Vai na Fé: Como Rosane Svartman virou a rainha das novelas das sete?

Se tem uma novela na atual grade horária da TV Globo que vem fazendo muito sucesso, com certeza é “Vai na Fé”, que vem elevando os índices de audiência da faixa horária e sendo extremamente aclamada nas redes sociais, com os internautas rasgando elogios todos os dias a cada capítulo que passa.

Muito desse sucesso tem nome e sobrenome: Rosane Svartman, a autora principal da trama em seu primeiro projeto solo (sem dividir a função principal, mas ainda contando com colaboradores), que já pode ser considerada a rainha das “novelas das sete” na emissora.

Em entrevista ao OFuxico, a escritora declarou: “Uma novela precisa dialogar com o público e o momento do país. Minha estratégia é ter escuta e buscar construir pontes de empatia através da narrativa e torcer pra dar certo. Uma novela sempre tem um lado autoral e um industrial. É um equilíbrio difícil, pra isso é importante me cercar de uma equipe que possa trazer frescor e ideias pra trama e confiar na minha sensibilidade para conduzir esse processo”.

Diante disso tudo, OFuxico decidiu relembrar a carreira de Rosane Svartman, falando de seus principais projetos, acertos como escritora e o porquê do título dado no fim do segundo parágrafo. Confira!

SÉRIES PLANTARAM A SEMENTE

Rosane começou a se destacar na TV com duas séries na TV Globo: “Dicas de um Sedutor” e “Guerra e Paz”, ambas focadas em comédia romântica à sua maneira. A primeira acompanha Santiago Ortiz (Luiz Fernando Guimarães), um consultor sentimental que trabalha dando conselhos, mas cuja filha, Ganesha (Isabela Meirelles), é uma adolescente que vive se dando mal no amor e não aceita os conselhos do pai por considerá-los falsos, recorrendo à ajuda da melhor amiga, Ferrinho (Thais Müller), que sabe menos de romances que ela.

Já na segunda atração, conta a história de Bárbara Palermo (Danielle Winits), uma escritora frustrada por ter de adotar um pseudônimo, Paloma Paz, para vender mais livros em bancas de jornal, e de Pedro Guerra (Marcos Pasquim), um policial que adora correr riscos e que, na adolescência, foi a grande paixão de Bárbara, sendo a grande inspiração de Bárbara para a redação de seus livros.

As duas séries, apesar de seguirem um formato comum na televisão e ter histórias de amor que vemos, aqui é uma abordagem diferente e mais criativa, como uma pessoa dando conselhos como “emprego” e em outra uma metalinguagem entre livro e realidade, mostrando que temas “batidos” podem ser usados de maneira atrativa.

O ACERTO NA MALHAÇÃO

Após o sucesso em “Dicas de um Sedutor” e “Guerra e Paz”, Rosane Svartman teve a chance de trabalhar em novelas, e foi responsável pela temporada de 2012 de “Malhação”, intitulada “Malhação: Intensa como a Vida”, e sempre intitulada nas chamadas como a “nova Malhação”. A autora escreveu a trama em dupla com Glória Barreto.

Estrelada por Alice Wegmann, Agatha Moreira, Guilherme Prates, Guilherme Leicam, Juliana Paiva, Rodrigo Simas, David Lucas e Daniel Blanco, a trama foi muito bem-sucedida em atrair um público jovem para as novelas, que tiveram a história como sua prova de entrada, e boa parte da geração Z que pode conferir a história na época considera a melhor temporada da novela.

Maior prova de que o trabalho foi bem-sucedido foi que Rosane voltou para a temporada de 2014 de “Malhação”, intitulada “Sonhos”, em parceria com Paulo Halm e supervisão de Glória Barreto (repetição da parceria anterior), e aqui a academia voltou a ser o foco igual nas temporadas anteriores.

“Malhação Sonhos” era estrelada por Bruna Hamú, Arthur Aguiar, Eriberto Leão, Isabella Santoni, Maria Joana, Rafael Vitti, Marcelo Faria e Felipe Simas, e prova de seu gosto popular foi ter sido reprisada em 2021 em meio a pandemia do coronavírus, e acabou sendo a última exibição de “Malhação” na TV Globo, pois a emissora cancelou o título.

MIGRAÇÃO PARA NOVELAS PRINCIPAIS

Com o sucesso das duas temporadas de “Malhação”, Rosane Svartman assumiu sua primeira novela das sete na TV Globo, “Totalmente Demais”, e repetiu a colaboração com Paulo Halm, sendo sua primeira trama entre as faixas “principais” do canal. O projeto foi indicado ao Emmy Internacional de “Melhor Telenovela”.

O elenco era espetacular, composto por Contou com as participações de Marina Ruy Barbosa, Fábio Assunção, Juliana Paes, Felipe Simas, Humberto Martins, Vivianne Pasmanter, Daniel Rocha e Juliana Paiva, acompanhando a história de Eliza e do concurso Totalmente Demais (o nome da trama, que se baseou livremente na peça teatral “Pigmalião”, de George Bernard Shaw).

A história novamente é algo que já vimos em outros lugares, mas com a marca da autora, que consegue criar personagens cativantes e impressionar a sociedade ao complexar a simplicidade, dando profundidade aos personagens, e até mesmo fez duas torcidas de casais brigarem até o fim, mostrando como uma boa escrita gera rumos aclamados, de um jeito ou de outro.

Aliás, “Totalmente Demais” também foi reprisada durante a pandemia do coronavírus em 2020, superando a audiência de 21 novelas das 19h no século XXI e tendo o melhor desempenho desde “Cheias de Charme”, que foi um estrondo em 2012 quando lançada. Chegou a superar o “Jornal Nacional” e atingir mais de 29 pontos de média, Que feito e tanto!

SUCESSO SEGUIDO NO HORÁRIO

Quatro anos depois, estrearia também no horário das sete uma novela de Rosane Svartman e Paulo Halm: “Bom sucesso”, novamente com um elenco de peso, composto por Antônio Fagundes, Grazi Massafera, Rômulo Estrela, David Junior, Fabiula Nascimento, Armando Babaioff, Sheron Menezzes e Lúcio Mauro Filho.

Novamente, temas simples e cotidianos deram espaço para momentos icônicos e marcantes, o maior trunfo da autora, que chegou a trazer muita dramaticidade quando Paloma e Alberto tiveram seus exames trocados logo no início da trama, assim como a ganância de Diogo, o grande vilão da história.

Aliás, aqui era confirmado um dos focos de Rosane quando vai escrever tramas maiores: explorar os bastidores de alguma coisa muito comum na sociedade. Em “Totalmente Demais”, vimos os bastidores de um concurso de beleza, enquanto aqui acompanhávamos a realidade de uma editora de livros no Brasil.

Na reta final, nos corredores dos Estúdios Globo, a trama virou “menina dos olhos”. Picos de 29 pontos de audiência comprovaram isso, superando até mesmo alguns dias de “Amor de Mãe”, faixa das 21h da época, assim como foi a novela mais pesquisada pelos internautas em seus últimos meses.

TRUNFO DOS PERSONAGENS IDENTIFICÁVEIS

Na conversa com OFuxico, Svartman comentou sobre suas pesquisas para entregar suas novelas e conquistar os fãs: “Uma novela sempre tem um lado autoral e um industrial. É um equilíbrio difícil, para isso é importante me cercar de uma equipe que possa trazer frescor e ideias para trama e confiar na minha sensibilidade para conduzir esse processo. As pesquisas sempre me fazem querer saber quem são as pessoas por trás dos números”.

“Me aproximo assim de histórias de vida inspiradoras. A Paloma (Grazi Massafera) da novela ‘Bom Sucesso’ veio de uma pesquisa sobre o aumento de mães chefes de família, por exemplo. As redes sociais não são exatamente o equivalente a uma pesquisa, mas muitas vezes ideias pontuais surgem através de pessoas que amam a novela”, contou a autora.

“Mas é preciso filtrar e lembrar que algumas mensagens mais agressivas são de pessoas que se engajaram na trama e interagem de forma passional. Já li uma mensagem de alguém querendo me atropelar e dar ré porque queria um casal específico, por exemplo”, completou Rosane.

3 HITS = RAINHA DAS NOVELAS DAS SETE

Agora solo, como comentamos no início deste texto, Rosane Svartman acertou mais um golaço entre as “novelas das sete” com “Vai na Fé”, que tem conquistado novamente a audiência, chegando a bater 25,8 pontos de média no último dia 27 de março, o maior número do horário desde julho de 2021, após o fim de “Salve-se Quem Puder”. Aliás, os números vêm superando o “Big Brother Brasil”, que era sinônimo de audiência extrema em 2020 e 2021.

A história repete os maiores trunfos da escritora que citamos ao longo deste especial: história simples, mas cativante e com personagens cheios de nuances, que trazem identificação com o espectador e permite que eles sejam aprofundados no decorrer da história, prendendo a atenção de quem assiste. Ela também sabe conduzir tudo com naturalidade, apelando muito pouco para as coincidências de roteiro, fazendo com que a trama ande sem parecer nem apressada nem arrastada.

Tudo isso discutindo assuntos sérios, delicados e representativos sem perder o humor e leveza característicos de “novelas das sete”, então ao mesmo tempo que atraí um público novo e/ou recupera quem não assistiu títulos anteriores, não abandona os fãs de longuíssima data.

Questionada por OFuxico sobre sucesso de “Vai na Fé”, Rosane Svartman garantiu: “Acho que não tem exatamente um segredo. O importante é ter escuta, ser permeável as novas ideias, ao que está latente na sociedade e assim tentar adivinhar sobre o que a pessoas querem conversar – atenção, uma novela é sempre um diálogo, uma boa conversa e nunca um monólogo, algo depositário”.

Vida longa a Rosane Svartman, rainha das “novelas das sete” da TV Globo! E quem sabe não a vemos em breve em sua primeira “novela das nove”…

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