‘Meu Pai’ é um retrato dolorido do momento que a sanidade vai embora
Por Redação - 25/04/21 às 17:08
Um relógio, um frango assado para o jantar e um quadro na parede da sala.
Quem vive ou já viveu um episódio de demência em sua família ou com amigos próximos, certamente sentirá um forte aperto no peito, ao assistir o filme de Florian Zeller.
O drama não é apenas a melhor performance de Anthony Hopkins não fica de braços cruzados na pandemia
Confira os indicados do Globo de Ouro 2021
, desde o pouco visto “Vestígios do Dia”, de 1993. O ator vai muito além e presenteia o espectador, com uma das melhores construções dramáticas jamais mostradas em filme. Seu papel tem tantas nuances e tamanha complexidade, que fica difícil imaginar como alguém pode ir além, em uma intepretação.
Baseado na peça "Meu Pai", do autor Zeller , o longa acompanha a rotina de Anthony (Hopkins), um viúvo que mora sozinho, em um bom apartamento, em Londres. Sua filha Anne (Olivia Colman) vive o drama de conseguir convencer o pai, que ele precisa de uma cuidadora, mas ele insiste em não aceitar sua complicada realidade. Sofrendo de demência, com sua mente em franca degeneração, o personagem central desta trama poderia perfeitamente ser seu pai, irmão, marido ou grande amigo e isso cala profundo no peito de qualquer mortal.
Canções indicadas ao Oscar serão apresentadas no pré-show, não no programa principal
Novo cenário do Oscar está pronto para a cerimonia!
Elton John abre famosa festa pré-Oscar ao público
Nunca a doença fora retratada com tanta verdade e delicadeza. Durante 1h37 acompanhamos a história pelo olhar de Anthony e em muitos momentos sentimos na pele, a mesma confusão vivida por ele. Deparamos com pessoas que vem e vão, sem avisar se são ou não reais, rostos que se misturam e uma linha tênue, entre realidade e delírio que aos poucos vai se apagando.
O trabalho de direção e direção de arte é brilhante e embala a soberba interpretação de Hopkins, que cria um clima de melancolia e incômodo devastador.
"Meu Pai" confirma que, aos 83 anos, Anthony Hopkins encontra-se em total controle de seu ofício, injetando veracidade, emoção e complexidade a um personagem, que em mãos menos hábeis, poderia facilmente escorregar para a caricatura.
Oscar 2021: Confira a lista de indicados!
Anthony Hopkins revela seu passatempo durante a quarentena!
Anne vivida por Olivia Colman (vencedora do Oscar de Melhor Atriz por "A Favorita"), completa o cenário, nos fazendo sentir o carinho que sente pelo pai e ao mesmo tempo a angústia de ser obrigada a decidir o seu destino.
Anthony apresenta sinais de demência causados pelo Mal de Alzheimer e à medida que sua doença avança Anne se esforça para entender o comportamento imprevisível do pai, realidade que a obriga à tomar decisões difíceis, porém importantes, para a vida de ambos.
O espectador se sente confuso, sem saber o que é verdade e o que não é, como se estivesse dentro da mente do protagonista, num labirinto onde não é nada simples encontrar uma saída. O roteiro para o cinema tem a assinatura de Christopher Hampton ("Ligações Perigosas").
As interpretações de Anthony Hopkins e Olivia Colman, ambos merecidamente indicados ao Oscar, de Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante, salta aos olhos diante da tela. O astro britânico, que já ganhou a estatueta pelo Hannibal Lecter de "O Silêncio dos Inocentes" (1991), volta a mostrar seu talento raro e sempre tão singular, nesta que representa uma de suas melhores atuações, nos últimos anos. Sua maneira de falar, seus gestos e, principalmente, seu olhar, transmitem uma assombrosa verdade e as marcas implacáveis, de um caminho sem volta.
O que esperar do filme Nomadland
Estrelas já se preparam para a cerimônia presencial do Oscar
Muitos filhos passam por isso, com seus pais, quando estão diante de uma questão grave de saúde. Assim, o espectador cria empatia e se compadece com a personagem e os conflitos que tem para decidir o que fazer, por mais doloroso que seja.
Além das indicações nas categorias de Ator, Atriz Coadjuvante e Edição: "Meu Pai" também concorre como Melhor Filme, Roteiro Adaptado e Design de Produção. Todas merecidas.
Independente de qualquer prêmio, “Meu Pai” merece ser reconhecido por sua excelência, ao tratar de assuntos tão complicados, com pungência e sensibilidade. Ele fica na memória de quem assiste e provoca reflexões importantes e doloridas. Apenas os bons filmes são capazes de fazer algo semelhante.
Anthony Hopkins não fica de braços cruzados na pandemia
Confira os indicados do Globo de Ouro 2021
Pioneiro no Brasil em cobertura de entretenimento, famosos, televisão e estilo de vida, em 24 anos de história OFuxico segue princípios editoriais norteados por valores que definem a prática do bom jornalismo. Especializado em assuntos do entretenimento, celebridades, televisão, novelas e séries, música, cinema, teatro e artes cênicas em geral, cultura pop, moda, estilo de vida, entre outros.