Saiba tudo sobre a novela Meu Pedacinho de Chão – Cenografia

Por - 03/04/14 às 14:04

Divulgação/TV Globo

A parceria profissional entre o diretor Luiz Fernando Carvalho e o artista plástico Raimundo Rodriguez soma mais de uma década e revela a fluidez e afinidade com que trabalham em Meu Pedacinho de Chão. Raimundo empresta sua arte para a estética lúdica e poética criada por Luiz Fernando Carvalho para a novela.

Uma cidade inteira nos moldes de um imenso brinquedo de lata, cavalos coloridos e articulados que se movem, engrenagens que tornam autômatos objetos inanimados, um carrossel de esculturas de vacas denominado “curral-céu”, são algumas das contribuições de Raimundo para a construção deste universo mágico visto pelo olhar da criança.  Tendo como inspiração brinquedos antigos, o artista utilizou, para revestir todos os prédios da cidade cenográfica, latões de tinta reciclados que, abertos, desamassados e pregados uns nos outros, fazem desta uma cidade de lata.

A reutilização de objetos é uma das características do trabalho de Raimundo Rodriguez.

“Como matéria-prima, me interessa tudo o que sobra. A reutilização de objetos nos meus trabalhos tem o objetivo de ressignificar o mundo, dar novos sentidos e representações para as coisas”, reflete o artista.

Incansável, Raimundo lidera uma equipe diversificada e acompanha cada detalhe da confecção dos objetos cênicos que são, em sua maioria, artesanais. Seu ateliê polivalente, com viradeiras, prensas e tornos, é também uma oficina de brinquedos e fantasia.  A arte a serviço da dramaturgia.

Além das peças criadas por Raimundo, a produção de arte conta também com objetos diversificados, como lustres, máquinas registradoras e caixa de ferramentas antigas. Apesar de serem peças utilitárias, que existem de fato, elas representam a magia e a atemporalidade da fábula. Para isto, o produtor de arte Marco Cortez e sua equipe pesquisaram objetos, em sua maioria réplicas ou originais de antiquários, do final do século XIX e início do século XX, que tivessem estética exuberante e que, com algumas intervenções de cores e outros elementos, adquirissem o tom lúdico e atemporal conceituado pelo diretor.

Os objetos também ajudam a representar o universo de cada personagem.

“Na casa de Epa, que é um homem que ostenta dinheiro e poder, os objetos são mais luxuosos, opulentos. Há muita porcelana, quadros, obras de arte e peças de cama, mesa e banho feitos com materiais nobres como seda e rendas elaboradas, mas também por cortinas de plástico adquiridas no Saara. Há também um acúmulo muito grande de papeis, escrituras, livros caixa, que representam a necessidade de controle e a avareza do personagem”, revela Cortez.

Em harmonia com a produção de arte, a cidade cenográfica de Meu Pedacinho de Chão é um dos elementos principais da narrativa da novela. Para Keller Veiga, a “Vila Santa Fé é um lugar que contém todos os lugares da imaginação de Serelepe. A cidade é um brinquedo com outros brinquedos dentro”, reflete o cenógrafo, alinhado com a definição de Luiz Fernando Carvalho. O diretor considera a cidade um microcosmo que pode ser simbolizado como um jogo de armar peças que uma criança recolhe e compõe em seu quarto para estruturar uma cidade de brinquedo.

A cenografia não tem nenhum compromisso com a realidade, proporções ou estilo arquitetônico definido. Os prédios, 28 ao todo, numa área de 7 mil metros quadrados, são todos revestidos por latas, remetendo ao material utilizado por antigos brinquedos do século XIX. Todos esses edifícios possuem interior funcional que serve como set de filmagem.

Há apenas dois cenários em estúdio: as casas de Coronel Epa e de Pedro Falcão, que terão dois pavimentos. Luiz Fernando Carvalho criou um modelo de produção que privilegia os processos criativos dos departamentos.

“Trata- se de uma grande novidade o fato de a história da novela ser contada com apenas 20 personagens e, com isso, ter a possibilidade de montar no estúdio apenas os cenários de Epa e Pedro Falcão, sem a necessidade de desmontagem”, comenta o diretor. Além disso, ao contrário do usual, esses dois cenários são fixos e o switcher (mesa de corte do diretor) fica dentro do próprio estúdio.

Cada metro quadrado da cidade cenográfica é explorado e um detalhe pode virar o plano principal da gravação. Por isso, existe um cuidado redobrado com o acabamento, de modo que ela possa ser filmada por todos os lados e até mesmo por cima.

Os prédios não têm compromisso com nenhuma arquitetura. Keller usa elementos espanhóis, mouros, como o porão do Coronel Epa. Faz uso também de referências de casas russas, siberianas, coloniais brasileiras, sem privilegiar nenhum estilo arquitetônico. As construções apenas remetem ao universo infantil.  

Vila Santa Fé é colorida, solar e alegre. O projeto paisagístico é quase integralmente sintético. Há horta com legumes enormes e jardins de flores artificiais (mais de 120 mil flores coladas manualmente uma a uma). As árvores foram coloridas com mantas de crochê, uma alternativa para não agredi-las e, ao mesmo tempo, ajudar a representar o universo de contos de fadas.

Emoldurando toda a cidade, estão enormes painéis criados por Clécio Regis, que, somados linearmente, chegam a 3.200 metros. As grandes telas de lona crua foram pintadas durante 45 dias por Clécio e sua equipe predominantemente com as cores laranja, azul e amarela. Bebendo de Renoir e Van Gogh, as paisagens sofrerão influências das estações do ano, começando pela primavera.

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