Drag-queen pioneira no Brasil não resiste aos efeitos do coronavírus

Por - 04/06/20 às 08:17

Reprodução

O universo LGBTQI+ perdeu um de seus representantes mais destacados. Morreu na quarta-feira (03) Miss Biá, de 81 anos, considerada a primeira drag queen do Brasil. De acordo com sua sobrinha, Adriana do Nascimento, Miss Biá foi mais uma vítima do coronavírus. Eduardo Albarella, que dava vida à drag, estava internado há cerca de dez dias, tratando os efeitos da Covid-19

Apaixonado por teatro de revista, Eduardo Albarella começou a se travestir em 1958, quando trabalhava como office boy em São Paulo. Carmem Miranda, Gina Lollobrigida, Rita Hayworth e Marilyn Monroe eram suas inspirações. De peruca loira e a maquiagem impecável, era chamado de Hebe Camargo dos LGBTs. Ele chegou a trabalhar como maquiador da saudosa apresentadora, que morreu em 2012, em decorrência de um câncer.

Símbolo da luta, resistência e amor pela arte do transformismo/drag queen, Miss Biá ainda estava na ativa, era residente de uma boate, em São Paulo, onde apresentava a programação da noite, todos os sábados, às 3h. Uma de suas marcas era o fato de jogar pirulitos para o público. Numa época em que as drags cantavam à capela, Miss Biá ganhou fama e respeito com seus shows em boates da região da Boca do Lixo. Ele se apresentava inclusive em danceterias chiques para casais héteros.

A Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, que organiza o evento, emitiu uma nota de pesar.

"Miss, Biá, persona de Eduardo Albarella de 80 anos, começou na arte do transformismo no início da década de 60 e não parou mais. Arte, irreverência e bom humor. Estamos em luto. A saudade estará sempre presente", diz o texto.

O coletivo de artistas Distrito Drag também lamentou.

"O Distrito Drag lamenta o falecimento de um dos principais nomes da história da arte transformista no Brasil, Miss Biá, aos 80 anos nos deixou por complicações da Covid-19, na cidade de São Paulo".

Em 2018, em entrevista à revista Época, Miss Biá falou sobre a morte.

"Que Deus me mande uma morte boa, no hospital, não em casa. Porque lá eles já me dão banho, me arrumam, para ir linda, direto para o caixão."

A dor das amigas

Nas redes sociais, artistas lamentaram a morte de Miss Biá.

"Foram 35 anos de amizade! Descanse em paz, minha amiga, musa, diva, mãe, Miss Biá. O pesar que sinto neste momento é gigante; não tem dimensão até. É algo que não consigo explicar nem exprimir em gestos. A morte é algo imensamente injusto, mas não devemos desistir de encontrar uma forma de entender a lógica da vida. Desejo que seu descanso seja profundo. Sua existência nesta vida foi muito inspiradora para mim. Eu vou fazer meu luto, chorar de saudade, mas também vou recordar seu legado com um sorriso e manter seu nome vivo em qualquer instante. Até um dia!", escreveu Salete Campari.

"Adeus, Miss Biá. Sentirei sua falta. Sua alegria e seu gritinho farão muita falta. Te amo, amiga querida. Deus a tenha em excelente lugar. Pessoa linda por dentro e por fora. Ser humano da melhor qualidade. Fica um vazio no coração. Obrigado por tantos sorrisos", disse Leonora Áquila.

Silvetty Montilla postou uma foto divertida, das duas numa banheira.

"Muito triste, amigos, com essa notícia. Minha grande referência, Miss Biá, descanse em paz. Não vou mentir estou sem chão."

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