Loja com manequim preto quebrando vitrine causa revolta em Salvador
Por Flavia Cirino - 16/02/22 às 10:27
A imagem de um manequim preto quebrando a vidraça da loja Reserva, do Shopping Barra, em Salvador, Bahia, causou indignação e gerou denúncia de racismo, na terça-feira, 15 de fevereiro. A marca estaria fazendo uma referência racista na decoração da unidade, uma vez que o manequim preto foi colocado de forma a parecer que estaria quebrando um vidro de acesso ao estabelecimento, supostamente representando um assaltante.
“Isso é sério? É sério que a loja Reserva do Shopping Barra contratou uma pessoa para fazer essa ‘vitrine conceito assalto à loja por um manequim preto com camisa listrada quebrando o vidro da loja’? E aceitou a ‘ideia’ sem questionar?”, disparou a internauta que fez a denúncia, no Instagram.
A denunciante afirmou ainda na postagem que a suspeita de que o manequim teria sido colocado propositalmente nesta situação para parecer um assaltante foi confirmada por um funcionário da loja: “Um manequim chocante assaltando a loja como próprio funcionário falou. O que intriga é o manequim com ação violenta ser preto. Por que não branco, ou de outra cor? Sinto como racismo”, emendou.
A administradora Rafaela Santos, cliente do Shopping Barra, contou ao encaminhou queixa à administração logo após presenciar a cena. Ela se sentiu incomodada por lembrar de uma série de casos em que pessoas negras foram mortas ou sofreram algum tipo de violência ao serem confundidas com bandidos.
Ao Correio 24h, a loja informou que a vitrine, chamada de Loucuras pela Reserva, “jamais teve como objetivo ofender qualquer pessoa ou disseminar ideias racistas e sim de somente divulgar a liquidação da marca”. A loja afirmou que o boneco de cor preta é o mesmo usado do lado de dentro da vitrine e disse que a decoração será desmontada. A Reserva ainda afirmou que repudia o racismo.
O Shopping Barra informou que não vai se manifestar sobre o caso.
Confira o comunicado da Reserva
“A vitrine ‘Loucuras pela Reserva’ com o boneco entrando pela parte de fora da vitrine (o mesmo sempre usado normalmente do lado de dentro da vitrine) jamais teve como objetivo ofender qualquer pessoa ou disseminar ideias racistas e sim de somente divulgar a liquidação da marca.
No entanto, se mesmo sem intenção, a vitrine ofendeu a alguém comunicamos aqui que ela será imediatamente desmontada.
Acreditamos na empatia como única forma de viver em sociedade e repudiamos o racismo em todas as suas formas de expressão.
A diversidade e inclusão são valores essenciais de nossa marca.“
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EX-BAILARINA DO FAUSTÃO É VÍTIMA DE RACISO EM SHOPPING
A ex-bailarina do Faustão Carol Tozaki, que atualmente atua como atriz e modelo fora do Brasil, passou por uma situação muito triste em São Paulo. Ela revelou que foi vítima de racismo em uma loja da marca Animale no shopping Iguatemi, na zona sul.
Em conversa com OFuxico, por sua vez, Carol revelou que não pretende entrar na Justiça contra a marca, mas não irá ficar calada diante da situação triste e dolorosa para ela.
“Não penso em processar, mas não vou ficar calada com uma situação tão triste e dolorosa como essa. Ainda mais agora, depois de tantos depoimentos de pessoas que passam pelo mesmo todos os dias”, afirmou.
Carol ainda revelou que muitas pessoas não entendem isso como algo sério, mas é a realidade de vários brasileiros.
“No Brasil isso é visto como mimi, infelizmente, mas na verdade, é a realidade de milhares de brasileiros negros que sofrem todos os dias. As pessoas precisam abrir a cabeça e ver que isso causa dor, angústia e até mesmo impotência. E só quem passa sabe o que é”.
Carol ainda revelou à reportagem de OFuxico que não entrou em contato com a marca ainda, mas espera conseguir resolver a situação.
“Ainda não entrei em contato com a marca e espero que consigamos resolver com eles e o shopping”, disse.
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VÍTIMA DE RACISMO
Depois de desembarcar em São Paulo, a modelo usou as redes sociais para contar que passou por uma situação preconceituosa ao visitar o Shopping Iguatemi em novembro do ano passado: “Oi, gente! Tudo bem? Agora mais cedo eu passei aqui, estava superfeliz, supercontente de estar aqui em São Paulo, mas parece que, realmente, alegria de pobre dura pouco. Venho aqui falar com vocês de uma coisa que aconteceu comigo hoje no shopping e que me deixou muito triste, do fundo do meu coração. Esse é um dos motivos pelo qual amo São Paulo, mas, ao mesmo tempo, não tenho vontade de ficar aqui, de morar aqui no Brasil, porque as pessoas aqui são muito racistas e preconceituosas”, começou.
“Não importa se você tem dinheiro, se tem condição. Vim aqui no Shopping Iguatemi e fiquei muito triste, me senti coagida, na verdade. Porque você pode estar vestida do jeito que você for, pode estar de relógio caro, de bolsa cara, você pode ter condições de vir aqui comprar e as pessoas sempre vão te tratar ‘menos’ (sic), não vão te atender direito pela cor da sua pele. E vai ter um monte de gente que vai falar que é mimimi. Mas não é. Eu vim aqui porque eu precisava comprar uma jaqueta de couro para mim e falei: ‘vou no Shopping Iguatemi porque com certeza lá vai ter’”, explicou.
Carol revelou que sentiu a antipatia das vendedoras em atendê-la e sentiu que elas achavam que ela não iria comprar nada.
“Entrei na Animale, que é uma marca que gosto muito, e senti o desprazer de ser atendida por pessoas que pareciam que não queriam me atender. Na cabeça delas, elas achavam que eu não iria comprar. Isso me dói muito. Porque sei, desde quando entrei dentro do shopping, teve até um momento que eu pensei assim: ‘será que eles estão me achando bonita?’ Me senti muito mal, fiquei muito triste, eles acabaram com o meu dia porque é muito ruim você ir em um lugar e querer comprar, fazer as coisas e as pessoas não te atenderem bem, ficarem te olhando dos pés à cabeça”
“Andando no shopping os seguranças ficam olhando para você e isso é muito ruim. Esse é um dos motivos pelos quais o Brasil não vai para frente, porque é um país muito preconceituoso. Essa classe alta do Brasil e até quem é classe média que acha que é alta também é muito triste. Já quero voltar para Londres, não quero mais ficar aqui”, continuou.
A atriz e modelo contou que ama o Brasil, mas que aqui as pessoas são muito preconceituosas e julgam umas às outras pela cor da pele: “Estou indo para casa, mas fiquei muito triste, abalada e indignada. Em um país com essa miscigenação e as pessoas têm essa cabeça. Eu só me arrumei assim para ir em um shopping, em um médico, em qualquer lugar, porque eu estou em São Paulo, porque eu estou no Brasil. Porque fora dele, eu vou normal, do meu jeito. Sou tratada diferente. Aqui as pessoas são preconceituosas. As pessoas vão te julgar pela sua pele e pelo jeito que você está vestido”.
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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino