Rosane Svartman e Walcyr Carrasco sobre IA: ‘A gente se interessa pelo humano’
Por Raphael Araujo - 20/07/23 às 17:20
Na quarta-feira, 19 de julho, Rosane Svartman, autora da novela “Vai na Fé”, da TV Globo, desembarcou em terras paulistanas para lançar seu novo livro, “A telenovela e o futuro da televisão brasileira”, que é baseado em sua tese de doutorado, e na Livraria da Travessa, ela realizou um evento de lançamento com sessão de autógrafos.
Além dela mesma, esteve presente Maria Immacolata Vassallo Lopes, estudiosa de novelas da USP, e Walcyr Carrasco, que como um grande dramaturgo, assinou o prefácio da obra, e sua presença foi muito agradecida: “Ele é de uma generosidade ímpar. Quantos universos e personagens ele construiu, e no meio de uma novela das 21h [‘Terra e Paixão’] ele está aqui”.
O livro fala de como a novela é um produto muito intrínseco à cultura brasileira, e como ela vai acompanhar a sociedade independente das transformações que ocorrerem. “Veio as plataformas, e o cenário ficou pessimista, mas as novelas vão continuar”, disse Maria, elogiando Rosane e concordando com ela.
Immacolata então rasgou elogios à dramaturga pelo livro: “Eu tenho que dizer uma coisa da Rosane que me tocou.
Essa coisa de ‘’, você é objeto, e isso gera uma transparência muito grande, e você faz um trabalho epistemológico de esclarecimento, graças às auto explicitações que você faz. Isso significa que você tem muita autovigilância e muita autocrítica sobre seus erros”.
“[…] Você é o objeto no seu livro, e me encantou muito a sua abordagem e como você faz isso de maneira muito clara. Vamos indicar o trabalho na Universidade, pis ela falou para um público maior, mas sem deixar de lado o rigor de mostrar esse conhecimento. Você é um sujeito híbrido de ‘Sujeito-Objeto’, e mais que isso, você é o próprio objeto de maneira específica”, concluiu ela
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DEBATE SOBRE IMPACTOS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Ainda, o trio se dispôs a comentar sobre a chegada da Inteligência Artificial, e Immacolata declarou: “O que é humano, eu reconheço, mas o que pe máquina, eu não conheço”. Svartman apontou “A Glória [Perez] tem a mesma visão que você, que é mais pessimista que a minha (risos)”.
“A Inteligência Artificial já derrubou os livros católicos, porque eu brinco no ChatGPT, e toda a história que é feita ali, é de moral extremamente formal e católica. Passei por uma experiência em que falei ‘cria uma história em que o filho bate na mãe’, e a resposta foi: ‘Não posso escrever essa história porque vai contra os valores da família’”, contou Walcyr, arrancando risos do público.
“Fiz várias histórias lá e todas tem final feliz e moral. Você pode até enganar o ChatGPT, mas ele é preparado, e segue a moral católica”, completou ele.
PODER DO HUMANO
Rosane Svartman em seguida apontou: “Eu acho que isso do humano, que a Immacolata falou, que são os erros, a sensibilidade de encontrar o que falar em uma novela, o que está latente, essas imperfeições todas que temos ao produzir um texto e faz ele ficar interessante, eu acho que isso permanece e vai ser difícil conseguir substituir”.
“Eu vejo máquinas escrevendo para máquinas, mas a gente vai se interessar pelo que é humano sempre”, completou ela. “Para mim é médio. Eu acho que a Inteligência Artificial vai apender a imitar o humano, inclusive nos seus erros e escapadas”, respondeu Carrasco.
“Eu lembro da história, que quando o Guttemberg inventou a máquina de imprimir, todo mundo dizia que o livro iria acabar, e realmente, o livro feito à mão pelos monges [copistas], desenhadinho, acabou, mas o livro em si continua. Sempre que surge uma novidade, ou a humanidade está um passo tecnológico à frente, há também uma reposta artística que é surpreendente”, disse o escritor.
“Na comunicação, a gente tem uma verdade, e nenhum meio novo acabou com o anterior. […] Nem vou dizer então que o apocalipse tá chegando, nem que é a maravilha das maravilhas, mas quando eu estava pensando no autor, pensei se fala muito da criatividade da imaginação, e tem um termo chamado ‘construção de mundo’. E você [Rosane] considera a novela um ‘banco de dados’. Talvez a gente tenha o que podemos chamar de ‘alma’ que nos diferencia. O que nos apavora atualmente, é a lapidez e a velocidade das mudanças”, reforçou Maria.
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Raphael Araujo Barboza é formado em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. OFuxico foi o primeiro lugar em que começou a trabalhar. Diariamente faz um pouco de tudo, mas tem como assuntos favoritos Super-Heróis e demais assuntos da Cultura Pop (séries, filmes, músicas) e tudo que envolva a Comunidade LGBTQIA+.