Carla Vilhena sobre retorno ao jornalismo: ‘Decidi voltar para cumprir a missão de informar neste momento tão difícil’

Por - 24/03/21 - Última Atualização: 6 abril 2021

Divulgação/Kelly Queiroz CNN

Ter um telejornal com a sua assinatura é sinal de muita credibilidade. Longe da TV desde 2018, após sair da Globo, Carla Vilhena assumiu o Visão CNN e hoje é um dos nomes mais fortes do canal. Ao OFuxico, Vilhena falou sobre os desafios que está enfrentando, isolamento e a importância do jornalismo para a sociedade:

“É um instrumento a favor da sociedade, contra a injustiça e o arbítrio. Decidi voltar para cumprir a missão de informar neste momento tão difícil”. 

Pelas redes sociais Carla dá dicas culturais e de economia, e sonha em ter um programa de entretenimento e viagens, e acredita que seus figurinos podem sim servir de inspiração para muitas mulheres que querem ser elegantes e bem vestidas em qualquer idade: “Quero mostrar que é possível”.  E detalhe, ainda na Globo, Carla ficou em primeiro lugar numa prova de português feita pela direção do canal. Carla adora estudar. Fala, escreve e lê francês, italiano e espanhol. E segue estudando alemão, história, política e filosofia, além das novas tendências da comunicação.    

Confira!  

OFuxico: Foi um período curto longe da bancada de um telejornal, mas logo você retornou e em grande estilo. Como surgiu o convite da CNN?
Carla Vilhena:
Achei até que foi bastante tempo, já que estive por vários anos longe de jornal diário, trabalhando como repórter no Fantástico e bancada só no plantão do Jornal Nacional. Depois que saí da Globo, fiquei no que eu chamo de sabático – metade voluntário, metade forçado -, devido à pandemia. Foi aí que por meio da Ellen Nogueira, diretora de Jornalismo da CNN, com quem trabalhei no Fantástico, fui apresentada ao Leandro Cipoloni, e convidada para o horário da tarde na CNN.

OFuxico: Como está a sua rotina agora?
Carla Vilhena:
Eu acordo às 7h, tomo café assistindo a CNN. Leio jornais, faço pesquisas. Às 9h, definimos os assuntos do dia numa reunião pelo WhatsApp. Faço minha maquiagem e cabelo e venho para a biblioteca, onde fica montada a aparelhagem de transmissão [o jornal está sendo produzido da casa da Carla por conta da pandemia]. Ali eu acesso o roteiro do jornal, converso com os analistas e correspondentes e preparo perguntas para os entrevistados. Depois fazemos uma reunião que eu chamo de “descompressão”, em que repassamos o que aconteceu no jornal e projetamos algo para o dia seguinte. Procuro seguir uma rotina de exercícios, leitura e estudos nas horas livres. No fim de semana eu cozinho (deixo pronta a comida congelada para a semana toda) e relaxo um pouco com séries e filmes. 

OFuxico: Durante esse tempo em que esteve longe dos telejornais parou de ler jornais todos os dias como antes?
Carla Vilhena:
Durante algum tempo achei que não voltaria a trabalhar, então dei uma relaxada, sim. No entanto, li muitos livros, viajei, estudei. No início de 2020, comecei a acompanhar as notícias da China e a ler muitos estudos sobre o novo vírus. Como eu sigo muitas publicações científicas, em janeiro e fevereiro já tinha noção de que o problema era grave. Isso foi muito difícil, ter que convencer as pessoas que amo a se isolar. Às vezes, não saber a gravidade da situação pode ser uma benção. Consegui que meus pais se fechassem no sítio [pai da Carla, Mário Filho, faleceu em janeiro vítima de infarto e paradas cardíacas], onde passaram o ano inteiro. Em alguns momentos, como todo mundo, me senti muito angustiada com o noticiário, mas também impelida a fazer algo para ajudar a enfrentar o momento que vivíamos. Primeiro, com postagens nas minhas redes sociais, depois com lives informativas durante a quarentena e, por fim, com a decisão de voltar ao jornalismo diário, para cumprir a missão de informar neste momento tão difícil para todos nós. 

OFuxico: E como foi retomar uma rotina puxada, jornal diário, ao vivo com longa duração?
Carla Vilhena:
Não foi fácil, mas, durante a pandemia, resgatei muito da capacidade de improviso que já tinha exercitado por anos no SPTV e Bom Dia SP. Fiz lives como convidada em noticiários com pegada mais política, participei de debates, entrevistei pessoas, li muitos livros de conjuntura internacional e fiz cursos de filosofia política. Foi um período realmente de aprendizado e preparação para o desafio que se seguiu. E eu nem sabia que viria o convite da CNN…. Mesmo assim, o início foi diferente de tudo o que eu já havia feito. O Visão é um jornal extremamente dinâmico, feito praticamente enquanto estamos no ar. Faço sugestões de entrevista ao mesmo tempo em que leio as notícias que vão chegando no computador. É ao vivo de verdade. No começo, eu saía correndo do estúdio para o banheiro, pois eram quase 3 horas de duração. Ficava esgotada mentalmente. Hoje já me habituei e acho que passa rápido. 

OFuxico: O público sentiu muita a sua falta, afinal foram anos na Globo no JH, SPTV, BDSP, BDBR, JN e Fantástico. Como tem sido o retorno dos assinantes ao te ver no horário do almoço apresentando um telejornal?
Carla Vilhena:
Eu tenho muita satisfação de ver como as pessoas que acompanharam meu trabalho vibram junto comigo com cada conquista na minha carreira. Recebo um carinho tão grande, que às vezes chega a me surpreender. Tenho certeza de que o trabalho que desenvolvi por tantos anos, sempre mantendo a responsabilidade de informar bem e lutar para combater nossas desigualdades e injustiças, foi bem compreendido pelo público, que pode contar comigo mais uma vez nessa nova etapa. 

OFuxico: Com tantos anos de carreira ainda bate um frio na barriga antes de entrar no ar?
Carla Vilhena:
A estreia na CNN teve, sim, esse frio na barriga, pois foi tudo muito rápido. Entre o convite e a estreia quase não passou nem uma semana. Eu estava em casa, isolada, de repente volto ao mundo exterior, com toda a responsabilidade de assinar um jornal (Visão CNN com Carla Vilhena…), no maior canal de notícias do mundo, com esse nome de um peso enorme! Levei um tempo para fazer fluir novamente a naturalidade na apresentação e imprimir minha marca. Hoje sei que o jornal tem a minha cara. Mas é um processo dos dois lados, meu e da emissora, pois ainda estamos nos conhecendo. 

OFuxico: Muitos pensaram que você migraria para o entretenimento, o que pensou em fazer nesse meio tempo até o convite da CNN?
Carla Vilhena:
Pensei nisso, porém logo percebi que seria difícil num momento de crise, como o que se seguiu à minha saída da Globo. Tive o sonho de ter um programa de viagens, cultura e história. Cheguei a fazer vários vídeos assim para minhas redes sociais, aí veio a pandemia e fiquei só no desejo. Mas ainda tenho a expectativa de retomar e, quem sabe, ter um programa no entretenimento, paralelamente ao meu trabalho no Jornalismo. 

Carla Vilhena na bancada da CNN

OFuxico: O quanto foi importante ficar esse tempo fora do ar, reorganizar a vida, pensar em novos projetos ou simplesmente não pensar em nada… e aproveitar cada momento de lazer?
Carla Vilhena:
Sempre fui muito entusiasmada com a vida. Quero aproveitar tudo ao máximo. Estou sempre inventando alguma coisa, e às vezes, não consigo cumprir tudo que me proponho a fazer. Mas durante esse tempo me permiti ficar um pouco sem fazer nada. Descobri que nunca havia parado de trabalhar desde que comecei minha vida profissional, aos dezesseis anos. Então, pude fazer isso sem culpa. 

