Ana Lúcia Torre faz alerta sobre saúde mental: “O ser humano não sabe lidar”

Em cartaz com a peça “Longa Jornada Noite Adentro”, de Eugene O’Neil, com versão e direção brasileira de Sergio Módena, Ana Lúcia Torre conversou com OFuxico a respeito da peça. Um marco no teatro norte-americano, o texto já teve outras versões brasileiras, com outros grandes nomes da atuação, como Nathália Timberg e Cacilda Becker.

Durante a conversa, Ana Lúcia falou da necessidade de falarmos sobre saúde mental e tratar o vício em drogas (como álcool e medicamentos) com a relevância que a adicção merece. Ademais, também destacou a jornada dupla de trabalho. A atriz está no elenco de “Travessia”, próxima novela das nove na Globo. Sendo assim, mais uma vez, vai conciliar palcos com estúdios.

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Na montagem, Ana Lúcia Torre dá vida à personagem principal, Mary, uma mãe viciada em morfina, que faz de tudo para esconder a doença dos filhos e do marido, tentando contornar situações delicadas às quais é exposta. Para a atriz, a função do texto também é destacar a relevância de algo tão comum à sociedade. A narrativa se passa em 1912 e, mais deu m século depois, segue tão contemporânea.

“Quando eu estou em cena com os meus colegas fazendo a peça, o mais relevante para todos nós – porque a Mary é uma pessoa adicta em morfina, mas o marido e os filhos bebem, então também são adictos – é mostrar para o público, o quanto uma adicção tem que ser levada a sério”, explica.

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A artista completa seu pensamento de maneira racional. A intérprete de Mary Tyrone compara a doença psicológica a uma enfermidade física, para que todos tenham noção dos cuidados que a saúde mental precisa:

Não é um probleminha que alguém diz: ‘Viciado porque não faz um esforço para largar o vício’. Não! É uma doença que precisa ser tratada, e é uma doença que precisa de muita atenção de todas as pessoas que são próximas”

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Ana Lúcia segue sua analogia tratando do tema como um câncer, que usualmente mobiliza diferentes familiares para prestar apoio ao enfermo:

“É isso que a gente tenta mostrar para o público: o quanto nós temos que ter respeito e carinho por essa pessoa que está doente. Quando uma pessoa da família está com câncer, todo mundo se mobiliza e quando uma pessoa da família é adicta isso deveria ter o mesmo tratamento”.

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O tema se encerra com um recado bastante denso para todos: é preciso dar atenção à saúde mental, assim como fazemos com doenças físicas. Afinal, abalos psicológicos também podem causar consequências graves no cotidiano de todos:

No geral, o ser humano não sabe lidar com o psicológico do outro, porque não cuida nem do seu, quanto mais do outro”.

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ENCONTRO DA TV COM TEATRO

As gravações de “Travessia”, próxima novela das nove da Globo já começaram. Mais uma vez, Ana Lúcia Torre vai combinar a rotina do teatro com os estúdios de gravação no Projac.

Para a atriz, essa mudança não é algo tão complicado como se imagina. Para ela, é consequência de uma adaptação do que acontece com qualquer pessoa que tenha duas funções ou precise lidar com diversas situações ao longo do dia.

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De acordo com Ana Lúcia, os estúdios da TV ficam para trás quando chega ao teatro e se encontra com o trabalho que está prestes a desenvolver. Nesse caso, as gravações ficam para trás e a apresentação se torna prioridade:  

Quando eu entro no palco, e vejo o cenário montado, imediatamente eu me sinto dentro daquele cenário e o outro personagem que eu acabei de fazer na TV está longe. Ele não vem comigo. Eu já estou ali dentro de outra casa, e eu sei como me comportar naquela casa (…). Passa a ser normal para nós”.

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De novo, a frase de conclusão da resposta de Ana Lúcia faz com que todos pensemos a respeito das próprias rotinas diárias: é preciso adaptar-se. De acordo com ela, o fato do ser humano ser múltiplo se apresenta nessa mudança de função dos artistas.

“Nós somos seres humanos com múltiplas atividades diariamente, e o mesmo que acontece com o ator”, conclui.

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RITUAL NO TEATRO

Apesar da fácil adaptação entre uma função e outra, Ana Lúcia Torre tem um processo intenso antes da peça começar. Ela faz um aquecimento de voz e alongamento, confere o cenário, conversa com os colegas e até toma um cafezinho para entrar no clima. Antes do sinal indicando que o espetáculo vai começar, tem até uma roda de conversa ou orações.

“Antes de ir para o teatro, no caminho, eu faço um grande aquecimento de voz, gosto de me alongar muito antes de entrar em cena. Tenho que passar pelo palco, dar uma olhadinha em todos os móveis e eventualmente se tiver algum adereço. Eu tenho que ir para os camarins e conversar com todos os meus colegas, saber como estão”, explica.

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Quando começa a preparação de fato, é hora do café da atriz, quando tem tempo para um bate-papo rápido com quem estiver por perto. Se até Ana Lúcia Torre pode jogar conversa fora no trabalho, quem poderia nos julgar? O momento é importante para chegar ao momento da peça, de fato:

Eu pego um cafezinho, sento à minha bancada com a colega que está do meu lado. É sempre bom ter alguém do lado. Agora é a Mariana Rosa. Aí a gente começa a se maquiar batendo-papo, depois fazemos o cabelo, e nos vestimos. Essa sequência vai nos fazendo entrar naquele espírito que a gente tem que estar para começar aquele espetáculo”

Por fim, os atores e outros funcionários do teatro se reúnem para pedir por mais uma noite de sucesso na qual tudo ocorra bem ao longo do espetáculo. Para a atriz, é hora de pensamentos positivos, ocasionalmente uma oração.

“Um pouco antes do espetáculo começar, nós fazemos uma roda, para ficarmos juntos de mãos dadas um momento, para orarmos ou dizer o que quisermos. Bem juntos! Junto com camareira, com contrarregra, com quem estiver ali. Quando dá o segundo sinal, vamos todos para a porta ou para coxia, para começar logo em seguida.”, finaliza.

SERVIÇO

Longa Jornada Noite Adentro

Teatro TUCARENA (252 lugares)
Rua Monte Alegre 1024, Perdizes, São Paulo

Sexta e sábado: 20h30
Domingo: 18h30
Ingressos: R$ 80,00
Duração: 110 minutos
Classificação: 16 anos

VENDAS: Sympla ou nas bilheterias do TUCARENA.

Temporada até 28 de agosto

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