Vini Jr. é convocado para depor como vítima de crime de ódio, na Espanha

Por - 26/05/23 às 16:00

Vini jrVinicius Jr. vai depor através de videoconferência - Foto: Reprodução/ Instagram @vinijr

O Tribunal de Instrução Nº 10 de Valência, na Espanha, aceitou nesta sexta-feira, 25 de maio, a denúncia feita pela Promotoria por crime de ódio contra o jogador brasileiro Vinicius Jr. O atacante do Real Madrid foi alvo de ataques racistas no último dia 21 de maio, em um jogo na cidade.

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Convocado a depor como vítima de crime de ódio, o jogador o fará através de videoconferência. Os três torcedores do Valencia, que foram detidos na última terça-feira, 23 de maio, também prestarão depoimentos. Os jovens de 18, 19 e 21 anos, suspeitos de integrarem o grupo que ofendeu o jogador brasileiro, estarão presencialmente.

  • O estádio Mestalla, do Valencia, terá que fechar parte de suas arquibancadas pelos próximos cinco jogos;
  • O jogador brasileiro foi alvo de comentários semelhantes durante toda a temporada;
  • O clube valenciano terá que identificar os seguranças do jogo para que eventualmente possam testemunhar;
  • O clube terá ainda que guardar o material audiovisual da partida;
  • O juiz responsável pelo caso pediu também ao Valencia a relação de seguranças da partida e alguns deles também serão ouvidos.

O processo é o primeiro do caso a chegar nas vias judiciais. Em Madri, a Procuradoria Geral do Estado também investiga o episódio após uma queixa do Real Madrid, time de Vini Jr., e pode fazer outra denúncia à Justiça local. Vale destacar que, na Espanha, as denúncias do Ministério Público passam inicialmente pela instância de instrução antes que um juiz decida se os acusados devem ou não virar réus.

O Tribunal de Instrução tem conduzido o caso após repasse do Ministério Público de Valência. O processo foi aberto com base em um relatório da Brigada de Informação da Polícia da Comunidade Valenciana, que indicou a possibilidade de um crime de ódio durante o jogo.

Imagens do momento em que Vinicius Jr. interrompeu a partida para se queixar dos xingamentos com o juiz foram coletadas e estão anexadas no relatório do caso.

ENTIDADES BRASILEIRAS ENVIAM DOCUMENTO À DEFENSORIA DOS POVOS

O Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP) e Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), entraram com representação à Defensoria dos Povos de Madri, na Espanha. A medida é em razão dos episódios de racismo direcionados ao jogador do Real Madrid.  

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Representado pelo advogado Carlos Nicodemos, da NN Advogados Associados, o grupo formalizou Representação Administrativa contra o Estado Espanhol frente aos sucessivos ataques racistas praticados contra o jogador.

O grupo ressaltou que a Federação Espanhola de Futebol tem adotado uma postura de baixa resolução desses crimes e o enfatizou o “silêncio” do Estado espanhol, que não cobrou medidas mais contundentes tanto no aspecto esportivo, quanto no aspecto legal – civil e criminal.

A Representação foi dirigida ao Defensor del Pueblo em Madrid e aponta elementos de racismo e xenofobia por parte das torcidas organizadas. É preciso e necessário medidas que possam restabelecer a dignidade do atleta e cidadão.

“Não é possível que quase no meio do Século 21 a gente tenha o preconceito racial com força descabida nos estádios de futebol. Precisamos pontuar que a questão não é apenas o racismo no futebol, mas sim, o racismo como uma das engrenasse de opressão e tentativas de supressão dos direitos das pessoas negras”, declara Ivanir dos Santos – fundador do CEAP – Dr. Prof. do Programa de pós-graduação em História Comparada da UFRJ. 

ENTENDA O CASO

Durante a partida pela 35ª rodada do Campeonato Espanhol, no domingo, 21 de maio, o Valencia venceu por 1 a 0, aos 24 minutos do segundo tempo, numa jogada pela esquerda. Vinicius Junior foi atrapalhado por uma segunda bola em campo (supostamente jogada pela torcida). 

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O brasileiro, nascido em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, reclamou e parte dos torcedores mais próximos o xingaram de “macaco”, o que já havia ocorrido anteriormente. De acordo com o técnico Carlo AncelottiVinicius Junior não queria mais continuar jogando. O jogador chamou o árbitro Ricardo De Burgos Bengoetxea para denunciar um determinado torcedor. O árbitro então conversou com jogadores e com os técnicos dos dois times, além do quarto oficial.

O sistema de som do estádio emitiu dois avisos: um de que a partida tinha sido paralisada por causa desse episódio de racismo, e o segundo de que ela só voltaria caso os xingamentos e cânticos fossem encerrados.

A paralisação durou cerca de oito minutos. O segundo tempo continuou, e por volta dos 48 minutos, começou mais uma confusão na área do Valencia. O goleiro Mamardashvili partiu para cima de Vinicius Junior (ambos receberam cartão amarelo inicialmente), e outros atletas foram envolvidos.

No meio do empurra-empurra, o atacante Hugo Duro deu um mata-leão no brasileiro, segurando-o pelo pescoço. Ao se desvencilhar, Vinicius acertou o rosto do adversário. Acalmados os ânimos, o VAR chamou Burgos Bengoetxea que reviu o lance e decidiu expulsar o brasileiro.

Após ser expulso da partida, Vinicius Junior saiu de campo aplaudindo, fazendo comentários e gesticulando “2” com as mãos (provocação em referência à briga do Valencia contra a segunda divisão). Integrantes da comissão técnica do time adversário e jogadores que estavam no banco de reservas foram tirar satisfação. O brasileiro precisou ser escoltado por colegas de Real Madrid.

Nas redes sociais, o jogador afirmou que a La Liga, a Federação de Futebol da Espanha acham o comportamento racista “normal” e que o país europeu hoje é conhecido como um país racista no Brasil.

“Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”, escreveu Vini.

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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino