele seguir a vida dele ou eu ia colocar na cadeia. Porque eu não acreditava mais na lei

E contou como foi quando chamou a polícia para o marido, uma única vez: “Minha filha era bebê e eu chamei a polícia e o poder dele na região era tanto que ninguém quis me ouvir. Apertaram a mão e tá tudo bem”

DIMENSÃO NO BBB

A libertação veio, com maior intensidade, quando decidiu falar sobre o assunto quando estava confinada na casa mais vigiada do Brasil.

“Quando eu me libertei disso, foi com relatos. Eu lia muito relatos de mulheres que sofreram e deram a volta por cima. A primeira vez que falei disso eu senti que muitas dessas mulheres que sofrem, elas veem uma oportunidade de mudar de vida quando alguém diz que conseguiu. Eu queria usar esse meu testemunho para dizer que elas não estão sozinhas

A Lei Maria da Penha é uma das principais do mundo sobre a violência contra a mulher. Eu não tive a mesma oportunidade. Na época, eu poderia ter lutado mais. Eu desisti muito fácil. Então eu sou a favor de denunciar. Não foi escutada o suficiente? Vai pra internet, posta, tira foto, joga na internet porque assim vai tomar uma proporção maior. Sou a favor de expor mesmo, não ter pena. Porque na hora de te bater, te silenciar, ninguém teve pena

É muito difícil pra mim falar sobre isso. Mas é muito necessário. Meu intuito é ajudar outras mulheres. Hoje eu tô aqui, hoje eu posso dar o meu relato, mas muitas mulheres nesse momento não podem. Muitas mulheres nesse momento podem estar sendo agredidas, mortas

APOIO?

“Eu vivia num quintal onde moravam muitas pessoas. Elas me viram ser arrastada pelo cabelo no chão, tomei cuspida na cara e tudo por descobrir traição”, contou ela muito comovida e em meio as lágrimas.

“Por eu tentar ir embora, eu sofria essas coisas. Essas pessoas viam tudo e quando ele colocou o dedo na minha cara e quase me cegou, meu olho sangrava muito. E a mãe dele dizia pra ele não me levar no hospital porque eu ia jogar ele na cadeia. E eu ver uma mulher que também já sofreu disso ficar a favor… Se fosse meu filho, eu mesmo faria questão de dizer que ele seria meu desgosto. Eu tenho uma filha mulher e não quero nunca que ela passe um terço da humilhação que eu passei. A minha luta é por mim, pela minha filha, por todas as mulheres que sofrem, são silenciadas, abusadas, que tem sua liberdade privada. Essa é minha luta diária. Não é pra me olharem, ai que coitadinha. Não, eu sou uma mulher foda, sou incrível e eu consegui vencer isso. Achei que ia morrer diversas vezes, mas eu tô aqui. Se eu consegui, você também pode”

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