OnlyFans é investigada por prática de pornografia infantil. Saiba quem está por trás da famosa rede social
Por Esther Rocha - 23/06/21 às 19:55
- Comandado por um magnata dos negócios online, o aplicativo OnlyFans é investigado no Reino Unido, por suposta veiculação de conteúdo pornográfico de crianças e adolescentes.
- Desde o início da pandemia a rede social rapidamente se transformou em um fenômeno e seus protocolos de segurança estão na mira dos órgãos regulamentadores dos serviços online.
Lançada em 2016 com a proposta de ser um espaço pago, onde criadores de conteúdo compartilham material com apelo sensual, a plataforma OnlyFans encontrou no isolamento social exigido pela pandemia um terreno fértil, para crescer e render muitos frutos. O site reúne milhares de usuários dispostos a pagar por uma foto ou vídeo de alguém pelado, seja ele famoso ou não.
Nos últimos dois anos o serviço de assinaturas explodiu de audiência e se transformou em fonte de renda graúda para exibicionistas mais ousados e desprovidos de censura.
O projeto que começou com uma versão interativa das revistas de ensaios sensuais cresceu de maneira tão vertiginosa e sem limites que acendeu uma luz de alerta, para as organizações responsáveis por zelar e proteger menores de idade da disseminação de conteúdo pornográfico e desqualificado.
Conheça os bastidores do aplicativo e entenda por que ele está na mira da justiça do Reino Unido, e de outros países.
Um império com apelo sexual
A origem de tanto dinheiro é o controverso site adulto OnlyFans, onde modelos, celebridades são pagas para fazer strip-tease online. O grande problema é que de uns tempos pra cá, investigações e reportagens indicam que entre os criadores de conteúdo da famosa rede estão adolescentes e crianças.
Atrás dos imponentes portões de segurança da casa onde vive o CEO da OnlyFans, na cidade de Bishop’s Stortford , está um “paraíso” construído por negócios pornográficos. Descrita por agentes imobiliários como uma “casa moderna e impressionante, com acabamentos de alto padrão”, a mansão reluzente possui seis quartos e oito banheiros, além de uma academia, sauna, cinema, bar de mármore e uma sala de jogos iluminada por esculturas fluorescentes de arte moderna e equipado com uma mesa de bilhar com veludo roxo (foto abaixo). Em seus jardins Tim Stokely, o manda chuvas da OnlyFans, costuma estacionar sua coleção de supercarros, entre eles um Audi R8, preto fosco de 120 mil libras esterlinas (cerca de R$ 833 mil) e um Range Rover feito sob medida por uma empresa de carros customizados, popular entre os jogadores de futebol da Premier League .
Stokely é visto regularmente posando com uma taça de champanhe, seja nas férias ou em sua casa em Birchanger, Essex (abaixo):
Stokely compartilha fotos de seus carros de luxo recém-limpos do lado de fora de sua casa em Essex (abaixo):
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Como muitos de sua geração, este homem de 37 anos, nascido no Condado de Essex, no estado norte-americano de Massachusetts, compartilha imagens de seu estilo de vida turbinado no Instagram, sempre posando com ternos elegantes e relógios de pulso caríssimos, bebendo champanhe em super iates na costa de Ibiza ou festejando nos bares, clubes e restaurantes mais exclusivos de Nova York e Londres .
Em suas redes sociais Tim Stokely se define como um “empreendedor de tecnologia que é líder de uma das plataformas de mídia social de maior e mais rápido crescimento do mundo”. O que não é explicado adequadamente em seus perfis é a natureza altamente duvidosa dos lucros gerados pela empresa.
Stokely é o CEO da OnlyFans, notória rede social que vem gerando fortunas para seus produtores de conteúdo. Tanto dinheiro não demorou a chamar atenção dos órgãos reguladores dos negócios no Reino Unido, que estão empenhados em apurar se a origem dessa receita milionária, ou parte dela, é fruto de obscenidades online. Segundo investigação publicada recentemente pela BBC, o objetivo é apurar se a plataforma também está sendo usada para hospedar vídeos pornôs de menores de idade.
O magnata gosta de compartilhar fotos de sua piscina particular em sua casa em Essex (abaixo):
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Crescimento relâmpago
A OnlyFans foi fundada como uma espécie de versão paga do Facebook ou Instagram, onde influenciadores e celebridades de todos os escalões cobram uma taxa mensal dos seguidores – geralmente entre 3,5 (R$ 24) a 15 libras (R$ 104) – para dar acesso as suas postagens pessoais.
Embora muitos desses feeds contenham filmagens inofensivas, como aulas de ginástica ou vídeos de culinária, a grande maioria dos geradores de conteúdo do OnlyFans oferece para seus assinantes uma transmissão regularmente atualizada com filmes e imagens sugestivas ou sexualmente explícitas, estilo fortemente combatidos pelos órgãos reguladores da internet.
Cada influenciador conta com uma divisão de lucros bem atraente. A OnlyFans fica com 20% de todas as receitas e repassa os 80% restantes aos criadores de conteúdo.
A plataforma se transformou em um fenômeno de crescimento quando o número de criadores aumentou de 348 mil para 1,6 milhão, de acordo com arquivos recentes da “Companies House”, órgão regulador dos negócios no Reino Unido.
Segundo dados da própria empresa, o número de usuários saltou de 13 milhões para 82 milhões de pessoas, em 187 países diferentes. Com essa quantidade de usuários a plataforma gerou uma receita de 1,7 bilhão de libras.
A empresa mãe da OnlyFans é sediada em Londres e sua razão social é Fenix International Limited. Ela conta com apenas 27 funcionários e em 2020 declarou lucro de 42 milhões de libras no ano, além de um saldo bancário 204 milhões.
Negócios obscuros
O possível lado negro da OnlyFans voltou a ser discutido na imprensa internacional, em uma reportagem da BBC que revelou como crianças foram autorizadas a vender vídeos explícitos no site. Em um texto forte e impactante, os repórteres da famosa rede de notícias relatam conversas com vários meninos e meninas, menores de idade, que usaram documentos falsos, para burlar os sistemas de verificação de idade da plataforma.
A emissora entrevistou ainda a mãe de uma garota de 17 anos chamada Leah, que usou uma carteira de motorista falsa, para abrir uma conta OnlyFans onde ela faturou 5 mil libras (cerca de R$ 34 mil) enviando vídeos explícitos, nos quais aparece usando brinquedos sexuais.
Falha de segurança
Um fato inexplicável chamou a atenção dos jornalistas: mesmo após serem informados em janeiro, deste ano, que se tratava de uma garota menor de idade, os moderadores da plataforma concluíram erroneamente que os documentos de identidade enviados eram verdadeiros e não tomaram nenhuma providência para banir o perfil. Quando a página foi finalmente fechada, no final de abril, muitos de seus 50 vídeos e imagens vazaram, para outros sites.
A BBC revelou ainda que um garoto de 17 anos do estado americano de Nevada chamado Aaron, foi persuadido a aparecer em um vídeo de sexo, com sua namorada, e que após ser postado no site lhe rendeu U$ 5 Mil (R$ 24 mil).
Os casos relatados na reportagem não param por aí. Três crianças reclamaram que imagens foram enviadas ao site sem consentimento, incluindo uma garota de 17 anos que afirmou que seu rosto foi editado no corpo de outra pessoa. Uma conselheira da instituição de caridade de proteção “Childline” conta que conversou com uma garota que criou uma conta OnlyFans aos 13 anos, como “uma maneira fácil de ganhar dinheiro”.
As investigações envolvendo esses e outros casos na OnlyFans seguem sendo acompanhadas pela reportagem da BBC. No condado de Hertfordshire, detetives buscam entender como uma menina de 14 anos conseguiu usar o passaporte e os dados bancários de sua avó, para vender imagens explícitas através do site. Na região de Gales do Sul está sendo apurado o caso de uma menina de 17 anos que durante um ano foi chantageada para postar nus na plataforma.
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“Está cada vez mais claro que a OnlyFans está sendo usado por crianças”, declarou Simon Bailey, um graduado policial britânico encarregado da proteção infantil. “A empresa não está fazendo o suficiente, para colocar em prática protocolos que evitem que as crianças explorem a oportunidade de gerar dinheiro, mas também para que as crianças não sejam exploradas”, concluiu.
As autoridades americanas compartilham da mesma opinião que a justiça britânica. Em janeiro, um casal da Flórida foi acusado de tráfico de pessoas, após supostamente lucrar com a venda de uma foto de uma criança de 16 anos de topless no OnlyFans. Enquanto isso, o Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas nos Estados Unidos disse à BBC que está lidando com uma explosão de casos de crianças desaparecidas, que aparecem em vídeos veiculados no site britânico.
Em outras palavras, crianças desaparecidas estão no site, onde podem ganhar dinheiro produzindo vídeos para os assinantes. “Em 2019, havia cerca de uma dúzia de crianças desaparecidas e vinculadas a conteúdo no OnlyFans, declarou Staca Shehan, vice-presidente do Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas nos Estados Unidos à BBC. “No ano passado, o número desses casos quase triplicou”, concluiu.
Crise de imagem
Os procedimentos de proteção do OnlyFans são tão vulneráveis, que um repórter da BBC conseguiu criar uma conta como um criador de conteúdo, menor de idade, usando a carteira de motorista de um jovem de 26 anos.
Procurada pela BBC a Bacchus, empresa de relações públicas responsável pela conta da plataforma digital, divulgou a seguinte declaração em nome da OnlyFans: “Levamos nosso dever de cuidar muito a sério. […] Estamos sempre comprometidos com a segurança e proteção de nossos usuários”. Após este comunicado, a empresa abandonou a conta da rede social.
A OnlyFans garantiu ainda que “usa sistemas e software que não apenas são compatíveis, mas vão além dos regulamentos atuais”. Um porta-voz afirmou que a reportagem procurou “sensacionalizar” e foi “extremamente provocativa”.
Mesmo negando qualquer irregularidade em seu negócio e sistemas de segurança, a OnlyFans mantem um comportamento considerado obscuro e não se preocupou em desculpar-se, com as vítimas de exploração sexual infantil identificadas no relatório. Nem Tim Stokely, nem qualquer outro membro de sua família se dirigiu às vítimas com qualquer explicação.
Enquanto isso, o governo do Reino Unido divulgou um comunicado oficial, dizendo que pretende reprimir a empresa, por meio de uma Lei de Segurança Online que será apresentada ao Parlamento nos próximos meses.
“A OnlyFans falhou em proteger as crianças de forma adequada e isso é completamente inaceitável. Nossas novas leis garantirão que isso não aconteça mais”, declarou um porta-voz da Departamento de Mídia Cultural e Esporte.
Estrelas milionárias
Se nos anos de 1980/1990 o caminho mais curto para bonitonas e bonitões faturarem um bom dinheiro, era um contrato para ser capa das revistas voltadas para o publico adulto, essa realidade mudou radicalmente com a evolução do universo .com e as facilidades geradas pelos negócios digitais.
As garotas e garotos da capa se transformaram em influenciadores digitais, donos de seus próprios narizes, capazes de tocar suas carreiras de maneira independente, sem necessidade de representantes.
Prova dessa nova realidade foi relatada em 2019, pelo The New York Times em reportagem sobre a modelo britânica Dannii Harwood, 37 anos, mais conhecida como Neath, a primeira influenciadora britânica a ganhar 1 milhão de libras, com o OnlyFans. Ela conseguiu a façanha em 18 meses de postagens, nas quais aparece em vídeos sensuais, vestindo roupa íntima ou encenando fantasias sexuais como enfermeira, dominadora entre outros personagens.
Em entrevista para o site Oxfordepi, Dannii reconhece que o isolamento social provocado pela pandemia do Covid-19 foi um fator decisivo para o sucesso do seu negócio.
Outro caso que ficou famoso na mídia internacional foi da ex-atriz infantil da Disney, Bella Thorne, de 23 anos, que revelou ter faturado 1,5 milhão de libras em menos de uma semana, após criar o seu perfil no OnlyFans. A atriz do seriado “Shake it up” (no Brasil “No Ritmo”), faz questão de ressaltar que seu feed não traz conteúdo de nudez completa.
Idealizadora do site OFuxico, em 2000 segue como CEO e Diretora de Conteúdo do site. Formada em jornalismo pela Faculdade Casper Líbero, desde os anos 1980 trabalha na área do jornalismo de entretenimento. Apaixonada por novelas, séries, reality, cinema e estilo de vida dos famosos.