OFuxico: O que o público pode encontrar no Visão CNN?
Carla Vilhena:
Nós queremos ser o jornal que vai explicar a notícia, trazer aprofundamento, aspectos interessantes, lados inexplorados, enfim, vamos mostrar ao público o que tem além dos fatos que estão no noticiário. Temos um time de análise que corre atrás de tudo que está na origem dos acontecimentos. Confronta informações, apura dados, compara experiências, inclusive internacionais, e traz tudo isso para a nossa audiência. Nós respeitamos a inteligência do nosso espectador. Sabemos que hoje, com a internet, a notícia chega voando e sem filtro. Então nós queremos mostrar o que é realmente fato e por que ele é importante na sua vida. Quem assistir ao Visão vai ver que não somos repetidores de notícias. 

OFuxico: Irá fazer reportagens e plantões aos finais de semana também?
Carla Vilhena:
Passei anos seguidos sem fim de semana, perdi muitas vezes a chance de estar com minha família e curtir meus filhos enquanto eram pequenos. Isso não volta mais. Minha filha, por exemplo, já “deixou o ninho” há dois anos e não a vejo há 15 meses. Mesmo assim, ainda tenho dois filhos próximos a mim, a quem quero me dedicar, além de meu marido. Por isso, fiz esse pedido de ter um descanso merecido. 

OFuxico: Há uns meses seu vídeo com dicas de cinema e como economizar com a pipoca fez muito sucesso. Hoje, infelizmente, milhões de brasileiros enfrentam uma grave crise financeira. Sente que você é uma voz para essas pessoas, no sentido de protestar, alertar?
Carla Vilhena:
Sou fiel às minhas origens e não me desconecto nunca das reais necessidades das pessoas. Hoje tenho uma condição melhor, devido ao meu trabalho, graças a uma opção que meus pais fizeram lá atrás, de se sacrificar para que eu tivesse o melhor colégio que eles pudessem dar. Então sei o real valor do dinheiro e como ele deve ser usado da melhor maneira possível. 

OFuxico: Em 2014, você fez uma reportagem sobre crise nos hospitais de SP. Quase sete anos depois a história se repete e todos podem ver o colapso. Fale sobre a importância do jornalismo para a sociedade.
Carla Vilhena:
Fizemos um apanhado de todo o Brasil, mostrando que nosso sistema tem muitos gargalos, o famoso “cobertor curto”, entre eles as macas das ambulâncias, que ficavam presas nos hospitais por falta de outras macas para transferir os doentes que chegavam. Isso impossibilitava o uso daquelas ambulâncias, que permaneciam paradas no estacionamento, aguardando a devolução das macas. Foi um modo de mostrar como muitas vezes a solução de problemas complexos pode estar em iniciativas simples. O Jornalismo é a voz da sociedade, é a maneira mais simples e direta de exigir das autoridades o respeito ao nosso dinheiro e ao nosso voto. 

OFuxico: O que a Carla de hoje diria para aquela moça lá atrás começando a carreira nos anos 80?
Carla Vilhena:
Diria que você vai cair e levantar, mesmo achando que não consegue; às vezes terá que dar alguns passos para trás antes de avançar novamente. Alguns dirão que você não é capaz. Apesar de tudo, a estrada é linda, e muitos vão se inspirar em você e te dar forças para prosseguir. 

OFuxico: Seu pai era publicitário, sua mãe é fonoaudióloga. Como eles te ajudaram na profissão? E por que escolheu o jornalismo?
Carla Vilhena:
Acho que minhas maiores influências estão na família, que sempre me incentivou nos estudos, na leitura, na convivência com a diferença, no diálogo respeitoso. Destaco meu avô, jornalista, que me indicava o que ler e como ler os grandes autores. Minha mãe, que sempre exigiu excelência em tudo que eu fizesse, mas foi e ainda é minha maior incentivadora. E meu pai, que sempre valorizou o Jornalismo, inclusive com ciúmes do Jornal do Brasil que chegava na nossa casa e que ele tinha que ser o primeiro a ler.

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