Youtuber Vitor DiCastro: ‘A homofobia me calou por muito tempo’
Por Raphael Araujo - 14/06/21 às 03:00 - Última Atualização: 13 junho 2021
Quando pensamos em representatividade LGBTQIA+ no Youtube, impossível o nome de Vitor DiCastro, responsável pela série sobre signos “Deboche Astral”, que conquistou a todos com seu carisma e originalidade.
Em entrevista para a revista Quem, o youtuber comentou sobre o fato de se tornar uma referência dentro da comunidade, e quais as consequências de uma representatividade em alta como a dele.
“Vivar referência me fez ser mais cobrado, ainda mais na era do cancelamento. Tenho que me posicionar sobre os assuntos, mas da maneira que o público espera. Se eu falar uma besteira vai ter peso 2. Lido com isso de uma maneira tranquila porque entendo que o papel que posso ter na desconstrução de uma pessoa ou na representatividade é mais importante”, afirmou ele.
“Claro que tomo muito cuidado e faço meu conteúdo com muito zelo, porque espero que as pessoas vejam posts relevantes e pensem a partir do que mostro para elas. Mas entendo que só uma foto que posto de unha pintada já fala muito, e às vezes nem é o que quero dizer, sou só eu vivendo minha vida”, explicou Vitor DiCastro.
“Por mais que seja mais uma responsabilidade, acho ótimo porque sempre quis ter essas referências gays e não tive. Eu faço parte de uma geração na internet que, talvez seja a primeira, que fala sobre as próprias vivências enquanto LGBT”, afirmou ele.
Sofrendo muitas consequências da homofobia
Durante a entrevista, Vitor DiCastro ressaltou como a homofobia foi prejudicial na vida dele, chegando ao ponto de duvidar de si mesmo.
“A homofobia me calou por muito tempo. Demorei para me encontrar e entender que tenho talento e poderia brilhar fazendo meu trabalho mesmo sendo gay. Só fui me aceitar depois que já tinha saído da faculdade, com vinte e poucos anos. Venho de uma família muito católica, e por isso cresci com esse pensamento conservador, achando que por ser gay eu sou menor, valho menos, não posso ser feliz, não tenho direito a uma família, ao amor e a conquistas”, contou ele.
“Tentei por muito tempo me encaixar numa heteronormatividade. Só quando adulto que entendi que além de gay poderia ser o que quisesse. Essa libertação é o que me faz ter forças para incentivar outras pessoas a viverem esse processo, porque já estive do outro lado e não faz muito tempo, foi há menos de dez anos”, revelou Vitor.
“Quando vejo alguém falando o que passa por homofobia, fico muito tocado porque essa é uma lembrança muito próxima que tenho. Quando eu era criança, passei pela tal da terapia de conversão sexual. É marcante estar no consultório com uma psicóloga tentando te convencer a ser mais masculino do que você é”, detalhou o youtuber.
“É difícil porque esperamos dessas pessoas que elas sejam estudadas e tenham razão. Isso me fez ser outra pessoa. Me transformei num homem pseudo-heterossexual com 10 anos. Isso é muito violento”, disparou Vitor DiCastro.
Humor como arma
Por fim, Vitor DiCastro ressaltou que enxerga o humor uma super ferramenta para levar assuntos sérios acidente e atingir um público maior com eles.
“Tem muita gente que me conhece por causa das piadas de signo, e quando eu vou falar sobre um assunto sério, as pessoas têm menos resistência a me ouvir. Alguém que te faz rir torna seu dia mais leve. O riso ajuda inclusive a gente a entender melhor questões que são profundas”, disse.
“Durante os vídeos em que estou ‘full pistola’, solto uma piada porque é mais forte do que eu. Isso ajuda a gente a respirar. A vida já é muito pesada, e a gente não precisa colocar mais peso ainda em cima das discussões. Claro que não tem discussão que dá pra gente dar risadinha, mas se der, é bom que a gente ria mesmo”, concluiu Vitor DiCastro.
Raphael Araujo Barboza é formado em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. OFuxico foi o primeiro lugar em que começou a trabalhar. Diariamente faz um pouco de tudo, mas tem como assuntos favoritos Super-Heróis e demais assuntos da Cultura Pop (séries, filmes, músicas) e tudo que envolva a Comunidade LGBTQIA+.