Rita Lee: ‘Outra Biografia’ entra para a lista dos livros mais vendidos do país

Por - 25/05/23 às 10:46

Rita LeeRita Lee escreveu a segunda parte de sua autobiografia após descobrir o câncer - Foto: Divulgação

Sucesso! Rita Lee ficaria muito feliz em saber que sua segunda autobiografia está bombando. O livro, lançado no último dia 22 de maio, a pedido da falecida cantora, pelo fato de, na data, se comemorar o dia de Santa Rita, já está na lista dos mais vendidos.

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A cantora, que morreu no início no último dia 08 de maio, em decorrência de um câncer no pulmão, deixou relatos valiosos não apenas para seus fãs, mas para todos aqueles que desejam mergulhar na vida e obra da “doce vampira” do rock nacional.

Em sua primeira autobiografia, publicada em 2016, Rita destacou sua vida pessoal, a carreira e despedida dos palcos. Já a segunda, ela detalha sua doença e como lidou com seu tratamento, em plena pandemia.

Capa do livro 'Rita Lee: Uma Outra Biografia'
Capa do livro ‘Rita Lee: Uma Outra Biografia’ – Foto: Reprodução

CONFIRA TRECHOS DA AUTOBIOGRAFIA DE RITA LEE

A descoberta do tumor
“Até então, imaginava que fosse voltar para casa naquele mesmo dia; devia ser uma bronquite e um remedinho daria conta de me deixar nos trinques. Mas fui comunicada pelo Dr. Ribas de que poderia ser uma de três coisas: fungo, tuberculose ou câncer. A ‘massa’, como eles se referiam ao troço, precisava ser mais bem investigada para fecharem o diagnóstico e terem mais detalhes. Era preciso que eu fizesse naquela mesma tarde uma tomografia com contraste para buscar sinais de metástase. Foi Dra. Estelita que, com toda a calma, delicadeza e seriedade do mundo, me disse que eu estava com um câncer de 20 centímetros de perímetro no pulmão esquerdo e que apenas uma biópsia em alguns pontos revelaria o tipo de células cancerígenas, que eu faria no dia seguinte. Para tanto, eu deveria ser internada e depois, quem sabe, voltaria para casa.”

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Enfermeira ‘com rostinho sereno’
“Vez ou outra, durante as primeiras horas do dia, entrava no meu quarto uma auxiliar de enfermagem, que devia ter menos de um metro e meio, com um rostinho sereno e bonito, um rabo de cavalo até a cintura, supermagrinha. (…) Me contou que nasceu com os órgãos internos invertidos! Coração do lado direito, fígado do lado esquerdo, canhota e assim por diante. Parecia uma fadinha se comparada às outras enfermeiras, todas altas e fortes, mas era ágil e sempre me oferecia palavras de conforto com sua voz de criança. A apelidei de Sininho.”

Apetite de João Gordo
“Uma das nutricionistas veio me falar sobre alimentação e me disse que veganismo era sua especialidade. Pensei ter encontrado a grande solução para ganhar peso. Qual não foi minha decepção quando provei o patê de grão-de-bico congelado que tinha gosto de parede; depois provei a sopa de couve-flor que tinha gosto de cal; e, por fim, provei a sobremesa de pera assada que tinha gosto de nada. Aquilo não abriria o apetite nem do João Gordo. Mas… bastava lembrar da sonda nasal que eu comia a gororoba falsamente sorrindo. (…) Ainda me alimento sem fome, mas consegui engordar mais um quilo, o que me deixou feliz porque dá uma esticadinha geral na pele do corpo e mostra uma caveira cujo sonho de consumo é engordar nove quilos.”

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Nada pra fazer
“Em casa, a vida era um ócio, um ócio criativo, mas preguiçoso. Minha ansiedade para retornar a escrever, ler, ver TV e levar uma vida como se nada houvesse não durava muito na bonança porque logo vinha a tempestade de um pânico, o que fazia que Rob, Juca e enfermeira A viessem me socorrer. Quando passava a crise, eu morria de vergonha por ter me mostrado tão descontrolada. (…) Por outro lado, aquela paparicação com que me tratavam o dia inteiro me fazia me sentir uma bonequinha de luxo, e eu já estava me tornando uma pequena tirana: ‘Estou com sede’, e lá vinham todos trazendo suco e água… Todo aquele cuidado inédito da minha família para comigo me fez aos poucos concluir que eu realmente era querida por ela e que por isso faria de tudo para que fosse curada.”

Foi à queda, foi ao chão
“Voltei ao hospital para o segundo ciclo de químio, que foi praticamente igual ao primeiro. Para fugir daquela cena manjada de passar a mão na cabeça e tirar tufos inteiros de cabelo — além de entupir o ralo — , resolvi não dar esse gostinho para o previsível e passei máquina zero, encarando a feiura de parecer uma vampira. Com cabelo eu parecia mais com minha mãe, careca fiquei a cara do meu pai. (…) Dane-se o visual, entrar no banheiro e receber uma cachoeira de água quente na cabeça e cerimoniais de cura com ervas, esse prazer era impagável, e eu secava a cabeça em um minuto com a toalha”.

Nada de xixi
“Fui aconselhada a não fazer xixi no banho porque depois de químio e imuno o corpo vai eliminando toxinas pelo xixi, e não é legal ter contato direto com ele. E eu gostava muito de mijar em pé.”

Finitude
“Algo me diz que tenho escrito muito sobre morte. Aliás, por que há tanta gente que até se benze quando tocamos no assunto? A morte é a única verdade, e cada dia a mais vivido é um dia a menos que se vive. Pra que fazer tanta cara de enterro quando deveríamos tratar dela com humor? Desta vida não escaparemos com vida. (…) A verdade é que eu queria mesmo é ser abduzida por um disco voador e sumir sem maiores explicações”.

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Turbante
“Ser careca é adotar diferentes hábitos, outros eus dentro de mim, uma pessoa dentro do nosso ego inferior que é a gente mesmo. O mais transformador foi, sem dúvida, ficar pela primeira vez, desde que nasci, sem franja, que é a mesma sensação de estar pelada no meio da Avenida Paulista e todos rirem de mim. Como estou trabalhando para me transformar numa velhinha fofa, procuro todo dia adotar uma personagem esquisita, tipo uma baronesa exótica que não abre mão de uma leve maquiagem para um up no esqueleto. Usar turbante à la Simone de Beauvoir com um broche grande na frente era imprescindível e, como não fumo mais, adotaria uma bengala para respeitarem meus cabelos brancos.”

Idade
“Quando digo que me dei conta de estar velha, falo não apenas da aparência, mas principalmente da existência em si. Estou vivendo uma fase especial, cheia de perguntas, e tenho a sensação de estar grávida, de me autoparir feito cobra quando abandona a pele antiga e outra renasce ainda mais poderosa. (…) Vencer um câncer exige foco, coragem e fé e, se conseguir ter bom humor, melhor ainda.”

Caiu a ficha
“Ontem, 23 de setembro de 2022, caiu a ficha de que vou passar os próximos anos por conta desse tratamento, e que ele volta e meia vai me obrigar a ir ao hospital para fazer exames de acompanhamento de três em três meses. Minha Pollyanna se antena e joga o Jogo do Contente, pois sempre existe um lado bom: vou me curar, sim. Mas isso não significa que nunca mais algo vá reaparecer.”

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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino