Xuxa pede desculpas por erros do passado e reforça sonho, ao lançar documentário

Por - 11/07/23 às 08:19

Xuxa com Doralice no colo no lançamento do documentárioXuxa e sua inseparável Doralice - Foto: Roberto Filho/ Brazil News

Só faltou a nave para ficar completo. Mas Xuxa proporcionou aos altinhos que lotaram o Kinoplex Platinum Rio Sul, na Zona Sul do Rio de Janeiro, na noite de segunda-feira, 10 de junho, um revival dos bons.

Também não teve dancinha e cantoria, mas a eterna Rainha dos Baixinhos, ao lançar o esperado “Xuxa, O Documentário”, do Globoplay, trouxe à tona toda a atmosfera dos idos dos anos 80 e 90, época e que era imbatível na popularidade, nos índices de audiência, no prestígio e, sobretudo, no coração dos fãs pelo mundo afora. 

Na presença de seus familiares, muitos amigos, quase toda a equipe de seus programas, desde a extinta TV Manchete, vários amigos, a maioria das ex-paquitas e paquitos e uma legião de fãs, a loira era só sorrisos, a bordo de um elegante look Fend.

Ela era só emoção ao destacar o trabalho, que fecha com chave de ouro a comemoração de seus 60 anos, completados em março: “Poder ver as pessoas, encontrar as pessoas e ver a minha história através da visão delas. A própria Marlene, que fazia tempo que não a via. Todas as pessoas que trabalhavam comigo, mexeu muito comigo”, disse Xuxa à OFuxico.

Saber da sua história através de pessoas que estavam perto de você é muito diferente. Revisitei a minha história através do olhar das pessoas”

Dividido em cinco episódios, o documentário estreia na próxima quinta-feira, 13 de julho. Durante o lançamento, a artista conversou por longo tempo com a imprensa e abriu o coração, uma característica que se tornou mais uma de suas marcas, depois que ela rompeu com Marlene Matos.

  • Com direção geral de Pedro Bial, o documentário, que terá cinco episódios semanais, mostra bastidores do universo que envolvia a eterna Rainha dos Baixinhos;
  • A série documental destaca memórias de Xuxa e resgata a sua trajetória, desde o início como modelo, passando por sua carreira como atriz, até a fama internacional;
  • O reencontro com Marlene Mattos, com que não falava há 19 anos, foi, segundo a loira, um dos momentos mais tensos;
  • Xuxa afirmou que sentiu falta, no documentário, até das Paquitas que não falam mais com ela.

A vontade incessante de se tornar avó, segundo ela, ficou ainda mais latente a partir deste trabalho: “Sem pressão pra minha filha, estou com muita vontade de ser avó, mas queria muito que meus netos tivessem a possibilidade de ver minha história através do doc.”, ressaltou.

“Vai ser pra guardar, pra dizer: ‘Isso aqui foi um pouco do que a vovó viveu’. Estou muito preparada pra isso, pra ser chamada de vovó e poder mostrar minha história. Já pensou? Em vez de mostra álbum de família ou relembrar conversas, dizer: ‘Olha aqui, vem aqui coisa pequena, gostosa, deliciosa da vovó, e vamos ver a história da vovó. Estou muito satisfeita porque já estou visualizando isso”, disse ela.  

Durante o evento, os convidados tiveram a oportunidade de fazer uma viagem no tempo com uma exposição cheia de looks icônicos da carreira de Xuxa. Ela, com sua inseparável cachorrinha Doralice, não deixou de fazer caras e bocas diante dos trajes.

SENTA LÁ, CLAUDIA

Os convidados que lotaram as salas do cinema, deram risadas diante de imagens do início da carreira da loira, no extinto “Clube da Criança” na Manchete. Muitas gírias, empurrões, impaciência e até bate-boca eram normais no dia-a-dia da então iniciante apresentadora de TV.

Ela relembrou algumas passagens e pediu desculpas: “Fico inconformada, como essas coisas, que eram gravadas, iam pro ar? Ninguém percebia os absurdos? Eu vou sempre, eternamente, pedir desculpas a cada um. Estava assistindo recentemente a um programa antigo, eu chamando a criança de gorda! Dizia que ela havia ficado entalada porque comeu muita batata, olha isso! E assim, da minha falta de experiência, de tato, da impaciência, veio o ‘senta lá, Claudia’ e outros muitos absurdos. Eu era um meme ambulante”.

ABUSADA X ABUSADOR

Sem citar nomes, mas dando a entender que se referia à Marlene Mattos, principalmente diante da repercussão da exibição no “Fantástico”, no domingo, 09, de um trecho pesado do reencontro das duas, Xuxa destacou que ainda fica indignada com as reações das pessoas.

Ela ressaltou que mesmo sendo a figura popular que é, tendo sua vida acompanhada de perto pelo público, ela ainda é incompreendida: “O que me choca mais é como as pessoas veem certas situações. Eu fui uma pessoa assediada moralmente, eu tive abusos não só físicos, mas também abusos psicológicos. Eu fui abusada. Abuso de confiança, abuso de poder foi usado em cima de mim, tá claro, tá nítido. E tem gente que ainda fica do lado do abusador e não do lado da vítima que no caso, seria quem viveu tudo isso. Não fui só eu, foram as paquitas e paquitos, as pessoas que conviveram e viveram ao meu lado”, destacou.

Ficar do lado ruim, não dá. Eu sempre fui Super Xuxa contra o baixo astral.”

E continuou o desabafo: “Choca, ver que as pessoas ainda arrumam um jeito de dizer: ‘Isso é normal, é da pessoa. Naquela época…’. Tudo bem, mas agora estamos vivendo nessa época e temos que dizer: “Não pode mais, basta! Você não pode ficar do lado do malvado. Hoje em dia se tem um mocinho, a gente torce mais pro lado do cara que mata, que faz coisas erradas.”

PINTOU UM CLIMA E UM CRIME

Na conversa com a imprensa, a loira citou as polêmicas envolvenndo o filme “Amor Estranho Amor”. Em uma das poucas cenas em que ela aparece, a personagem está nua com um menor de idade, o que lhe valeu uma verdadeira “condenação” quando se tornou a Rainha dos Baixinhos.

“Foi uma coisa pesada, pessoas faziam faixas escrito: ‘Venha ver o que ela faz com seus baixinhos’. E vendiam o filme em locadoras. Além de ser fake news, tinha uma pitada de maldade, tipo assim: ‘Se eu não falar mal dela, não vai ter espaço’, que é o que muita gente costuma fazer ainda hoje em dia. Mas com um requinte de crueldade, porque eu sabia que isso iria mexer muito comigo, me machucar muito”, ressaltou a loira.

Xuxa reconheceu, entretanto que faltou tato por parte de sua equipe. Ela considera um erro o fato de não terem deixado o filme circular, para que vissem que as imagens não refletiam a maldade que tentavam incitar

“Fora a minha falta de experiência, a minha falta de maturidade, as pessoas que estavam comigo também não estavam acostumadas com isso, não sabiam como lidar. Acho que fizeram a pior coisa, que foi chegar e dizer: ‘Vamos pagar pra essa pessoa ficar com esse filme guardadinho pra não atrapalhar a vida dela’”, contou.

Se tivesse colocado a porcaria do filme desde aquela época pra todo mundo ver, não ia acontecer nada disso, porque as pessoas iam ver e dizer que não tem nada. É um filme, pronto, acabou, beleza. Não. Então, todo mundo falava, e até hoje as pessoas querem falar desse filme.

A artista, com a expressão séria, ainda comentou que a condenação persiste: “Fiz o filme com 17 para 18 anos. Estou com 60 anos e até hoje as pessoas falam o tal do fake news, dizendo: ‘Olha, a Xuxa é pedófila’. Ou seja, o Rambo também matou um monte de gente, entendeu?”, completa.

Xuxa chamou atenção ao fato de que “Amor, Estranho Amor” mostra a exploração de sua personagem, que havia sido vendida. A apresentadora, bastante chateada, citou uma fala do ex-presidente Jair Bolsonaro, quando ele afirmou que havia “pintado um clima” com venezuelanas menores de idade.

“As pessoas não veem como ficção, querem ver aquilo como verdade, não veem a história do filme, que é uma menina que foi vendida para um prostíbulo, para ser dada para um político. Ou seja, a exploração sexual contra a criança, contra adolescente, e que existe até hoje. E o filme foi baseado no ano de 1960 e pouco”, explicou.

“Desde aquela época, as crianças eram exploradas e até hoje. Dito isso, vou falar que nosso ex-presidente falou que: ‘pintou um clima’ e ninguém mais fala sobre isso e só eu fico falando sobre isso, que isso é um crime, não é um clima e está lá nesse filme e ninguém quer falar sobre isso. Pelo contrário, querem usar isso para me machucar. Então, o que eu posso dizer, o que me machuca mesmo, é a ignorância das pessoas”, afirmou.

“A verdade é que eu fiz, sim, esse filme, não posso negar”, finalizou.

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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino