Mia Mello sobre limites do humor: ‘Quando se fala em censura, sou contra’

Foi em uma antessala do Teatro das Artes, que Miá Mello recebeu nossa reportagem para um bate-papo mega descontraído. A atriz estreia nesta sexta-feira (10), o monólogo Mãe Fora da Caixa, com direção de Joana Lebreiro, na terra da garoa. E para completar, ela não esconde a alegria de voltar a morar em sua terra natal.

“Eu vim para cá em agosto do ano passado, retornamos porque o meu marido veio trabalhar na cidade. Eu vivo na ponte aérea. Estou muito feliz, fiquei muito mais próxima às minhas amigas de infância, perto dos meus sogros que são pessoas muito gentis e carinhosas, meus filhos conviverem com eles tem sido uma experiência rica. No Rio era só meu marido e eu, não tínhamos família”, falou ao OFuxico, após viver seis anos na cidade maravilhosa.

A peça que teve uma temporada de sucesso no Rio, em 2019, aborda o desafio da maternidade, sob uma nova perspectiva, de maneira franca e não romanceada.

“Estamos falando sobre dois temas latentes nessa peça: a maternidade e o seu pano de fundo, que é a mulher. No momento em que se fala bastante sobre empoderamento da mulher, como ela consegue viver esse dilema que é a vida moderna x maternidade? Falamos o tempo inteiro sobre os desafios da maternidade. A peça tem esse poder, uma força muito grande de conexão, porque fala de algo que está todo mundo repensando atualmente: o lugar da mulher. Uma reflexão sobre o papel do feminino na maternidade, na sociedade. Percebo o tamanho da potência que é esse espetáculo”, explicou ela, que falou também sobre o papel do humor no desenrolar da história.

“O humor traz essa coisa descontraída, gera-se uma lente de aumento [sobre o tema], é muita risada. Mas, essa risada também traz uma reflexão muito grande. Tratamos do tema de uma forma leve, engraçada, irônica e emocionante. Nunca imaginei que essa peça fosse tocar tanto o público, no início achava que seria totalmente engraçada. No final as pessoas falavam: ‘Miá, chorei e ri a peça inteira’. Não era uma pretensão fazer chorar…. Contudo, é um tema passional. A maternidade é um tema curioso. É uma peça que há identificação, porque se eventualmente você não é mãe, é filha”, ressaltou.

Depoimentos da plateia

Depois do término de cada sessão carioca, Miá comentou que uma ideia sua a deixou extremamente satisfeita com o resultado.

“Quando começamos a peça no Rio de Janeiro, eu queria fazer alguma coisa [pós peça] que fosse além da foto, acho que somente isso fica tão vazio…. Decidi trocar por um bate-papo com as pessoas, é uma riqueza esse final. Tantas histórias engraçadas e emocionantes; experiências de mães que viveram em UTI quando os filhos nasceram, mãe que esqueceu o nome da filha, são milhares de depoimentos. Farei a mesma coisa em São Paulo e quero registrar isso. Criou-se nesse ambiente um lugar seguro de troca, onde as pessoas se sentem confortáveis para trocar histórias que elas não têm coragem de falar nem em confidências”, enfatizou.

Grito de Liberdade

Casada com o diretor de TV, Lucas Mello, Miá Mello é mãe de Nina e Antonio. Aparentemente com total propriedade para falar sobre o tema maternidade, a famosa revela que não é bem assim e tem seus momentos de insegurança.

“A maternidade é uma experiência desafiadora! Hoje em dia falamos de maternidade de uma forma transparente. Quando eu tive a Nina, que vai fazer 11 anos, não se falava tanto sobre o tema. Com meu outro filho, Antonio, que logo completará 3, já vivi outra realidade, discutindo sobre a maternidade não romanceada. Existe esse novo olhar, livros de autores incríveis, porém, ainda é um tabu gigantesco [abordar o tema]. Admitir que a mãe fica cansada, insegura, impotente, é como se nós estivéssemos assinando um atestado de que falhamos, é muito duro isso, porque gostaríamos de ser “mães perfeitas”. E não existe perfeição. Essa peça é um grito de liberdade para as mães”, disse ela.

Dez anos de carreira

Além das artes cênicas, ela é formada em publicidade e propaganda, trabalhando alguns anos na área. Gostando do trabalho, entretanto, não se sentindo totalmente realizada, Miá que não tinha pretensão alguma de seguir carreira artística, foi estudar na escola Wolf Maia, por indicação da minha mãe, que tinha lido no jornal sobre o curso de teatro.

“Fiquei feliz por ter passado no teste, porque na minha cabeça não existia essa possibilidade de eu ser atriz. Era algo tão inatingível pra mim. Fui gostando, vendo muita gente trabalhando na área, em seguida, fui me aperfeiçoar na escola Célia Helena. Tive total apoio da minha família, eles acreditaram em mim e isso foi fundamental para que eu chegasse até aqui”, falou ela, que completou uma década com atriz, fazendo um balanço.   

“Eu construí uma carreira constante com valores que acredito, me sinto orgulhosa por isso. Claro, já fiz trabalhos que talvez eu não tenha gostado, mas em algum momento acreditei no que eu estava fazendo. Me sinto privilegiada. Porém, no começo fiz diversos testes e recebi um monte de não”, confessou.

Miá Mello realiza participação especial em Amigo de Aluguel

Meu Passado Me Condena

Considerado um grande marco em sua trajetória, o projeto que começou na TV, migrou para a sétima arte e virou peça de teatro, resultou em uma grande amizade e parceria com o ator Fábio Porchat.

“O grande sonho da minha vida era trabalhar com cinema. O meu primeiro trabalho de dramaturgia foi na série Meu Passado Me Condena, junto com o Fábio Porchat. Durante o projeto, a produtora executiva nos contou que estavam procurando uma história para ser filmada em um navio, e disse que iria sugerir a nossa. Não quis me animar antes da hora, logo no meu primeiro trabalho já fazer cinema? Seria possível? Em menos de um mês deu tudo certo!”, revisitou o seu próprio passado, feliz da vida pelas recordações e ainda agradeceu:

“Foi um trabalho que me projetou! Uma história bem-sucedida, principalmente minha parceria com o Fábio Porchat, um cara que admiro bastante. Aprendo com ele até hoje. Depois dessa vivência com ele, me sinto uma profissional diferenciada. Fábio é proativo, responsável, faz dez coisas e não reclama de nada nunca”, reforçou.

Projetos 2020

Miá contou detalhes sobre seus múltiplos projetos para 2020 e confidencia um grande desejo profissional.

“Nesse ano vou rodar dois filmes, gravei a segunda temporada da série Homens (Amazon Prime), vou começar a gravar um talk-show de ciência e tecnologia, no canal National Geographic, eu adoro esse tema. Amando as pesquisas, as pessoas, mais um desafio na carreira, algo totalmente novo. Sigo com a peça até abril e vou lançar neste ano o filme O Palestrante Motivacional. Quero muito fazer uma série no estilo de Segunda Chamada, por exemplo, que trabalho lindo! Eu gostaria de não ser rotulada como comediante, luto bastante por isso. Quero muito fazer um drama, algo que fuja um pouco da comédia, meu sonho”, revelou.

A atriz opinou sobre a discussão: afinal, humor tem limite?

“Eu sou uma pessoa que prefere evitar conflitos, minha personalidade é assim. Não me agrada polêmica. Nunca faria qualquer tipo de humor que envolvesse algo polêmico ou sem graça com minorias. Isso [na classe] já foi revisto há uns seis anos, daí surgiu um movimento positivo onde se começou a falar do limite do humor; o que pode ou não falar, até onde pode ter graça…. Muita coisa mudou. As pessoas repensaram a forma de fazer humor, diferente dos anos 80, que era algo bem machista. No consenso entendeu-se que determinadas coisas não pode ser feito nem por brincadeira. Porém, quando se fala em censura no âmbito geral da comédia, sou contra”, frisou.   

E sobre os ataques sofrido pelo grupo Porta dos Fundos, em dezembro do ano passado (após divulgarem o polêmico especial de Natal), a artista comentou sobre o que pensa disso tudo.

“Estamos vivendo um período muito sensível e conturbado na política geral, não só nacional. Em todo período delicado, temos que encontrar novos jeitos de comunicar, sai coisas positivas disso tudo. Conforme vamos sentindo que algumas coisas não são bem recebidas, é preciso fazer outra manobra para criar coisas novas. Porém, tudo que vem com essa roupagem de censura, fanatismo ou intolerância, não me agrada. São coisas que geram ódio, brigas, coisas ruins. Esse atentado foi estranhíssimo! E o cara? Já está até na Rússia!”, concluiu.  

Serviço:

Mãe Fora da Caixa

Temporada: Estreia dia 10 de janeiro até 26 de abril 2020

Local: Teatro das Artes

Duração: 80 minutos. Classificação: 12 anos. 

Temporada: De 10 de janeiro até 26 de abril de 2020. Às sextas e aos sábados, às 21h; aos domingos, às 18h. *Sessões Bebê Bem-vindo, aos domingos, às 11h (de 15 em 15 dias).

*Sessão Bebê Bem-Vindo

Os pequenos também podem assistir à peça nas sessões Bebê Bem-Vindo, que acontecem aos domingos, às 11h, a cada 15 dias, sempre acompanhadas dos responsáveis. Trata-se de uma experiência que transforma ainda mais o ambiente harmônico da peça, além de proporcionar cenas belíssimas para os pequenos.

Veja mais fotos da peça:

Veja o recadinho que Miá Mello gravou para os litores de OFuxico: