“Sou negro e abomino qualquer tipo de discriminação”, diz Alexandre Pires

Por - 14/05/12 às 02:27

Reprodução/Globo.com

Polêmica: acusações de racismo a um vídeo em que Alexandre Pires, o jogador Neymar e o cantor Mr. Catra aparecem fantasiados de macacos. O cantor falou pela primeira vez sobre o caso, em entrevista à repórter Graziela Azevedo, no Fantástico.

“A ideia era fazer aquilo que hoje em dia tanta gente faz. Era uma brincadeira para a internet”, diz.

Mas, como se trata de Alexandre Pires, a ideia veio em forma de música e, dessa vez, segundo ele, a inspiração foi um famoso personagem do cinema.

“Quando surgiu a música, e a música falava de Kong, me veio à cabeça o quê? O filme do King Kong, que tem aquela cena que ele está cortejando a moça, aquela coisa do personagem do filme. E nisso pensei: poxa, vamos fazer um clipe dos gorilas, macacos, que estão fugindo da floresta e invadindo uma cidade, onde eles vão entrar num bairro residencial e invadir uma casa. Foi daí que surgiu essa ideia”, conta Alexandre.

“Aí, sem maiores produções, se junta uns amigos”.

Só que os amigos dele são: o funkeiro Mr. Catra, Neymar.

“O Neymar, eu liguei para ele. O jogador tinha acabado de receber um prêmio do gol mais bonito do ano. Aceitou mais que de imediato em participar da filmagem. Convidei o Catra também”, explica Pires.

Antes mesmo do clipe ficar pronto, a dancinha do Kong ganhou o mundo. Daniel Alves, que sabia da novidade, fez um gol pelo Barcelona em janeiro e comemorou com a dança.

Em seguida, o clipe do Kong caiu na rede e se espalhou feito rastilho de pólvora.

“Era só uma brincadeira”, é o que o Alexandre Pires garante, mas o clipe da música Kong acabou se transformando num momento de tristeza.

“Em momento algum eu imaginei que um dia eu fosse acusado de racismo no meu próprio trabalho”.

Porém, aconteceu. Entidades que combatem o preconceito reclamaram, e a confusão se instalou.

“Ao você trabalhar um conteúdo com pessoas negras vestindo essa fantasia, isso nos remete automaticamente a uma associação ao racismo. Se é na internet, é um racismo virtual”, avalia o sociólogo Aguinaldo Neiva.

A ouvidoria da Secretaria da Igualdade Racial pediu que a Procuradoria da República investigasse o que considerou conteúdo que reforça os estereótipos contra a população negra e da mulher como símbolo sexual.

“Esse clipe reproduz e reforça uma associação negativa. A figura do macaco tem sido historicamente mais utilizada para desumanizar a população negra”, aponta Carlos Alberto de Souza e Silva Jr, ouvidor da Secretaria de Igualdade Racial.

“O primeiro passo foi ouvir o autor da música, e agora o Ministério Público Federal vai ouvir as entidades do Triângulo Mineiro para poder tomar uma decisão a respeito do procedimento ou não”, diz o procurador da República Frederico Pelutti.

Em seu apartamento em Uberlândia, junto com a família, Alexandre diz como se sentiu com as acusações.

“Eu fiquei chocado, assustadíssimo com isso. Eu sou negro. eu abomino qualquer tipo de discriminação, seja racial, seja social. E não vejo esse videoclipe como uma piada ou algo parecido. Eu vejo isso como uma descontração, uma música”.

Alexandre conta que já foi vítima do preconceito, acha que atitudes racistas como as que já aconteceram no futebol devem ser punidas.

“Você já viu a cena do pessoal jogando banana?”

“Já. Inclusive tenho amigos que sofreram isso. Roberto Carlos, que é um amigo, irmão, que passou por isso”, diz o cantor.

Assim como defende a punição, ele defende também a liberdade.

“O que eu quero? Respeito à minha liberdade. Não concordo com isso. E ao mesmo tempo, fiquei profundamente chateado pelo motivo maior, que chama-se racismo. Isso é uma coisa que eu abomino”.

O músico e hoje deputado Tiririca, que já foi acusado e inocentado de fazer música preconceituosa, deu sua opinião.

“Acho que é bobeira. É uma galera que está querendo fazer barulho numa coisa que não existe”, diz Tiririca.

Mas a polêmica está aí, e como toda discussão serve para que cada um pense, tire suas conclusões. Alexandre Pires garante que o objetivo dele não foi esse e, menos ainda, o de ofender.

“Eu sinceramente acho que isso devia parar já. Acho uma bobagem, acho que tem coisas mais interessantes e mais importantes pra gente se preocupar do que um momento de alegria, de descontração que a gente quis passar para as pessoas que acompanham meu trabalho, só isso”, garante o cantor.


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