Seriado global Suburbia promete explorar linguagem documental

Por - 08/10/12 às 11:02

Produções televisivas podem ser um reflexo da realidade. Tanto que muitas pessoas se identificam com o que assistem e algumas chegam ao ponto de confundir ficção com verdade. Mas essa busca pelo real vai ser o princípio fundamental de Suburbia, próximo seriado da Globo, que estreia no dia 1º de novembro. Com direção de Luiz Fernando Carvalho – que também idealizou o projeto ao lado do escritor Paulo Lins –, a produção conta a trajetória de Conceição, interpretada por Erika Januza.

A protagonista deixa o interior de Minas Gerais para ir atrás de uma vida nova e melhor no Rio de Janeiro, onde é acolhida por uma família do subúrbio carioca. Através de um olhar documental, o seriado pretende trazer uma trama de amor e drama social em oito capítulos.

"Busco um atrito com o real, de tal modo que os telespectadores se sintam como se estivessem diante de histórias reais", explica Luiz Fernando Carvalho.

Para criar uma atmosfera verossímil, todas as cenas foram gravadas em locações. Algumas delas em Minas Gerais, em vários bairros do subúrbio do Rio de Janeiro e na Ilha de Paquetá – localizada na baía de Guanabara –, onde o elenco ficou por três semanas.

"A gente teve uma vivência em Paquetá que nos possibilitou essa grande amizade e essa grande troca de afeto. E isso transpira na cena ", conta Ana Kariny, que interpreta Bete.

Além disso, Suburbia utilizou a quadra da escola de samba Império Serrano, no bairro de Madureira, no Rio de Janeiro, para a cena em que Conceição é coroada rainha de bateria da fictícia agremiação União Carioca.

Em pleno domingo, mais de 100 pessoas, integrantes da Império Serrano, trabalharam na figuração e 50 ritmistas tocaram em cima do palco da quadra da escola. Bem antes de começar a gravação, inclusive, o samba já corria solto e as pessoas presentes no local dançavam como se estivessem em uma comemoração. Não demorou muito e Luiz Fernando Carvalho começou a organizar os ritmistas. Claramente preocupado com cada detalhe, mas com aparência serena, o diretor só deu início às gravações quando todos já estavam devidamente em suas marcações.

Finalmente, Erika entrou no palco e, na pele de Conceição, sambou durante horas a fio, em cima de um par de saltos digno de uma rainha de bateria de escola de samba. Como a personagem é devota de Nossa Senhora Aparecida, Erika apareceu vestindo um manto azul todo bordado, cor associada à santa. Depois de muito sambar e ser coroada na trama, Conceição diz sua única fala no microfone.

"Queria agradecer a Deus, a Nossa Senhora Aparecida e a todo mundo que está aqui hoje", anuncia, com tom de voz emocionado.

Com atores desconhecidos no elenco, Suburbia promete explorar linguagem documentalComo já é de praxe nas produções que Luiz Fernando Carvalho dirige, em Suburbia, a câmara na mão também é bastante explorada. Mas nesta cena foram utilizadas duas e não apenas uma, como é feito normalmente para trazer uma linguagem mais cinematográfica. Uma delas, aliás, ficou sob o comando do próprio diretor. Enquanto gravava, dando várias voltas ao redor da protagonista sambando, ele fazia gestos para a figuração caprichar mais nos aplausos. Em uma das poucas pausas, Luiz Fernando deu a deixa para Erika.

"Texto, Conceição, gravando", avisou. Depois, no ápice da cena, todos foram banhados por milhares de papéis platinados picados, causando um belo efeito. Quando os papéis chegavam ao fim, Luiz Fernando Carvalho pedia para catá-los para usar novamente.

"Agora mais confete em cima da família", pedia, referindo-se aos parentes da personagem principal da história.

O elenco também reflete essa incessante busca pelo real do seriado. Tanto que – com exceção dos veteranos Haroldo Costa e Rosa Marya Colin – foram selecionados atores desconhecidos e até não atores, como a própria Erika Januza, que trabalhava na área administrativa de uma escola em Contagem, sua cidade natal, em Minas Gerais. Outra característica importante é que a grande maioria do elenco é de atores negros. Ana Kariny, que não se enquadra no grupo, acha importante o espaço dado à cultura africana em Suburbia.

"Acho incrível o que o Luiz Fernando está fazendo. Acho bárbaro uma pessoa como eu, loura de olho claro, ser quem cozinha e esquenta a barriga no fogão na história. Gosto dessa inversão", comemora a atriz, que interpreta uma mulher dedicada à família, ao marido e aos dois filhos.

 

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