Terra e Paixão: Abusos sofridos por Lucinda causam debate na vida real

Uma das tramas mais tensas de acompanhar em “Terra e Paixão“, TV Globo, é a luta de Lucinda (Débora Falabella) contra seu relacionamento abusivo com Andrade (Ângelo Antônio). A personagem sofre na mão do marido, que abusa de todas as formas da mulher, chegando a espancar diversas vezes ela durante a trama, além de mexer com o psicológico dela.

Só no Brasil, são milhões de mulheres em situações criminosas com seus companheiros, e muitas vezes não conseguem nem perceber que estão vivendo algo do tipo. Por isso mesmo, OFuxico decidiu bater um papo com Rosângela Casseano, psicóloga e terapeuta cognitivo comportamental, para entender todos os pontos desse tipo de relação que acaba com a vida de inúmeras vítimas todos os dias.

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De início, a CEO da PsicoPass definiu o que é um relacionamento abusivo: “Relacionamento abusivo é quando há um excesso de poder e controle por parte de uma das pessoas na relação em que o abusador se sente com total direito para com o outro, exercendo ciúmes em demasia, controle em sua vestimenta, nas redes sociais e em suas relações familiares, sociais e até profissionais, exerce controle financeiro, chantagem emocional disfarçada de “cuidado e amor excessivo” mas que até pode causar no outro uma certa dependência emocional, medo de magoar. Muitas vezes esses comportamentos são velados e demora muito tempo para que o outro perceba e possa fazer algo a respeito”.

No caso de Lucinda, a grande maioria das agressões acontecem principalmente dentro da casa do casal, mas a profissional deixou claro que uma relação desse tipo não se contém apenas à quatro paredes.

“A relação abusiva estará acontecendo dentro e fora da intimidade do casal, o que pode acontecer é o abusador expressar mais fortemente num ambiente mais privado e conseguir disfarçar sua atitude agressiva em público, porém o parceiro percebe pelo olhar e pode se sentir extremamente desconfortável ou aterrorizado com o que virá quando estiverem em ambiente fechado”, explica.

TIPOS DE VIOLÊNCIA

Para uma melhor compreensão, ela listou as principais violências cometidas pelo homem: “Todo tipo de controle do outro caracteriza uma violência, seja em que nível for, mas as 5 principais violências que a Lei Maria da Penha prevê é: violência física, comportamento que  ofende a integridade ou saúde corporal da vítima, violência psicológica, quando há ofensas e desqualificação diminuindo o valor do outro, violência sexual, no caso em que a mulher é forçada por chantagem emocional ou mesmo com agressão física a fazer sexo com o parceiro,  violência patrimonial, quando o abusador passa a ter controle sobre as finanças do seu par, violência moral, comportamento hostil desqualificando a moral da pessoa especialmente em ambiente social e familiar”.

O CASO DE LUCINDA

Rosângela ainda analisou a fundo o caso da personagem de Débora Falabella: “É o típico caso da mulher que é correta, justa e afetiva com sua família, pronta a manter o casamento e a saúde física e mental do filho porém casada com um homem muito violento especialmente quando alcoolizado, porem apesar dela não aceitar a violência tem uma atitude de tentar ajudar o marido a sair do vicio, muitas mulheres acabam como Lucinda justificando as atitudes abusivas como doença”.

PEDIDO DE AJUDA

Anely (Tatá Werneck) vive sua própria trama na novela, mas é a principal aliada da irmã na hora de perceber as atitudes abusivas de Andrade. Porém, muitas vezes a própria Lucinda nega ajuda e afirma que tudo está bem.

Rosângela explica essa atitude: “A mulher muitas vezes não percebe que aquele comportamento se trata de um abuso, o próprio abusador expressa seu comportamento como algo associado a amor, preocupação e cuidado excessivo para com o outro e muitas vezes a mulher por carência afetiva, ou até mesmo por ilusão romântica se deixa levar até um ponto tão crítico em que ela pode começar a questionar”.

A PRESENÇA DE UM FILHO

Para piorar a situação de Lucinda, ela tem um filho com Andrade, o Cristian (Felipe Melquiades), que já presenciou algumas das situações extremas dentro de casa.

“As mulheres geralmente tentam abster os filhos dessas ameaças, nunca compartilham suas dores e chegam a defender a atitude do abusador alegando que ele pode estar exausto, nervoso ou doente mas que tudo é pelo amor a família, os filhos enquanto criança podem não perceber mas em pouco tempo vão entendendo que esse comportamento é nocivo a todos e pode fazer com que haja um afastamento deste, especialmente na adolescência e pior muitas vezes esse filho se tornará um futuro abusador, pelo modelo vivenciado de relacionamento familiar”, explica a psicóloga.

SAINDO DO ABUSO

Não existe uma formula certa para fugir de uma relação abusiva, apenas buscar ajuda e tentar se afastar ao máximo daquele com quem você se relaciona, principalmente entendendo que você não está sozinha.

“Toda pessoa que estiver nesta situação precisará de ajuda para sair disto, seja pelo alerta de um amigo ou familiar que pode despertar uma reflexão sobre o assunto, ou por seu próprio esgotamento e uma vez a mulher se dando conta de que há um abuso ela poderá recorrer a ajuda profissional, com um psicólogo ou psiquiatra, grupos de autoajuda que são muito ricos nesse acolhimento e ainda existem os serviços públicos criados para ajudar mulheres nesta situação. Qualquer pessoa pode fazer denúncias anonimamente chamando o número 180, da Central de Atendimento à Mulher”, finaliza Rosângela.

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