Bruno Mazzeo sobre Dez por Dez: ‘A arte sempre se reinventa’

Por - 18/05/21 às 18:31

Irmãos Leme

Dez atores interpretam diretamente para a câmera, em tempo real, sem cortes ou edições. Texto e trabalho de ator são os principais elementos da construção de cada personagem, sem truques, sem efeitos especiais, falando diretamente com o público.

Assim é “Dez por Dez”, uma coleção de monólogos originais escritos pelo roteirista, cineasta e dramaturgo Neil LaBute em uma versão brasileira dirigida pelos Irmãos Leme (Guilherme e Gustavo) e realizada pela Dueto Produções, que estreia com acesso gratuito nesta quinta-feira, 20 de maio de 2021, no site do Teatro Unimed (www.teatrounimed.com.br).

A dez histórias de dez minutos cada reúnem um time de dez atores formado por Angela Vieira e Leopoldo Pacheco (60 anos), Denise Fraga e Eucir de Souza (50 anos), Pathy Dejesus e Bruno Mazzeo (40 anos), Chandelly Braz e Ícaro Silva (30 anos) e Luisa Arraes e Johnny Massaro (20 anos).

Em coletiva de imprensa, na qual OFuxico esteve presente, os atores afirmaram que “Dez por Dez” é uma união bem-feita do teatro e do cinema, sendo muito interessante a exploração deste formato híbrido.

“É de fato uma mistura mesmo de cinema e teatro, mesmo o texto sendo cênico, há uma mistura de identidades. É uma câmera, mas um plano sequência, sem cortes, e até mais prático de fazer. Espero que esse formato perdure”, garantiu Luisa Arraes.

“Com a pandemia, estamos descobrindo outros caminhos. Teatro continuará sendo teatro e o cinema também, mas esse novo formato está surgindo é tão interessante quanto e deve ganhar seu espaço”, contou Leopoldo Pacheco, que ressaltou a pandemia do coronavírus como um momento de reinvenção

Bruno Mazzeo concordou: “A arte tem essa característica de reinvenção em momentos de recessão. Tem sido uma característica de quem tá vivendo nessa época descobrir uma nova forma de se comunicar e estar gostando disso”.

“Acho isso uma coisa muito importante de se destacar, a gente achar novas maneiras de se comunicar. O LaButte escreveu esse texto antes do coronavírus, mas ele super se encaixa, não é à toa, nós gravamos”.

Chandelly também foi positiva em relação âs respostas: “Concordo com meus colegas sobre nos reinventarmos. Nunca achei que o Teatro fosse cabível no formato online, mas na pandemia estamos inventando essa coisa nova, que mistura conceitos”.

“Neste momento as pessoas estão em casa, muita coisa acontece, e a gente tá aqui descobrindo de que maneira podemos nos comunicar, que apesar da mistura, é outra coisa”, explicou ela.

“Essa nossa peça são histórias contadas. Se fosse no audiovisual, haveria cortes, mas é algo similar ao teatro, precisa da atenção e engajamento do público, exige mais concentração de quem está assistindo”, reforçou Luísa.

Teatro como paixão e resistência

Ângela Vieira é a mulher de 60 anos de Dez por Dez

Em dado momento, os artistas foram bastante assíduos em tratar as artes cênicas como forma de resistência e de se comunicar com o público, a começar por Ângela Vieira.

“É meu primeiro trabalho durante a pandemia. Eu vi muita coisa, muitos colegas, e o que pude perceber em comum é o amor e o afeto, que vejo nos meus colegas o mesmo brilho e generosidade em todos os trabalhos que vi, e agora fiquei muito emocionada com todos defendendo suas personagens, o prazer em estar fazendo esse trabalho”, declarou a estrela.

“Fomos muito atacados nesse período, mas somos tão unidos e respeitosos pelo que fazemos que quem tentou acabar com o nosso prazer, não conseguiu, e nunca vão conseguir tirar. Quero agradecer a todos os envolvidos, e apesar de tudo, sempre vamos chegar no público com nosso amor, afeto, coragem e resistência”.

“Na nossa profissão, as coisas não existem por si só, e temos que fazer o esforço de puxar uma coisa que não existe para o mundo, algo muito subjetivo para a realidade. É como a Ângela disse, por meio do afeto encontramos essa força para realizarmos nosso trabalho e torcemos que isso reverbere no público e interfere no inconsciente das pessoas, é uma grande responsabilidade”, pontuou Johnny Massaro.

Eucir de Souza disse: “Eu era tímido e não conseguia falar, algo que se quebrou com o teatro. Muitas barreiras que dizem existir são apenas ilusões, é impossível alguém chegar e nos barrar de fazer nosso trabalho”.

Ícaro Silva desabafou: “Não via lives, não via nada desse ‘novo normal’, não queria naturalizar essa realidade. Mas isso foi um certo melindre da minha parte, pois tínhamos que seguir vivendo”.

“Para mim qualquer arte é tudo teatro, e ver que nossos trabalhos foram fluindo por meio desta plataforma me fez perceber que o teatro está no afeto, inclusive se abrir na escuta, seja nossa, seja do público. Só vão conseguir derrubar a gente quando deixarmos de ser humanos”.

“Antes da pandemia já sofríamos essa retaliação por parte do governo, mas o isolamento mostrou como a arte e a cultura são importantes na sociedade. A gente têm sido válvula de escape e respiro para muita gente. A arte de alguma forma está salvando as pessoas”, disparou Pathy Dejesus.

Celebração do novo formato

Chandelly é a mulher de 30 anos de Dez por Dez

Já caminhando para o final da coletiva de imprensa, mais elogios e detalhes em relação ao formato híbrido adquirido pelo projeto foram feitos

“Fiquei muito orgulhosa do resultado desta ‘peça filme’. São profissionais brasileiros, produtores brasileiros envolvidos no projeto e inventando esse novo formato com altíssima qualidade”, comemorou Clarice Philigret, diretora de produção do projeto.

“Meu texto fala de muita coisa que fui obrigado a fazer. Todo mundo do nada parou a rotina agitada, e a gente começa a olhar as coisas de fora e para dentro, dar valor maior às coisas mais simples que não percebíamos, e meu texto chega nessa conclusão ao final”, revelou Bruno Mazzeo.

“Esse formato híbrido tem a vantagem de não ser custosa de manter um filme em cartaz ou a temporada de uma peça, e espero que ele venha a se manter por muitos anos”, explicou Guilherme Leme.

“Para um texto maravilhoso, só atores maravilhosos, então chamamos artistas que a gente ama e admiramos o trabalho. Foi muito bacana, todo mundo chegou no projeto e, sem ter o texto em mãos, estava disposto a fazer”.

“A direção tem o grande crédito por entender quem são esses dez personagens que se encaixam e não sei encaixam, e como unir dez personagens tão diferentes em uma coesão”, concluiu Clarice.

Dez por Dez – Serviço

Espetáculo: Dez por Dez

Local: Teatro Unimed em Casa (online)

Endereço: www.teatrounimed.com.br

Estreia: quinta-feira, 20 de maio de 2021, às 21h

Horários: às quintas-feiras, sempre às 21h. A cada semana, duas histórias de dez minutos de duração cada. As últimas histórias serão apresentadas no dia 17 de junho de 2021. Toda a obra poderá ser vista no site do Teatro Unimed até 11 de julho de 2021.

Classificação: variável de acordo com cada episódio

Ingressos: gratuito

Duração: 10 minutos

https://www.facebook.com/TeatroUnimed

https://www.instagram.com/teatrounimed/

Assim como na versão norte-americana de 2020 e no espetáculo Madame Sheila, exibido no site do Teatro Unimed no ano passado, o projeto Dez por Dez também tem caráter beneficente. Paralelamente à exibição gratuita dos monólogos, o público é convidado a colaborar, através de doações ao Fundo Marlene Colé, em prol dos trabalhadores do teatro em situação de insegurança alimentar devido aos efeitos da pandemia. O Teatro Unimed se firma como um espaço efervescente de criação e ajuda humanitária (www.fundomarlenecole.com.br).

Programação, elenco e sinopses (a cada semana, duas novas histórias exibidas)

Pathy Dejesus é a mulher de 40 anos em Dez por Dez

Quinta-feira, 20 de maio

#1 – Mulher de 60 anos: Angela Vieira – mulher conta sobre um momento do seu passado, em que viveu uma relação que se resumiu a único beijo e a marcou para o resto da sua vida.

#2 – Homem de 20 anos: Johnny Massaro – garoto profundamente incomodado com a iminência da calvície vai revelando aos poucos um profundo amor por sua mãe, acreditando ser ela a única mulher que o aceitará careca.

Quinta-feira, 27 de maio

#3 – Mulher de 50 anos: Denise Fraga – mulher relata uma sequência de eventos trágicos em sua vida e revela, explicitamente, o desejo pelo suicídio. No final, ela provoca o espectador, pedindo sua ajuda para fazê-la desistir desse desejo.

#4 – Homem de 30 anos: Ícaro Silva – homem conta sobre uma viagem de avião, em que fica incomodado com sua vizinha de poltrona. Quando dorme durante o voo, sonha que eles vivem uma relação amorosa conflituosa e bizarra.

Quinta-feira, 3 de junho

#5 – Mulher de 40 anos: Pathy Dejesus – mulher conta sobre seu casamento, em que era frequentemente espancada e abusada emocionalmente por seu marido. Ela foge de casa e acaba se relacionando com outra mulher, encontrando, assim, um novo casamento e, ao mesmo tempo, um esconderijo.

#6 – Homem de 40 anos: Bruno Mazzeo – homem conta como o futebol faz parte fundamental de sua vida. Ele tem um filho que joga no time da escola e, acompanhando um de seus jogos, ele se envolve em uma séria briga com outro pai. Aos poucos, entendemos que ele já está morto enquanto relata a história. Bela reflexão sobre a violência nos esportes.

Quinta-feira, 10 de junho

#7 – Mulher de 30 anos: Chandelly Braz – jovem fala sobre um acidente de trânsito em que uma amiga morreu enviando uma mensagem para o namorado. Aos poucos, revela que eles viviam um triângulo amoroso na época do acidente.

#8 – Homem de 50 anos: Eucir de Souza – homem discorre sobre o orgulho de estar casado há 30 anos. Ele não se conforma com casais que se separam e famílias não-tradicionais. Aos poucos, revela-se um homofóbico radical.

Quinta-feira, 17 de junho

#9 – Mulher de 20 anos: Luisa Arraes – menina traída pelo namorado passa a ter várias relações afetivas sem sentido, como forma de vingança.

#10 – Homem de 60 anos: Leopoldo Pacheco – homem expõe seu incômodo e resistência a mudanças de hábitos e costumes na sociedade. Aos poucos, vai se revelando um racista conservador e intolerante com imigrantes.

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