Experiência com filha portadora de down vira documentário
Por Redação - 10/10/06 às 12:46
No documentário Do Luto à Luta, em cartaz desde sexta-feira, dia 6, em cinemas do Rio, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Brasília, o cineasta Evaldo Mocarzel, faz uma espécie de mea-culpa. Ele é pai de Joana Mocarzel, de 7 anos – intérprete da Clara, de Páginas da Vida, portadora da Síndrome de Down -, e demorou quatro meses, desde o nascimento da menina, para aceitar a nova situação com a qual teve de passar conviver. Para ele, todo o sofrimento desnecessário de que foi vítima, só ocorreu por falta de informação sobre o Down. Ele esclarece que, em momento algum, rejeitou a filha.
“Do Luto à Luta é um filme de utilidade pública, com uma bossa de linguagem, para não virar uma coisa institucional. O objetivo é lançar um novo olhar sobre a síndrome. Era o filme que gostaria de ter assistido na maternidade, na hora do parto da Joana, que assim não teria tido a sensação de rejeição, de dor que a minha vida sentiu naquele momento. Padeci por falta de informação, pelo preconceito de não conhecer o assunto. Só depois de quatro meses, descobri que havia criado um monstro que não existia. Felizmente, o ser humano cresce na dor, se depura para melhor, se torna mais generoso e descobre uma grandeza infinita”, aposta Evaldo Mocarzel.
O pai da menina, que cativa o Brasil como a filha de Helena (Regina Duarte) na trama de Manoel Carlos, conta o motivo de ter aprendido a lidar com o Down, somente após quatro meses do nascimento de Joana.
“Ela nasceu com uma cardiopatia e, com essa idade, teve ir para uma mesa de cirurgia. Foi o momento em que a vida me colocou contra a parede: estava na hora de querer que essa criança vingasse. E assim comecei a tirar a questão de letra, como a minha mulher, a Denise, tirou desde o nascimento da Joana. Nosso bebê voltou para casa curado. Hoje é uma garota de sete anos, não tem sopro no coração, não toma medicamento.”
Evaldo garante que ter vivenciado essa situação-limite fez dele uma pessoa mais urgente e menos acomodada: “Tornei-me um cara mais essencial, porque estava acomodado como editor de cultura, com um bom salário em um grande jornal de São Paulo. E a Joana se tornou o presente que estava precisando ganhar, para enfrentar as dificuldades, novos desafios ou retomar os anteriores. Voltei a fazer filmes e comecei a escrever peças. Como percebi, a partir do meu exemplo pessoal, que a inclusão do portador de Down é a palavra de ordem no mundo em que vivemos, resolvi fazer o documentário Do Luto à Luta.”
O cineasta esclarece ainda que Do Luto à Luta não é um filme sobre a sua experiência, tanto que a Joana faz uma ponta: “E assim mesmo porque o Rodrigo Oliveira, um rapaz de 31 anos, que é um dos protagonistas, me perguntou por quê eu estava fazendo um filme sobre quem tem Down. A minha resposta foi mostrar as imagens da minha filha. O documentário mostra como essas pessoas transcendem os limites e questionam tudo o que os ditos normais questionam. Que são pessoas ups, para cima, totalmente. E que down, para baixo, era o cara quem descobriu a síndrome e, atualmente, o preconceito que ainda se tem sobre a questão que a literatura médica não registra como doença”, finaliza Evaldo.
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