Príncipe Harry assume ter Síndrome de Burnout: “Sempre me saboto”
Por Redação - 07/02/22 às 05:00 - Última Atualização: 6 fevereiro 2022
Ele tem só 37 anos, bem casado, tem filhos e uma vida de realeza. Mas tudo isso não impediu o príncipe Harry de contrair a Síndrme de Burnout. A revelação foi feita pelo marido de Meghan Markle, que foi duramente criticado após essa declaração, quando contou que prioriza sua saúde mental diariamente.
De acordo com o jornal britânico The Independente, Harry dividiu sua experiência durante uma entrevista online, que foi organizada por uma empresa americana de coaching pessoal, a BetterUp, na quinta-feira, 03 de fevereiro. Ele conversou com o CEO Robichaux, além da tenista de sucesso Serena Williams.
Ao descrever a Burnout, Harry afirmou ser “uma sensação de ter esgotado tudo que se tem, todo combustível, até o último vapor do motor”.
“Agora dedico cerca de meia hora a 45 minutos, pelas manhãs, quando sinto como: ‘ok, uma das crianças foi para a escola, a outra está tirando uma soneca, tenho uma pausa na programação’. Preciso meditar todos os dias”, afirma o príncipe, que é pai de Archie (8) e Lilibet, de 8 meses.
EMPREGADORES X BURNOUT
O príncipe Harry também comentou sobre o papel que os empregadores desempenham na capacidade dos funcionários poderem cuidar de si mesmos. “Do ponto de vista do empregador, você não pode esperar que as pessoas trabalhem suas mentes se não lhes der tempo para fazer isso. Quando as pessoas se concentram nas questões internas, elas se saem melhores no trabalho e em casa”, falou.
Harry afirmou ainda que como trabalhador e provedor dos filhos, sabe bem que o “autocuidado é a primeira coisa que se perde. A fala de Harry gerou comentários nas redes sociais, dividindo opiniões. Alguns questionaram se o príncipe teria autoridade para falar sobre trabalho que leva a burnout.
Para sanar a dúvida, o The Independent relembrou que Harry atua na Fundação Invictus Games, na BetterUp e administra a Archewell Foundation, que ele comanda junto com Meghan Markle, além de muitos projetos como um acordo com as plataformas Netflix e Spotify, por exemplo.
O QUE É SÍNDROME DE BURNOUT?
A síndrome de burnout ou síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio psíquico, descrito no ano de 1974 pelo médico americano Freudenberger, caracterizado pelo estado de tensão emocional e estresse provocados por condições de trabalho desgastantes. Professores e policiais estão entre as classes mais atingidas. O transtorno está registrado no grupo 24 do CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) como um dos fatores que influenciam a saúde ou o contato com serviços de saúde, entre os problemas relacionados ao emprego e desemprego.
Sua principal característica é o estado de tensão emocional e estresse crônicos provocado por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes. A síndrome se manifesta especialmente em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso. Profissionais das áreas de educação, saúde, assistência social, recursos humanos, agentes penitenciários, bombeiros, policiais e mulheres que enfrentam dupla jornada correm risco maior de desenvolver o transtorno. (Fonte: site do Dr Drauzio Varella).
SINTOMAS
O sintoma típico da síndrome de burnout é a sensação de esgotamento físico e emocional, que se reflete em atitudes negativas, como descritos na lista abaixo:
- Ausências no trabalho
- Agressividade
- Isolamento
- Mudanças bruscas no humor
- Irritabilidade
- Dificuldade de concentração;
- Lapsos de memória
- Ansiedade
- Depressão
- Pessimismo
- Baixa autoestima.
Além dessas, a dor de cabeça, a enxaqueca, o cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares,insônia, crises de asma e distúrbios gastrintestinais também são manifestações físicas que podem estar associadoa à burnout.
TRATAMENTO EMDR
A ansiedade é um mal que afeta pessoas do mundo inteiro. Desespero, medo, ataques à geladeira, tudo depende do organismo humano de como irá reagir ao gatilho que leva até uma crise de ansiedade.
Uma nova terapia virou a queridinha do Príncipe Harry, que sempre reforça a necessidade de ajuda psicológica em todos os casos: a terapia EMDR – Eye Movement Desensitization and Reprocessing (Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares). A técnica já foi usada com veteranos de guerra em 1987 e, atualmente, com profissionais que enfrentam a linha de frente da pandemia da covid-19.
Em um vídeo da série The Me You Can’t See, sobre saúde mental, coproduzido por Harry e Oprah Winfrey, divulgado há um tempo, Harry dividiu sua experiência com a EMDR e garante que a mesma ajuda a lidar com seus traumas e suas ansiedades no dia a dia.
A técnica dessensibiliza e reprocessa momentos e foi projetada para ajudar pacientes a lidarem com memórias traumáticas,trata transtornos e tem um impacto bastante positivo no paciente.
O filho caçula de Diana Spencer (1961 – 1997) e do príncipe Charles revelou, na ocasião, que usa a terapia EMDR para lidar com as suas sensações de preocupação, medo e aflição sentidas, principalmente, quando ele vai voar para o Reino Unido.
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“Para mim, Londres é um gatilho, infelizmente, por causa do que aconteceu com minha mãe e por causa do que experimentei, e do que vi”, contou.
Harry revelou ainda assuntos bem pessoais que o atormentavam. Segundo ele, evitar falar sobre a morte da mãe e usar bebidas e drogas foi a técnica que escolheu para “controlar a ansiedade”.
“Sinceramente, eu não queria pensar nela, porque se eu pensar nela, isso vai trazer à tona o fato de que eu não posso trazê-la de volta e isso só vai me deixar triste e eu simplesmente tinha decidido não falar sobre isso.”
A TERAPIA EMDR
OFuxico conversou com a Psicóloga clínica e Terapeuta certificada em EMDR, Dilséa Grebogi (@psicologadilseagrebogi) , para entender um pouco mais sobre o que é, como funciona e quais os benefícios da terapia EMDR. Confira.
OFuxico: O que é a Terapia EMDR?
Dilséa Grebogi: “EMDR é uma abordagem de psicoterapia desenvolvida nos Estados Unidos no final dos anos 80 pela psicóloga Drª Francine Shapiro. EMDR significa “Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares”(“Eye Movement Desensitization and Reprocessing”). É eficaz no tratamento de traumas, fobias, ansiedade, depressão, TEPT e outras desordens, além de ser uma abordagem aprovada e reconhecida pela Organização Mundial da Saúde para tratar o Transtorno de Estresse Pós-Traumático e aprovada pelo NREPP – National Registry of Evidence-based Programs and Practices, que faz parte do Substance Abuse & Mental Health and Human Services, que é a mais alta qualificação possível para o reconhecimento da validação científica de uma abordagem psicoterapêutica.”
OFuxico: Como se trabalha esta terapia?
Dilséa Grebogi: “O EMDR permite o reprocessamento de lembranças difíceis e dolorosas através da dessensibilização e da integração do conteúdo neuronal disfuncional nos hemisférios cerebrais. Esse reprocessamento se dá através da estimulação bilateral do cérebro. O EMDR é, portanto, uma terapia de reprocessamento, na qual utilizamos estimulação bilateral de 3 formas diferentes: visual, auditiva e tátil. Entendendo que traumas e lembranças dolorosas são armazenados de forma inadequada no cérebro, o EMDR é capaz de reprocessar essas memórias traumáticas através da integração da informação que se encontra separada nos hemisférios direito e esquerdo.”
OFuxico: Ele traz de volta os acontecimentos?
Dilséa Grebogi: “De forma acelerada e adaptativa, o EMDR “imita” o que acontece durante o sono REM (Rapid Eye Movement – movimento rápido ocular), quando o cérebro processa informação diária, arquivando-a no passado.”
OFuxico: Existem fases de tratamento com EMDR?
Dilséa Grebogi: “A sessão de EMDR é baseada em um protocolo padrão de 8 fases (História clínica e elaboração do plano de tratamento; preparação; avaliação; dessensibilização; instalação da crença positiva; checagem corporal; fechamento e reavaliação) e 3 etapas (passado, presente e futuro). Vale ressaltar que este protocolo é adotado em nível internacional e todo terapeuta em EMDR deve passar por um treinamento adequado e adquirir capacitação para usá-lo em sua prática clínica.”
OFuxico: Quando procurar uma terapia EMDR?
Dilséa Grebogi: “Inicialmente, o EMDR foi utilizado para tratar traumas emocionais e sequelas provocadas por Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). A partir de então, as possibilidades de uso desta terapêutica se ampliaram e hoje ela se enquadra para o tratamento de inúmeros transtornos e desordens psicossomáticas, como TAG (transtorno de ansiedade generalizada), fobias, processos de luto, síndrome do pânico, depressões, compulsões, TOC (transtorno obsessivo compulsivo), dores crônicas, além de apoiar na busca por autoconhecimento. No entanto, a maior parte das pessoas buscam a terapia EMDR para o tratamento de trauma psicológico. Quando alguma experiência passada insiste em permanecer no presente, pode significar a existência de um trauma emocional. A passagem por experiências trágicas e perturbadoras, como a perda de pessoas queridas, ameaças, violência urbana, doméstica e risco de morte, são potencialmente traumatogênicas e poderão vir a desenvolver um trauma. Sempre que a pessoa lembra da experiência difícil ela revive e sofre novamente, como se estivesse passando de novo por aquela situação. Um dos sinais de um cérebro em situação de trauma é a hiper-vigilância, que é a constante prontidão contra alguma ameaça real ou imaginária. Essa condição é extremamente dolorosa para a pessoa que a vive, pois influencia diretamente no seu dia a dia, na sua vida pessoal, familiar, social e nas relações de trabalho.”
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OFuxico: A terapia EMDR tem quantidades necessárias semanais ou depende de cada caso?
Dilséa Grebogi: “As sessões de EMDR são realizadas focadas em um Plano de Tratamento onde serão utilizados protocolos específicos para cada caso, a fim de buscar a reestruturação emocional do paciente. Geralmente o tratamento se dá com uma sessão semanal de 50 a 60 minutos (em algumas situações podendo se estender até 90 minutos). Alguns casos mais complexos poderão demandar mais cuidados e necessitar de mais de uma sessão por semana. Existem também protocolos para algumas situações bem específicas que poderão ser atendidos de forma intensiva, em sessões de 12 horas (divididas em 2 dias consecutivos). Neste caso o paciente deverá passar por uma triagem para averiguar se a demanda dele é ‘elegível’ para tratamento intensivo.”
OFuxico: Tem ideia de quantas pessoas já aderiram esse tipo de terapia?
Dilséa Grebogi: “Desde a sua descoberta em 1987 e sua utilização com veteranos da guerra do Vietnã, diversos outros contextos de catástrofes e tragédias tiveram intervenção desta terapêutica. Além do atendimento em consultório, cenários de guerra e catástrofes contam com a participação voluntária de terapeutas Emdristas no atendimento humanitário. No âmbito internacional o EMDR foi usado em várias situações trágicas, como a Guerra do Iraque, atendendo vítimas e veteranos. No Brasil temos o registro da atuação destes profissionais no atendimento às famílias das vítimas e aos sobreviventes do incêndio da Boate Kiss em Santa Maria/RS, do massacre da Escola Estadual Raul Brasil em Suzano/SP e do rompimento das barragens de Brumadinho/MG e Mariana/MG. No contexto da pandemia, tivemos várias iniciativas de grupos de terapeutas em EMDR que ofereceram apoio psicológico voluntário para pessoas que estavam com dificuldade de enfrentar o isolamento social e com medo da contaminação pelo coronavírus. Outra grande iniciativa foi o atendimento a profissionais da saúde que estão na linha de frente da COVID-19 e passaram ou estão passando por situações muito desgastantes no ambiente de trabalho, expondo estes profissionais à condição de trauma vicariante, que é o trauma por compaixão, onde acompanhar o sofrimento do outro pode desenvolver uma marca traumática muito dolorosa. A terapia EMDR possui protocolos específicos para atuação em estabilização de estresse agudo e episódios traumáticos diversos. Então, presume-se que milhares, talvez milhões de pessoas já tenham passado pelo atendimento em EMDR.”
OFuxico: Além do Príncipe William, qual outro famoso sabe que aderiu a essa terapia?
Dilséa Grebogi: No programa da Oprah Winfrey, vimos o Príncipe Harry falando sobre como o EMDR tem ajudado ele a lidar com as memórias traumáticas da perda mãe, a Princesa Diana. Na época ele tinha 12 anos, ou seja, estamos nos referindo a um trauma de infância e, este em especial, relacionado a um processo de luto que comoveu o mundo inteiro. Nesta entrevista ele mostrou uma das ferramentas utilizadas em EMDR, chamada “Abraço da Borboleta”, onde se utiliza a estimulação bilateral tátil. Além de Harry, a filha de Michael Jackson, Paris Jackson, declarou em uma entrevista que buscou o EMDR para tratar sua depressão e contou que já havia tentado suicídio várias vezes. Ela disse também que a terapia EMDR a ajudou a lidar com o assédio dos paparazzi após a morte de seu pai.
OFuxico: Então, o EMDR também auxilia mais famosos, que pensamos estar com a vida tranquila e sem problemas. Eles seriam alvos para que saibamos a importância e necessidade de cuidarmos da saúde mental?
Dilséa Grebogi: “Uma indagação importante a se fazer é sobre quantas pessoas que vemos na mídia, na televisão e nos castelos estão em sofrimento psicológico. Muitas celebridades carregam o estigma de serem perfeitas e terem uma vida de contos de fadas, no entanto, o que acontece nos bastidores e no mais profundo da alma dessas pessoas, só elas sabem. É preciso olhar além do que é visto, para aquilo que não é mostrado, apenas sentido. Dessa forma, o fato de tanto o Príncipe Harry quanto Paris Jackson terem compartilhado conosco suas maiores dores e seus maiores traumas, nos permite dimensionar a importância de cuidarmos da nossa saúde mental e emocional. E o fato de ambos terem escolhido o EMDR como abordagem terapêutica, chancela ainda mais a sua eficácia no tratamento do transtorno de estresse pós-traumático e outras desordens psicológicas.”
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OFuxico: A terapia EMDR ainda não é tão divulgada no Brasil?
Dilséa Grebogi: “Considerando que o EMDR no Brasil ainda é, relativamente, pouco conhecido, poder acompanhar o quanto esse tratamento tem sido relevante na vida de pessoas famosas, isso nos ajuda a ampliar ainda mais a possibilidade de tornar o EMDR conhecido em nosso país, permitindo que mais vidas sejam atendidas, acolhidas e curadas das suas feridas emocionais.”
OFuxico: Existe uma perspectiva de tempo de melhora do paciente? Por exemplo, com um ou dois atendimentos consegue-se um “esclarecimento” do momento vivido pelo paciente?
Dilséa Grebogi: “Dependendo do alvo a ser trabalhado, poucas sessões já trarão uma mudança de paradigma na vida do paciente. Quem administra todo esse processo é o cérebro da pessoa que está sendo atendida. Se a rede de memórias envolvida no que está sendo processado naquele momento for pequena, o processamento adaptativo daquele conteúdo será mais rápido. Se a rede de memórias for muito grande, vai demorar mais.”
Dilséa, ainda ressalta: “É importante ressaltar que a terapia EMDR não se restringe à estimulação bilateral. Trata-se de um processo terapêutico amplo e completo, com começo, meio e fim, que respeita e acolhe as características individuais do paciente e leva em consideração a sua história clínica, sua história de vida, seus recursos internos, sua rede de apoio, seu ambiente familiar, social e de trabalho.”
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