Luis Miranda comenta aceitação de personagem transgênero

Por - 17/08/14 às 11:19

Ag News
Entrevistado pelo jornal Extra, Luis Miranda afirma que o humor de Eddie Murphy "tem tudo a ver com o estilo Luis Miranda de ser". No ar em Geração Brasil, novela exibida na Globo na faixa das 19h, o ator que vive a Dorothy, sente prazer em se transformar diante da câmera ou de uma plateia. 

"Sempre gostei de fazer uma coisa diferente", conta ele, que explica por que considera o filme Um Príncipe Em Nova Iorque tão significativo.

"Ele é importante porque mostra o negro numa posição privilegiada. Isso contribui para a diminuição do preconceito, mostra que as pessoas são iguais. Esse príncipe africano que chega aos Estados Unidos com toda sua importância e vive uma história de amor é bacana, dá autoestima para quem vê".

Dorothy – nascida Dorival e transformada em Dorotéia antes de ir para a América -desempenha um papel semelhante na novela das sete.

"Ela é fina, elegante, fala que não sofre preconceito porque dinheiro cala a boca de muita gente. Você não enxerga o Pelé como negro, mas como o maior atleta do século. A gente podia ser o núcleo da Taquara, mas somos de Nova York, o núcleo dos bem aceitos, que têm outros problemas, não em relação à cor ou à classe social", analisa.

A classe que já encantou Moreira (Claudio Mendes) e Cidão (André Gonçalves) – e que acentua o humor de sequências em que Dorothy torce como homem na Copa ou joga capoeira para defender o filho de bandidos – tem inspiração em mulheres como a atriz belga Audrey Hepburn e a primeira dama dos EUA Michelle Obama.

"Mas tem também algo de Fernanda Montenegro como Bia Falcão (em Belíssima) e Odete Roitman (de Vale Tudo) essa visão meio debochada que ela tem do Brasil, que acha um país infernal, um calor absurdo, uma selva… Tem esse humor delas. E ter feito balé mais jovem ajudou. Quero que ela aparente estar sempre flutuando, numa borbulha de champanhe", afirma.

As mulheres elogiam, os homens dizem que "pegariam". Em tempos em que o público torce para beijos gays em novelas, será que algo está, enfim, mudando?

"Estamos em 2014, né? A gente está lutando contra a homofobia dentro de uma novela animada, alegre. Estamos caminhando para essa possibilidade de aceitação. É importante que nós, como artistas, consigamos ajudar com esse pontapé", diz o ator, que acredita no poder transformador da comédia.

"Ela é o doce de leite que faz com que as pessoas aceitem com mais naturalidade. É o bálsamo que ajuda a digerir esse suco gástrico do mau humor, da prisão a velhos paradigmas".

Desde que estreou na telinha como Moreno em Sob Nova Direção, em 2004, o camaleônico Miranda já viveu pai de santo (Ó Paí, Ó), pajé (A Grande Família) e travesti (As Cariocas). No teatro, destacou-se pelos múltiplos personagens que criou na peça Terça Insana. Mas o talento para o humor se manifestou ainda na infância, em Santo Antônio de Jesus, no interior da Bahia, quando "arremedava" (imitava) a avó nas ladainhas da igreja ou um tio centenário nos eventos familiares. Ele só se deu conta da vocação, no entanto, nos tempos de escoteiro.

"Tínhamos reuniões em que cada patrulha era responsável por uma cena de entretenimento, contando como foi o dia no acampamento. Eu sempre me destacava", lembra ele, que entrou para um grupo de teatro em Salvador com 14 anos e é formado em Artes Dramáticas pela USP.

O balé, que estudou dos 14 aos 17, também teve papel importante na sua formação e lhe permitiu trabalhar como professor e coreógrafo.

"Resolvi fazer porque tinha um joelho meio pra dentro".

"A disciplina de um profissional de dança é complicada. Acho que indisciplina de vez em quando é bom. Não acredito em chegar com o texto totalmente decorado. Acho bom viver um pouquinho do pânico, mantém a coisa viva. Não gosto de ser CDF", diz. 

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