Saiba quem é Enedina Alves Marques, engenheira negra homenageada pelo Google

Por - 13/01/23 às 05:47

Engenheira Enedina Alves MarquesEngenheira Enedina Alves Marques - Foto: Reprodução/Youtube

Se viva estivesse, Enedina Alves Marques completaria 110 anos nesta sexta-feira, 13 de janeiro, motivo pelo qual ela recebe uma merecida homenagem no Doodle, exibido pelo Google. A paranaense foi a primeira mulher negra no Brasil a se formar em engenharia.

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Filha de um casal preto, proveniente do êxodo rural após a abolição da escravatura (1888), Enedina cresceu na casa do Major Domingos Nascimento Sobrinho, em Curitiba, onde a sua mãe trabalhava. Ele pagou os estudos em um colégio particular com a intenção de que fizesse companhia a sua filha.

Ela foi alfabetizada aos 12 e, um ano depois, ingressou no Instituto de Educação do Paraná, sempre trabalhando como empregada doméstica e babá em casas da elite curitibana para custear seus estudos.

Arte Engenheira Enedina Alves Marques
A engenheira Enedina Alves Marques completaria 110 anos – Foto: Reprodução/ Google

DRIBLANDO PRECONCEITOS

Em 1931, Enedina passou a dar aulas e sonhar com a universidade, driblando obstáculos morais e preconceitos para ingressar, em 1940, em uma turma de engenharia formada somente por homens brancos numa época pós-abolição, em que políticas públicas, oportunidades educacionais e profissionais com expectativas de ascensão social à população negra eram impensáveis.

Além de viver em uma região formada por descendentes de europeus, o fato de ser mulher limitava seus sonhos, uma vez que ao sexo feminino o era destinado apenas o papel de dona de casa, professora ou empregada de fábrica, sempre com salários menores do que o dos homens.

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Focada, entrou para a faculdade, onde foi hostilizada e ignorada por alguns de seus professores e colegas. Persistente, Enedina formou-se em Engenharia Civil na UFPR, aos 32 anos, tornando-se a primeira mulher a obter um curso superior no Paraná e no Brasil.

Ela logo passou a trabalhar como auxiliar de engenharia na Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas e, após ser descoberta pelo então governador Moisés Lupion, foi realocada para o Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica do Paraná.

Enedina participou de diversas obras importantes no estado, como a Usina Capivari-Cachoeira (atual Usina Governador Pedro Viriato Parigot de Souza, maior central hidrelétrica subterrânea do sul do país) e a construção do Colégio Estadual do Paraná. Ela ficou conhecida por usar macacão e portar sempre, à cintura, uma arma, que usava para dar tiros para o alto sempre que julgava se fazer respeitada.

CARREIRA EXITOSA

Com a carreira estabelecuda, Enedina se dedicou a viajar o mundo entre os anos de 1950 e 1960. Nesse mesmo período, em 1958, o major Domingos Nascimento faleceu, deixando-a como uma das beneficiárias no seu testamento.

Ela conquistou respeito liderando centenas de operários, técnicos e engenheiros. Em sua homenagem, foi fundado o Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques, que se empenha em combater a invisibilidade racial em diversos setores, como o ambiente escolar e o mercado de trabalho.

Enedina não se casou e não teve filhos. Foi encontrada morta aos 68 anos no Edifício Lido, no centro de Curitiba, onde morava. Por não ter família imediata, seu corpo demorou a ser encontrado. Seu túmulo é um dos principais pontos da visita guiada pela pesquisadora Clarissa Grassi, no cemitério municipal da capital paranaense.

Em 2020, foi lançado um documentário, batizado de “Além de Tudo, Ela”, com direção de Pâmela Regina Kath, Mickaelle Lima Souza, Lívia Zanuni e Pedro Vigeta Lopes. O cinebio documental retrata a trajetória de Enedina por meio de documentos, imagens e entrevistas com uma sobrinha, uma afilhada e um pesquisador.

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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino