Mulher de Maurício Kubrusly revela ‘quase eutanásia’ do jornalista

Beatriz Goulart, mulher do jornalista Maurício Kubrusly, relatou em epoimento emocionante à revista Veja os desafios enfrentados desde que ele foi diagnosticado com demência frontotemporal. A doença, que não tem cura, afetou profundamente a rotina do casal, inclusive trazendo à tona a possibilidade de eutanásia. Inicialmente, médicos acreditavam que Kubrusly tinha Alzheimer.

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No entanto, com o agravamento dos sintomas, Beatriz buscou novas opiniões médicas, até que o diagnóstico correto surgiu. Ela explicou que o avanço da doença trouxe impactos significativos, como a perda da capacidade de ler e falar. “A morte é um assunto” constante na vida deles, afirmou Beatriz. Kubrusly chegou a considerar a eutanásia, inspirado pela decisão do escritor Antônio Cícero. Contudo, Beatriz o convenceu a abandonar essa ideia.

A trajetória de Kubrusly, reconhecido por seus 34 anos de carreira na TV Globo, é destaque no documentário Kubrusly: mistério sempre há de pintar por aí, disponível no Globoplay. Beatriz revelou que o jornalista, mesmo com as limitações da doença, assistiu à produção ao lado dela recentemente.

Durante quase duas décadas, o casal viveu em casas separadas. Porém, após o surgimento dos primeiros sinais da doença, Kubrusly pediu para morarem juntos no litoral sul da Bahia. Desde então, a região se tornou o lar do jornalista, que deixou a TV Globo em 2019, e de Beatriz, que o acompanha diariamente nessa fase desafiadora da vida.

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Confira o relato de Betriz Goulart na íntegra!

“Meu marido sempre foi um leitor voraz. Chegava a mandar vir de Portugal livros que ainda não haviam sido lançados no Brasil. Ele assinava três jornais e revistas. Devorava tudo assim que acordava. De repente, numa manhã, a gente estava tomando café e comecei a perceber sua mão mais trêmula. Ele viu em um dos jornais a foto de uma manifestação e me perguntou o que eram aquelas letras embaixo da imagem. Respondi, surpresa: ‘Como assim, meu amor? Isso é a legenda da fotografia’. E aí ele seguiu: ‘O que é uma legenda?'”, disse ela, primordialmente.

O episódio me arrepiou, como uma ficha que cai. Percebi que os lapsos de memória recentes tinham evoluído para outro estágio, algo mais sério. Maurício perdeu de vez a capacidade de leitura. E parou também de usar o celular, porque começou a mandar mensagens e fotos para pessoas erradas. Entendi que ele estava mudando, e rapidamente. Há menos de um mês, aos 79 anos, parou de falar. É do que mais sinto falta — dividir com ele suas descobertas do mundo”, explicou posteriormente.

Beatriz ficou ativa em ajudá-lo

“Passei a ajudá-lo em sua comunicação com as pessoas. Sozinho, não dava mais. Procurei terapias desesperadamente, para ele conseguir lidar com tudo isso. É difícil diagnosticar uma doença dessas. Primeiro nos disseram que era Alzheimer, mas não me convenci. Maurício manteve por muito tempo a consciência do que estava acontecendo”, revelou.

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Tanto que, no meio da pandemia, depois de quase duas décadas de um relacionamento em casas separadas, ele propôs: ‘É hora da gente morar junto. Estou esquecendo as coisas’. Estávamos investigando sua doença, até que, após ouvir vários médicos, finalmente bateram o martelo: era demência frontotemporal, DFT. Não dá para prever a velocidade com que ela avança. Com Alzheimer, a pessoa pode viver uns vinte anos. Já com essa demência, dizem que a média é de quatro anos. Maurício já está há sete nessa luta”, declaoru Beatriz em seguida.

Saída da Globo e mudanças bruscas na vida

A mulher de Maurício Kubrusly então continuou: “Em 2019, ele decidiu sair da Globo. Sempre lidou muito bem com o improviso ao vivo, só que toda hora dava um branco, e a equipe não sabia como reagir. Não conseguia mais ligar o computador. Um dia, ele me disse: ‘Não quero mais ir para lá, ninguém fala comigo. Estão sugerindo que eu repita o texto dos outros’. Sei quanto ele amava o quadro que tinha no Fantástico. Fez tanto sucesso que até hoje o param na rua e pedem para fazer foto junto dele”.

“Nos últimos meses, ainda se surpreendia com a recepção das pessoas. ‘Aquele Maurício devia ser importante, né?’, costumava falar. Era outra vida, e ele tinha essa noção. É tudo muito doído. Nos conhecemos em um site de relacionamento, e ele me trouxe o amor de volta. Era direto. No primeiro encontro, já queria que ficássemos juntos para toda a vida. Hoje, vivo com um Maurício diferente a cada dia, mas continuo o amando com a mesma intensidade”, falou ela, em síntese.

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Dias atuais

“Ele virou um menino desobediente e muito, muito criativo. Sua história, que inclui os tempos atuais, está no documentário Kubrusly — Mistério Sempre Há de Pintar por Aí, prestes a estrear no Globoplay. Assistimos lado a lado, na Mostra de Cinema de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, quando foi apresentado pela primeira vez. Ele ficou quieto, olhando o tempo todo para a tela”, declarou a mulher de Maurício Kubrusly.

“Antes, se eu lhe mostrava as reportagens que fez, reagia, com certo orgulho: ‘Parece que esse cara fez muita coisa boa’. Espero que tenha sido essa a sensação de agora. Numa situação como a que estamos passando, a morte é um assunto. Maurício chegou a mencionar seguir o mesmo caminho escolhido por Antonio Cicero (escritor que optou pela eutanásia). ‘Não tenho mais o que fazer aqui’, disparou certa vez. Eu o demovi da ideia. Não vou ficar viúva, não. Mas estou me preparando para o dia em que ele esquecer meu nome”, concluiu Beatriz Goulart, por fim.