Primeira-Dama: O que faz a mulher do presidente do País? Saiba tudo

Por - 05/01/23 às 08:00 - Última Atualização: 4 janeiro 2023

Janja com traje da posseJanja é a atual primeira-dama do país - Foto: Ricardo Stuckert

Se tem uma pessoa que “ameaça” a popularidade de Lula neste início de governo – e antes mesmo, no pré – essa pessoa se chama Rosângela. Quem é ela? Janja, a mulher do Presidente da República.

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Sempre cercada de muita curiosidade, a figura da primeira-dama guarda uma mítica. E isso porque poucas pessoas entendem o que compete à ela. Quais são os direitos, deveres que alguém pode ter por ser casada com o presidente? É um cargo oficial? Tem salário? Essas dúvidas, que todo mundo já teve ou ainda tem, paira ainda mais agora, diante de um zumzumzum em torno do “poder” de Janja nas decisões do marido.

Então vamos lá!

PRIMEIRA-DAMA, A MULHER SEM ROSTO

Na assinatura da primeira Constituição do Brasil, em 1891, quase 20 pessoas se reuniram ao redor do Marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do país, para presenciar o momento.

Havia apenas uma mulher: Mariana da Fonseca, esposa de Deodoro. Na cena, eternizada em quadro de Gustave Hastoy, todos aparecem voltados para o presidente com a caneta em punho prestes a assinar o documento. Somente Mariana estava de costas.

Pintura da assinatura da primeira constituição
Única mulher entre os homens, Mariana da Fonseca não teve o rosto mostrado no registro oficial – Foto: Reprodução

O título “primeira-dama” foi inspirado em tradições dos Estados Unidos (First Lady) e da França (Première Dame). As atuais são, respectivamente, Jill Biden – de Joe Biden – e Brigitte Macron – de Emanuel Macron.

Até a década de 1990, pouquíssimas mulheres fugiram ao status quo imposto ao “cargo”. O Brasil registra um histórico de primeiras-damas reclusas, dedicadas ao cuidado com a casa, com os maridos e fazendo as vezes de “mãe dos pobres”.

Raras vezes, fugiram à “regra”. Mais recentemente, tivemos o marcante rótulo de “bela, recatada e do lar” de Marcella Temer e o discurso de Michelle Bolsonaro em setembro do ano passado, destacando que “cabe à mulher ser ‘ajudadora’ do marido”, por exemplo. Mas Janja, que no processo de transição de governo coordenou os preparativos para a festa da posse, pode ser uma bela exceção a todas as regras até então. Ela já deu mostras de que vai causar!

O QUE FAZ A PRIMEIRA-DAMA?

A Constituição Federal não prevê nenhuma função formal e pública para alguém que não foi eleito. Desta forma, primeira-dama não é cargo! Por consequência, claro, ela não tem direito a receber qualquer tipo de salário. Contudo, “cuidar e amparar” instituições ou caridades, pode gerar algum tipo de subsídio.

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Apesar de jamais ter sido oficializado, aqui no Brasil a figura da mulher do presidente da República é vista apenas como anfitriã do Palácio da Alvorada, a residência oficial presidencial.

Atualmente, a esposa do presidente da República é vista como a anfitriã do Palácio do Alvorada, a residência oficial —embora esse papel nunca tenha sido definido oficialmente.

Ao longo dos anos, a figura da mulher do presidente da República tem sido mais engajada em alguma causa. Por anos a fio elas foram simplesmente deixadas de lado, tornando-se praticamente figuras decorativas ao lado dos maridos em eventos solenes.

A biografia de Scylla Médici, mulher do ex-presidente ditador Emílio Garrastazu Médici, evidencia isso. Em discurso transmitido no rádio no Dia Nacional da Família, ela se dirigii às mulheres brasileiras:

“Sou e serei sempre o que fui: a esposa do meu marido. Minha valia é tão pouca, minha missão é tão fácil e tão suave. A mim toca fazer-lhe a casa amiga e serena, fazê-lo sentir-se o homem simples e confiante que sempre foi, fazer o presente encontrar-se com as raízes de si mesma no amor de nosso lar”.

É, minha gente…

Scylla Médici e Garrastazu Médici
Scylla e Garrastazu Médici – Foto: Divulgação

D. DARCY VARGAS DEU O PONTAPÉ INICIAL

As primeiras-damas só começaram a ser vistas em funções fora de casa graças a Darcy Vargas. A esposa do falecido presidente Getúlio Vargas ocupava o posto quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial e o governo começou a ser pressionado a prestar assistência às famílias de soldados brasileiros que foram à batalha.

Coube a ela o papel de “mãe dos pobres”: em 1942, D. Darcy fundou a Legião Brasileira de Assistência (LBA), braço do governo Vargas que desenvolvia ações de combate à fome e ao analfabetismo durante a guerra, mas que seguiu funcionando após o conflito.

Getúlio e Darcy Vargas
Getúlio e Darcy Vargas – Foto: Divulgação

Especialistas apontam que o assistencialismo “foi a porta que as primeiras-damas encontraram para finalmente participar da política”. A partir de Darcy Vargas, ocupar a direção da Legião Brasileira de Assistência era praticamente uma função oficial das mulheres dos presidentes, contudo sem salário ou cargo oficial.

Por mais de cinco décadas, a assistência tinha um quê de caridade, mas não era uma política pública estruturada – o que só aconteceu em 1995, com a extinção da entidade a pedido de Ruth Cardoso, mulher do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Ela acreditava que a atenção aos mais pobres deveria ser garantida pelo Estado e prevista no orçamento federal, o que se tornou realidade com a Lei Orgânica da Assistência Social, sancionada por seu marido.

CONFIRA ALGUNS PERFIS DE PRIMEIRA-DAMA

A última primeira-dama do período difícil do país foi D. Dulce Figueiredo, esposa de João Batista Figueiredo. Depois dela, em novos tempos de democracia – graças a Deus – veio D. Risoleta Neves. Mas ela não chegou a ser oficialmente primeira-dama do Brasil. Seu marido, Tancredo Neves, morreu antes de tomar posse da presidência.

Considerada o alicerce de sua família, Risoleta foi uma mulher discreta, embora atuante na construção da política democrática. Esteve sempre ao lado do marido, acompanhando-o em sua trajetória política. Era avessa à entrevistas.

Risoleta Neves e Tancredo Neves
Risoleta Neves e Tancredo Neves – Foto: Divulgação

A morte de Tancredo deu lugar à posse de seu vice, José Sarney, que teve Marly Sarney como primeira-dama. Ela, enfim, inaugurou o rol das primeiras-damas pós-ditadura militar, a partir da redemocratização do país.

Em nosso país, houve 38 primeiras-damas e 34 esposas de presidentes. Essa diferença existe porque Getúlio Vargas e Ranieri Mazzilli serviram dois mandatos não consecutivos, contados cronologicamente duas vezes cada.

Marly e José Sarney
Marly e José Sarney – Foto: Divulgação

JANJA
O atual presidente é o segundo marido da socióloga Rosângela Silva. Aos 56 anos, 39 deles filiada ao PT, ela ficou conhecida quando fazia vigília ao lado da Superintendência da Polícia Federal, onde Lula esteve preso.

Sua trajetória tem detalhes incomuns para uma mulher nesse posto. A começar por sua trajetória acadêmica: ela é apenas a quarta entre 34 primeiras-damas a ter ensino superior completo e a segunda a percorrer uma trajetória acadêmica, depois apenas de Ruth Cardoso.

Feminista, ela rejeita o título de primeira-dama por entender que o termo “dama” remete a “recatada e do lar”, e não a uma “mulher de luta”, como ela se define. Ela prefere ser chamada de primeira-companheira.

Durante a campanha, Janja deu outros sinais de que não aceita papel de coadjuvante ao assumir, por iniciativa própria, tarefas relevantes. Ela participou das definições de estratégias com o núcleo duro petista, fez escolhas de agenda para Lula e tomou a frente de ações nas redes sociais. A socióloga até ganhou uma sala reservada no escritório político do Pacaembu, na Zona Oeste da capital paulista, e uma assessora para cuidar das suas atividades.

MICHELLE BOLSONARO

A mulher de Jair Bolsonaro foi a primeira primeira-dama a discursar na posse de um presidente, indo ao microfone antes do marido e falando por mais de três minutos – protagonismo que não se manteve durante o governo.

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A imagem de Michelle se transformou ao longo dos quatro anos de governo Bolsonaro. A ideia era envelhecê-la um pouco, dando um aspecto mais sóbrio e tornando menos perceptível a diferença de idade para o marido.

Ela esteve à frente de causas sociais mais relacionadas a pessoas com deficiência e inclusão social.

Michelle de preto, fazendo coração com as mãos e Jair Bolsonaro ao lado, de terno preto
Michelle Bolsonaro e Jair Messias Bolsonaro – Foto: Carolina Antunes/PR

MARCELA TEMER

Atualmente com 39 anos, Marcela Tedeschi Araújo Temer, esposa de Michel Temer, foi a 36.ª Primeira-dama do Brasil, de 31 de agosto de 2016 até 1 de janeiro de 2019.

Neste período, foi embaixadora do programa “Criança Feliz”, criado para assistência aos pequenos de 0 a 3 anos.

MARISA LETÍCIA

Segunda esposa de Lula, a falecida Marisa Letícia Lula da Silva foi a primeira-dama do Brasil de 2003 a 2011. Ela não se envolveu diretamente a nenhuma causa, mas atuou ativamente nas campanhas políticas ao lado do marido.

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Militava para que outras mulheres se juntassem ao movimento sindical, comandou uma manifestação de mulheres pela liberdade dos sindicalistas presos nos anos 1980, incluindo seu companheiro. Ela costurou à mão a primeira bandeira do PT. Como Lula, Marisa passou por uma reformulação de imagem entre as eleições de 1989 e de 2002, quando seu marido foi eleito presidente pela primeira vez. Mas, enquanto a ele coube apenas fazer a barba e usar ternos mais sofisticados, ela passou por dietas e até procedimentos estéticos, como liftings faciais e lipoaspirações. 

Lula e Marisa Letícia
Lula e Marisa Letícia – Foto: Divulgação

RUTH CARDOSO

Casada com Fernando Henrique Cardoso, 34º Presidente do Brasil, a falecida Ruth Vilaça Correia Leite Cardoso era antropóloga e professora da Universidade de São Paulo. Foi pioneira no reconhecimento de movimentos feministas, étnico-raciais e de orientação sexual no Brasil. Também defendia a participação das mulheres na política, era favorável à legalização do aborto e da maconha.

Com um doutorado e um pós-doutorado, D. Ruth (como era sempre chamada) tinha um currículo duas vezes maior que o do marido. Publicou vários livros e trabalhos sobre imigração (em especial a imigração japonesa no Brasil), movimentos sociais, juventude, meios de comunicação de massa, violência, cidadania e trabalho.

Participou do programa “Comunidade Solidária”, cujo objetivo principal era de combater a extrema pobreza. Foi ela também que impulsionou a unificação dos programas de transferência de renda e de combate à fome no país. Desde que foi criado, em 2003, o “Bolsa Família” cresceu muito, de pouco mais de 3 milhões de famílias para cerca de 14 milhões, número estável desde 2012.

Ruth Cardoso e Fernando Henrique Cardoso
Ruth Cardoso e Fernando Henrique Cardoso – Foto: Divulgação

ROSANE MALTA (Rosane Collor, quando era primeira-dama)

Última à frente da LBA antes de Ruth Cardoso decretar seu fim. Sua passagem, entretanto, foi marcada por investigações de corrupção, inclusive de desvio de dinheiro da própria Legião.

Além de ser a esposa do primeiro presidente “impichado” do país, Rosane também foi a única a se divorciar, com direito a escândalos públicos envolvendo disputa por imóveis e valores de pensão.

Atualmente com 58 anos, ela viveu recentemente um romance com um advogado de Brasília, que a ajudou a recorrer a pensões atrasadas.

Fernando Collor e Rosane Malta
Fernando Collor e Rosane Malta – Foto: Divulgação

PLANALTO FASHION WEEK

Se os looks de Janja já se destacam e inclusive a roupa da posse virou motivo de revolta do mundo do samba por conta de ataques feitos por Antonia Fontenelle, não é de hoje que as primeiras-damas se preocupam com isso.

Eloá Quadros, esposa do falecido Jânio Quadros, costurava ela mesma seus vestidos e era considerada muito simples para os padrões do Palácio do Planalto.

Haviam as que vestiam grifes e ditavam moda, como Sarah Kubitschek, mulher de Juscelino. As primeiras-damas sempre foram medidas pela imagem que apresentavam…

QUAL O MASCULINO DE PRIMEIRA-DAMA?

Divorciada, Dilma Rousseff não tinha um marido quando recebeu a faixa presidencial, em 2010. Foi a primeira vez que a mulher não estava na cerimônia de posse como primeira-dama, mas à frente da política, do poder.

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O marido de uma presidenta, governadora ou prefeita é simplesmente seu marido. Não recebe nenhuma denominação especial.

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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino