Vai na Fé: Entenda a relação abusiva e complexa de Theo e Rafa

Por - 15/07/23 às 08:00 - Última Atualização: 14 julho 2023

relação abusiva de theo e rafaelReprodução/TV Globo

Theo (Emílio Dantas) é o mestre em relações abusivas em “Vai na Fé“, destruindo a vida de diversas mulheres ao longo do ano, por abusar psicologicamente e fisicamente delas. Porém, o vilão possui um leque gigantesco de artimanhas e consegue trazer seu lado maquiavélico até para seu filho, Rafael (Caio Manhente), que também sofre com as atitudes e manipulações do pai.

Com uma relação muito complicada, acompanhamos Rafael tendo que suportar o pai em casa, até a separação de Clara (Regiane Alves) e Theo, e depois a novela se aprofundou ainda mais na troca dos dois, após a separação de Rafa e Kate (Clara Moneke), depois do fotógrafo descobrir que a namorada já foi amante do seu pai.

Em cenas perturbadoras, vemos Theo entrando na mente de Rafael e fazendo o filho, que possui problemas psicológicos diagnosticados, afogar os problemas na bebida e ignorar a necessidade de tomar os remédios necessários.

A relação abusiva familiar é muito comum e por isso mesmo que OFuxico conversou com Nathalia de Paula, psicanalista clínica e educadora parental especializada em terapia emocional de famílias, para entender tudo sobre os fundamentos de uma relação como a de Rafa e Theo.

De início, ela definiu uma relação abusiva: “Em âmbitos gerias uma relação abusiva é caracterizada por um padrão de comportamento em que uma pessoa exerce controle, poder e domínio sobre outra, resultando em um ambiente prejudicial para a vítima. Essa forma de relacionamento pode ocorrer em vários contextos, como relações íntimas, família, amizades ou ambiente de trabalho”.

“Os abusos em uma relação abusiva podem assumir diferentes formas, incluindo abuso físico, emocional, sexual ou financeiro. O abusador busca controlar todos os aspectos da vida da vítima, como suas ações, decisões, relacionamentos e finanças. Eles usam táticas manipulativas para minar a autoestima e a confiança da vítima, através de humilhações, críticas constantes, insultos, ameaças, chantagem emocional e jogos mentais”, complementou.

Se aprofundando no relação pai-filho, ela detalhou a forma que um abuso pode ocorrer por parte do pai: “Vai desde a negligência, na qual as necessidades básicas da criança podem não ser atendidas, como alimentação, higiene, afeto, apoio, educação, saúde, entre outros aspectos que são de extrema importância para o seu desenvolvimento fisiológico, cognitivo e emocional. Além disso, pode haver abuso físico, como tapas, surras e palmadas, bem como violência emocional, na qual a criança é exposta a situações vexatórias ou bullying”.

ARTIMANHAS

Como visto na novela, Theo possui diversas formas de abusar e sabe disso, principalmente por ter noção de ter mais poder dentro da sua relação com Rafael.

“Na relação abusiva entre um pai e um filho, várias estratégias são utilizadas para causar sofrimento e controle sobre a criança. A manipulação emocional é uma delas, em que o pai recorre a táticas manipulativas para causar dor emocional, como ameaçar abandonar o filho, culpá-lo por problemas familiares ou fazer comentários depreciativos sobre sua aparência, habilidades ou inteligência. Além disso, o pai abusivo pode empregar o isolamento social como forma de exercer controle. Ele tenta afastar o filho de amigos, familiares e atividades sociais, restringindo seus contatos e limitando sua liberdade. Dessa maneira, ele busca ter um domínio maior sobre a criança. A humilhação e depreciação também são frequentes nesse tipo de relacionamento abusivo. O pai constantemente humilha e degrada o filho, utilizando palavras ofensivas, diminuindo sua autoestima e fazendo-o sentir-se inadequado e sem valor. (bullying)
Infelizmente, o abuso físico também ocorre nesse contexto. O pai recorre à violência física, como palmadas, tapas, surras e qualquer forma de agressão que cause dor e danos físicos à criança”, conta Nathalia.

“A negligência intencional é outra forma de abuso presente nessa relação. O pai negligencia deliberadamente as necessidades básicas do filho, privando-o de comida, cuidados médicos, higiene adequada e de um ambiente seguro e saudável. Em alguns casos, ocorre a exploração financeira, na qual o pai abusa dos recursos financeiros do filho, controlando ou desviando o dinheiro, causando privações e negando oportunidades adequadas”, afirma.

MOTIVOS?

Nathalia deixou claro que não existe um motivo para um pai cometer esses tipos de abuso com um familiar: “Embora cada situação seja única e complexa, é importante ressaltar que não há justificativa válida ou legítima para o pai cometer abuso contra seu filho. O comportamento abusivo é resultado de distorções emocionais, problemas psicológicos, vícios ou disfunções na dinâmica familiar. No entanto, isso não justifica o abuso em si. Alguns fatores que podem contribuir para o comportamento abusivo de um pai incluem histórico de abuso na infância, problemas de saúde mental não tratados, estresse, dificuldades financeiras, uso de substâncias prejudiciais, falta de habilidades parentais adequadas, isolamento social ou crenças distorcidas sobre poder e controle”.

“É importante ressaltar que, independentemente das razões ou circunstâncias, o abuso nunca é justificável ou aceitável. Existem alternativas e recursos disponíveis para ajudar os pais a lidar com desafios e situações difíceis de forma saudável, sem recorrer ao abuso. A sociedade deve se concentrar em promover a conscientização, a educação e o apoio às famílias, incentivando o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis e seguros entre pais e filhos. Quando ocorrem casos de abuso, é fundamental buscar intervenção e proteção para garantir o bem-estar da criança e promover a responsabilização do pai abusivo”, completa.

COMO ESCAPAR?

Diferente de um namoro abusivo, não podemos terminar com nosso pai, então Nathalia refletiu sobre as maneiras que uma vítima pode utilizar para acabar com esse tipo de relação, focando principalmente nos direitos legais de cada um.

“Sair de um relacionamento abusivo com um pai é um desafio complexo, pois o vínculo familiar é duradouro e afetivo. No entanto, é crucial buscar maneiras de proteger o seu bem-estar e segurança emocional. No caso de crianças mais velhas, adolescentes que já tem um maior entendimento, independência, familiarize-se com seus direitos legais e as leis de proteção à criança é uma grande ferramenta. Isso pode envolver a denúncia do abuso às autoridades competentes ou a busca de orientação de organizações de proteção à infância. Construir uma rede de apoio com pessoas confiáveis que possam oferecer suporte emocional, orientação e ajuda prática. Priorizar o seu bem-estar físico e emocional, buscando terapia ou aconselhamento para lidar com os impactos do abuso. Praticar o autocuidado e envolver-se em atividades que tragam alegria e bem-estar. Educar-se sobre relacionamentos saudáveis, parentalidade positiva e técnicas de enfrentamento para desenvolver habilidades de assertividade, autodefesa emocional e construção de limites saudáveis. Se sentir que sua segurança está ameaçada, tomar precauções e buscar ajuda imediatamente. Entrar em contato com a polícia, serviços de emergência ou linhas diretas de apoio a vítimas de violência doméstica em seu país. Lembrando sempre que cada situação é única, e encontrar a melhor estratégia para sair de um relacionamento abusivo com um pai pode exigir tempo, planejamento e suporte. Buscar ajuda profissional e recursos adequados para garantir sua segurança e bem-estar”, explica.

E CRIANÇAS?

“Já no caso de crianças pequenas elas ficam totalmente dependentes desse cuidador abusivo, então fica aqui ressaltada mais uma vez a importância do olhar atento dos demais cuidadores dessa criança, seja o parceiro, a escola, a creche, um vizinho, essa criança é vulnerável e precisa ter seus direitos respeitados”, detalha.

“É de extrema importância que a família busque ajuda e suporte quando há comportamentos abusivos dentro do ambiente familiar. Através da busca por profissionais competentes na área de educação parental, a família pode trabalhar para corrigir essas atitudes abusivas e criar um ambiente saudável e amoroso para todos os membros. Lembrando que toda a criança tem direto a uma infância saudável, caso esteja passando ou
saiba de alguém nessa situação utilize o disque 100 e denuncie”, finaliza.

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