Advogada faz carta aberta sobre processo contra Luísa Sonza por racismo
Por Raphael Araujo - 23/09/23 às 11:24
Luísa Sonza ganhou destaque nas notícias após o término de seu relacionamento com Chico Moedas. A cantora apareceu no programa “Mais Você”, da TV Globo, para revelar que não estão mais juntos devido a uma traição que ela sofreu. Nas redes sociais, muitas discussões surgiram sobre se isso não teria acontecido devido à resolução de um caso que saiu na mídia, de forma um tanto quanto controversa.
Esse caso teve início em 2018, envolvendo a advogada Isabel Macedo. Segundo a vítima, a voz por trás de “Penhasco2” a confundiu com uma funcionária do local e pediu de forma ríspida: “Me traga uma água aí”, acompanhado de um tapa no ombro. Isabel relatou que se sentiu constrangida devido ao tom de sua pele. Esses acontecimentos ocorreram durante o Festival Gastronômico do Zé Maria em Fernando de Noronha, de acordo com a versão da vítima.
A resolução do caso aconteceu na última quarta-feira, 20 de setembro, mesmo dia em que a traição de Chico foi exposta em rede nacional, e por isso ocorreu a teoria de ser uma cortina de fumaça, e pelo fato do processo ter sido arquivado, muitos apontaram que a Justiça não havia sido feita e que Isabel havia “perdido” nessa história. Mas o que a própria advogada tem a dizer?
Bem, ela respondeu a duas perguntas nos stories sobre o assunto, e garantiu que está tudo resolvido entre ela e a cantora. Uma fã questionou: “A Luísa ainda precisa fazer uma retratação pública?”. “Não, já está tudo resolvido. O processo foi arquivado!”, disse Isabel.
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Outra pessoa quis saber: “O que significa esse arquivamento?”. A advogada explicou: “Significa que o processo foi julgado e, não há mais nada a ser discutido. Entendeu?”. Vale lembrar que as duas chegaram a um acordo e uma indenização por danos morais foi paga por Luísa Sonza.
CARTA ABERTA
Todavia, o assunto continuou ganhando forma nas redes sociais, e Isabel Macedo publicou uma carta aberta sobre o assunto os stories de seu perfil oficial do Instagram, na qual relembrou todos os acontecimentos e deu seu parecer final do processo.
“A primeira vez que isso aconteceu foi e 2020, durante a pandemia. Enquanto eu assistia a uma aula de pós-graduação e gravava pelo celular, recebi uma ligação de um repórter, o que fez com que a gravação fosse interrompida. Não me recordo do nome dele. Ele, sem ao menos perguntar se eu estava disponível para falar naquele momento, me fez diversas perguntas invasivas sobre um processo no qual eu era a autora”, iniciou a profissional.
“Nesse momento, fiquei muito triste, não somente por ter tido minha aula e gravação interrompidas, mas pelo fato dele me trazer um assunto que não era – e não é- psicologicamente fácil para mim. As ligações não pararam. Como eu não as atendia, as tentativas de contato vieram pelas redes sociais, algo que sempre gostei. Tudo isso ocorreu em uma data bem próxima do meu aniversário. Passados os dias, tudo aprecia ter voltado à ‘normalidade’”, afirmou.
“No ano de 2022, aconteceu novamente. E sim, a data era bem próxima a do meu aniversário. Eu e os envolvidos tínhamos uma audiência, híbrida, ou seja, as partes poderiam participar do ato judicial na modalidade presencial, ou on-line. Por essa razão, havia um link disponível nos autos do processo, que, `época, não estava em segredo de Justiça”, contou.
“O link foi disponibilizado na internet, e muitas pessoas entraram acessar à audiência. O Número de pessoas foi tão grande que o sistema parou e a audiência foi remarcada. E o processo, a pedido da ré, passou a tratar em segredo de Justiça”, disse ela.
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Desdobramentos
Isabel continuou: “No dia marcado, participamos do ato, todas as partes envolvidas, de forma presencial. Um acordo fora celebrado entre as partes, naquela audiência na qual todos os pedidos feitos por mim foram procedentes. Vivi um dos momentos mais difíceis da minha vida até hoje. Mas, tudo bem, pois eu sempre estive acompanhada, psicologicamente. Hoje, vejo que aquele momento se fez necessário, pois com ele amadureci muito”.
“Eu continuo seguindo a minha vida. Mas, novamente, em data bem próxima do meu aniversário, o que eu pensava já ter ficado para trás, visto que o processo já estava arquivado, veio à tona. E, mais uma vez, me trouxe as dores, as quais estou tratando ainda. Contudo, quero, e preciso, virar essa página”, firmou a advogada.
“Não sei, ainda, o que tudo isso significa: visto que tudo aconteceu no dia do meu aniversário, quando fui comemorá-lo em Fernando de Noronha. E todos os desdobramentos desse fato ocorreram em datas próximas ao meu aniversário”, lembrou.
“Para mim, a data em que comemoro aniversário é sempre de muita reflexão, especialmente diante de tudo o que vem acontecendo nesses últimos anos. Não é fácil. Choro, medito e oro para me fortalecer. Amanhã, dia 23/09, completarei 44 anos, e determino que essa página seja virada hoje”, garantiu.
“A quem me enviou mensagem de apoio, obrigada! E a quem me envia as centenas de mensagens de ódio, obrigada também. Não irei desativar as minhas redes sociais desta vez, pois eu, além de gostar de estar aqui, compartilho informações importantes para os trabalhadores e/ou seus familiares que sofreram acidentes de trabalho. Obrigada!”, concluiu Isabel.
RELEMBRE O CASO
Em uma primeira ocasião, Luísa negou veementemente as acusações, afirmando que “nunca ofenderia alguém com base na cor de sua pele”. Essa declaração foi feita quando o processo veio a público em 2020. Naquele ano, Isabel registrou uma ocorrência na Delegacia de Polícia da 36ª Circunscrição de Fernando de Noronha, alegando que estava comemorando seu aniversário na época.
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Dois anos depois, em 2022, Luísa publicou uma carta aberta na qual reconheceu que suas ações estavam impregnadas de racismo estrutural, aquele que está profundamente enraizado na sociedade e faz com que muitas pessoas brancas vejam as pessoas negras como serviçais, garçons ou em profissões similares. Em suas palavras: “Percebi que todos, até mesmo aqueles que se consideram aliados das questões sociais, precisam constantemente buscar mais conhecimento e empatia.”
No entanto, sua abordagem foi amplamente criticada na mesma postagem, pois não mencionou explicitamente que seus atos foram racistas e não pediu desculpas à vítima em sua carta, limitando-se a justificar sua conduta: “Estou enfrentando essa situação como uma oportunidade para me tornar uma pessoa melhor, como tenho tentado fazer sempre que algo acontece comigo, seja publicamente ou não”, completou a artista. Na época, ela também solicitou uma audiência especial para buscar uma resolução amigável do processo e concordou em pagar a quantia exigida pela autora.
Resolução vem à tona
Após alguns anos de disputa, o processo foi arquivado quando a advogada da autora, Jéssica Oliveira, aceitou um acordo com a cantora. O Uol teve acesso à carta escrita por Jéssica, que representou a autora no processo. O caso chegou ao fim em 16 de agosto, e a magistrada confirmou que uma compensação por danos morais foi paga, embora a vítima não tenha obtido assistência judiciária gratuita, ou seja, teve que arcar com os custos do processo.
Jéssica também destacou que o objetivo do processo era “demonstrar como as inclinações pessoais, mesmo que inconscientes, afetam o julgamento das pessoas em relação a determinados grupos minoritários”. Ela também lamentou a falta de apoio do Judiciário Brasileiro na representação de grupos considerados minorias, mas considerou o acordo satisfatório e um passo importante para o debate sobre questões raciais.
Raphael Araujo Barboza é formado em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. OFuxico foi o primeiro lugar em que começou a trabalhar. Diariamente faz um pouco de tudo, mas tem como assuntos favoritos Super-Heróis e demais assuntos da Cultura Pop (séries, filmes, músicas) e tudo que envolva a Comunidade LGBTQIA+.