Por que ‘Xuxa: O Documentário’ despertou tantas reações fervorosas?

Por - 09/08/23 às 07:00

Xuxa gravando documentárioO documentário de Xuxa revela detalhes inéditos em cinco episódios - Foto: Divulgação

Para quem acompanha a cultura pop em geral já sabia que Xuxa Meneghel ganharia um documentário sobre a sua vida e carreira, destacando pontos importantes e polêmicos, em algum momento de 2023. No início, o projeto era da produção de um outro streaming, mas o ciclo global ficou completo e uniu os 60 anos da eterna Rainha dos Baixinhos com uma programação especial quando mudou de mãos e foi parar na Globoplay, já que ela passou muitos anos (29, diga-se de passagem) pela emissora.

Dirigido artisticamente por Pedro Bial, o documentário chegou dividindo opiniões ao longo de seus já liberados 4 episódios. O último, que chega na quinta-feira (10), encerram as comemorações e deixa a história dela mais esclarecida para alguns e com mais curiosidades para outros. A questão que lateja é: Se a história de Xuxa é cheia de brilho e tantos momentos incríveis na nave cor de rosa, além de ter muitos dramas em sua vida pessoal e discussões sobre o limite da privacidade…. O que trouxe à tona tantas reações raivosas contra Xuxa e até a favor de Xuxa?

Xuxa
Xuxa na divulgação de seu documentário (Blad Meneghel)

Para começar a responder essa pergunta, voltamos ao primeiro episódio. Lá, o documentário foca em mostrar todos os lados da Rainha dos Baixinhos em sua escalada profissional, desde o início do “Clube da Criança” até o tão amado “Xou da Xuxa”. Com depoimentos aqui e ali, a história foca em ser contado de um ponto de vista unilateral, de quem está ao lado dela e conheceu de perto o que acontecia dentro e fora dos bastidores.  Depois, a gente pode lembrar que alguns momentos foram veiculados como muito importantes: O encontro com Marlene Mattos, o encontro com o ator que protagonizou o filme “Amor, Estranho Amor”. E a jornada de trabalho exaustiva com as versões do ‘Xou’ em tantos outros países…

Acontece que já havia esta onda contra Xuxa em diversos momentos, a inclinação de não gostar disto ou daquilo por parte de um público. Mas, ao mesmo tempo, a forma que o documentário foi vendido indicava uma parte mais pontiaguda do que verdadeiramente é. No final, o que acontece é que se criou uma grande expectativa para certos temas e acabou que foram tratados de forma superficiais ou apenas algumas pinceladas. Também existem os momentos da terceirização de uma culpa.

Xuxa
Xuxa em seu documentário (Divulgação/Globo)

RELAÇÕES

Mesmo que de uma forma ou de outra, o documentário que conta a história de Xuxa não segue uma ordem cronológica e não aponta tão aprofundada mente algumas questões: Pelé é citado, mas, exceto quem é fã raiz vai saber como o relacionamento se tornou algo tóxico e como, inúmeras vezes, Xuxa contou que não era tão feliz ao lado do Rei do Futebol. Faltou aprofundar o tema. Como Sérgio Mallandro surge na vida dela e a amizade vira uma irmandade?

Xuxa e Pelé
Xuxa e Pelé (Reprodução/Folhapress)

Outro ponto que foi muito citado em reações de ódio aqui e ali: A relação de Adriane Galisteu com Ayrton Senna. O nome da apresentadora é citado, mas, o público apontou na internet, principalmente, que achou desrespeitosa a forma como toda a situação foi colocada. Mesmo colocando na balança que é um documentário pessoal e com uma curadoria da Xuxa, o ponto principal é que o contraponto não estava presente para argumentar algo e tentar colocar outra narrativa no ponto de vista público.

Xuxa e Ayrton
Xuxa e Ayrton (Reprodução/Globo)

Falando de Marlene Mattos vamos mais a fundo: É imprescindível entender que se tratou de uma relação abusiva de trabalho e não deve ser romantizada em ponto algum. E é isto que muitos internautas têm feito por aí e colocando suas opiniões mais pesadas e criticando o lado de Xuxa. É fácil entender o lado de um quando este alguém está se mostrando mais resistente e bate no peito para falar que fez e faria alguma coisa ali diferente ou não. Mas, não deve-se romantizar nada. Nos últimos dias, uma chuva de vídeos virais com falas de Marlene tem ganhado proporções um pouco maiores. Não é de hoje que vemos o lado que ‘apanha’ (de certa forma) ganhar uma asa para se esconder e virar uma figura no underground dos memes. Mas, é preciso cuidado. Nem tudo pode ser dito e nem tudo pode-se escancarar aqui e ali.

Xuxa e Marlene Mattos, sua ex-empresária, se reencontrando no quarto episódio de ‘Xuxa, O Documentário’
Foto: Blad Meneghel

REAÇÕES E COMPARAÇÕES

O fato é que o documentário não é lá muito bem estruturado, mas, talvez o documentário do Balão Mágico (A Superfantástica história do Balão Magico) do Star+ tenha saído no tempo certo para ser comparado com uma linhagem muito mais branda. Para se comparar, Simony precisou declarar e pedir desculpas para Ticiane Pinheiro devido a uma fala do documentário. Outro ponto é que a linha editorial do documentário do Balão é mais ‘agressiva’ e vai até a jugular do projeto em diversos momentos: A troca de integrantes, como crianças superdotadas tem uma infância interrompida, o dinheiro que faltou aqui e ali na troca do comando, as grosserias de um outro personagem e até mesmo a polêmica carreira solo de Simony. Para quem assistiu ambos, existem um momento de conexão na história dos dois. Enquanto um estava com os dias contados, o outro começava seu legado.

Xuxa e Balão Mágico
Xuxa e Balão Mágico: Dois documentários, duas linhas diferentes. (Divulgação/Star+/Globoplay)

O que nos leva a resposta sobre o que gerou todo esse calor fervoroso nas redes sociais: Quando um assunto entra em evidência, rapidamente todos tentam acompanhar e seguir a manada. Poucos vão parar e olhar com um pouco mais de atenção. É claro que nada desabona a história fantástica de Xuxa e toda a sua magia. E, de fato, era isso que ela queria passar com os temas que foram falados e com as histórias contadas, além de contar sob a sua visão o que de fato aconteceu com a sua história. Mas, também tem uma parcela de culpa nas questões que não foram abordadas de forma mais profunda, de forma que fizesse o público entender o que se passava ali nos bastidores, além da mentalidade dos anos 80 e 90, junto com a contraposição das argumentações. E fora que o tom é muito mais nostálgico, pelo menos nos dois primeiros episódios, optando para capturar os que viveram o início de tudo ou até o meio e quem sabe o final de uma trajetória na televisão para crianças e adolescentes.

É um projeto para homenagear os 60 anos de uma das maiores comunicadoras da história. E, acredito, que a grande massa esperava algo um pouco mais físico e mais invasivo aqui e ali, com uma cara de um documentário investigativo e perguntas ácidas sobre o passado e sobre as milhares de questões que o projeto deixa em aberto. Claro que o lado que não gosta de Xuxa vai odiar. E claro que o lado que não quer saber de detalhes que já são conhecidos vai achar morno. Mas o projeto pode ter sido esse desde o princípio. E a pressa para se consumir algo é tanta que nem sempre as opiniões de populares irão ser baseadas em uma pegada mais analítica.

Xuxa
Xuxa em meio a uma multidão de fãs (Reprodução/Globo)

O documentário entrega a história, com algumas lacunas, e deixa algumas coisas em lugares ocultos, e que um dia pode se ganhar uma segunda temporada, ou uma nova versão. Mas, por enquanto, resta aproveitar e relembrar os pontos chaves roteirizados e colocados no mundo em formato audiovisual.  No final, não é só um “documentário ruim” ou um “documentário puxa saco”, é apenas um pedaço da história da televisão brasileira que pode presenciar um pouquinho o que foi o tão falado fenômeno Xuxa. Mesmo com personagens que faltam aqui e ali, acredito que saiu do jeito que a Rainha gostaria de contar o que gostaria de contar.

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Em formação no Jornalismo pela UMESP. Escreve sobre cultura pop, filmes, games, música, eventos e reality shows. Me encontre por aí nas redes: @eumuriloorocha