Ivete Sangalo aplaude crítica a Claudia Leitte em meio a polêmica religiosa
Por Flavia Cirino - 18/12/24 às 07:56
O secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pedro Tourinho, fez duras críticas na terça-feira, 17 de dezembro, após Claudia Leitte alterar, mais uma vez, a letra de uma música. E recebeu apoio de Ivete Sangalo, aumentando ainda mais zumzunmzunm.
No último dia 15, a cantora de “Caranguejo” substituiu a menção à orixá Iemanjá por uma referência a Jesus Cristo. A atitude da cantora reacendeu debates sobre apropriação cultural e racismo no universo da música baiana, colocando o Axé em destaque nas discussões.
Tourinho, sem mencionar diretamente o nome da artista ou o trecho modificado, exibiu cards com um texto reflexivo, destacando a relevância histórica e cultural do Axé e das religiões de matriz africana. “Caranguejo” é um sucesso do axé music composto por Alan Moraes, Durval Luz, Luciano Pinto e Nino Balla.
“Axé é uma palavra de origem yorubá, que tem um significado e um valor insubstituível na cultura e nos cultos de matriz africana. Deste mesmo lugar vêm os toques de percussão que sustentam e dão identidade ao Axé Music”, escreveu o secretário.
Polêmica começou no ensaio de verão
O episódio aconteceu no último sábado, 14 de dezembro, durante o primeiro ensaio de verão de Claudia Leitte no Candyall Guetho Square, espaço histórico criado por Carlinhos Brown em Salvador. Na apresentação, a cantora substituiu o verso “Saudando a rainha Iemanjá” por “Eu canto meu Rei Yeshua”. Vale ressaltar que ela já havia feito isso em outros shows, desde 2014, quando anunciou sua conversão religiosa.
Relembre outra vez que Claudia Leitte trocou a letra de ‘Caranguejo’
A modificação não passou despercebida. Vídeos do show viralizaram nas redes sociais, gerando uma onda de críticas. Muitos internautas e figuras públicas apontaram que a atitude desrespeita as raízes culturais e religiosas do Axé, reforçando a discussão sobre o papel da branquitude em movimentos musicais historicamente negros.
Protagonismo na música
Pedro Tourinho foi além, abordando o protagonismo de artistas brancos no Axé Music, enquanto muitos músicos negros permanecem invisibilizados.
“Sempre há tempo para refletir, entender, mudar e reparar. O papel da cultura negra no Axé Music, o protagonismo dos cantores brancos e a desvalorização de compositores e percussionistas negros são fatos inegáveis. Não se trata de caça às bruxas, mas de justiça e reconhecimento”, declarou.
Para Tourinho, apagar os nomes dos orixás das músicas é um gesto que não pode ser ignorado. Ele classificou a atitude como racista, enfatizando o impacto disso na preservação da cultura afro-brasileira. “Quando um artista, que se beneficia da cultura negra, opta por reescrever a história e retirar o nome de orixás das músicas, o nome disso é racismo”, afirmou categoricamente.
Apoio de Ivete Sangalo
Nos comentários da publicação de Pedro Tourinho, Ivete Sangalo, uma das maiores vozes da música brasileira, demonstrou apoio ao posicionamento do secretário. Com um emoji de palmas, a artista baiana reforçou a importância da reflexão sobre o tema.
Enquanto isso, Claudia Leitte ainda não se manifestou oficialmente sobre as críticas. A polêmica, no entanto, destaca a necessidade de um diálogo aberto sobre racismo, religião e representatividade na música brasileira, especialmente no contexto de gêneros como o Axé, que tem suas raízes profundamente ligadas à cultura afro.
Debate não pode ser ignorado
A discussão vai além de uma simples alteração em uma letra de música. Ela traz à tona questões históricas sobre como culturas negras são frequentemente apropriadas e desvalorizadas em benefício de artistas brancos.
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Nesse cenário, as palavras de Pedro Tourinho ecoam como um chamado à responsabilidade e ao respeito pelas origens do Axé Music.
Com o verão baiano se aproximando, esse debate promete continuar em alta, mobilizando artistas, fãs e estudiosos da cultura brasileira a repensar seus papéis na preservação e valorização de tradições fundamentais para a identidade nacional.
É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino