Racismo em A Fazenda: Sabrina Paiva merece respeito!

Por - 07/11/19 às 10:14

Reprodução Record TV

Falta pouco mais de um mês para 2019 chegar ao fim. Estamos às vésperas de mais uma década. São 130 anos de uma subjetiva abolição, diariamente e ininterruptamente, tendo que provar a que viemos e tendo que lutar por direitos diversos. Explicar – ou ao menos tentar – que há um grande abismo entre fato e mimimi, é necessário. O que eu sinto na pele, literalmente, e o que você avalia ou acha que seja, são questões totalmente distintas.

Pontuar um caso de racismo é até obsoleto, à medida em que, no momento em que redijo essas linhas, outros muitos casos estão acontecendo bem perto de nós. Comigo. Com os meus. Sabe aquela constatação boba e correta, "como você não gosta de determinado alimento se nunca comeu"? É por aí. Se você nunca vivenciou, não sabe o que é.

A dor que Sabrina Paiva sente, ao ser chamada de macaca, não é física. É moral. É na alma. É uma dor compartilhada por nós, irmãos, que nos unimos, mais uma vez, diante de um ato criminoso. É a mesma dor expressa em lágrimas por Ludmilla, no Prêmio Multishow. A mesma de muitos, a todo momento…

Vale, antes de mais nada, uma explicação: racismo e injúria racial diferem no direcionamento da ação. Na injúria, a ofensa é referida diretamente a um indivíduo de cor ou etnia diferente. No racismo, a ação discriminatória se aplica à todo o grupo social, como por exemplo impedir negros de acessar determinado local.

A injúria racial está definida pelo artigo 140, parágrafo 3º, do Código Penal, que estabelece a pena de 1 a 3 anos de prisão e multa. Além da ação penal, pode suscitar um processo cível a partir do qual cabe indenização. O crime de racismo está previsto na Lei n. 7.716/1989, é inafiançável e imprescritível. A pena varia entre 1 a 5 anos de prisão, de acordo com o caso.


Diferentemente do crime de racismo, a injúria racial prescreve em 8 anos.

Quebrar essa estrutura não é fácil. Mas persistimos. Resistimos. A família da modelo foi firme e determinada na busca por soluções. Bastou acionar o MP para que a Record TV se pronunciasse anunciando a identificação e demissão do autor. Basta? Não! O assunto não pode virar jornal no fundo de gaiola! O caso é judicial. Pedido de desculpas, obrigada, não é suficiente.

Vale ainda citar a atitude dos outros participantes, que se calaram, mesmo tendo escutado claramente o ocorrido. Retrato claro do racismo no Brasil. As pessoas são testemunhas oculares, mas silenciam. Temem reações, julgamentos. Não sabem como reagir. Ficam em dúvidas. Indiretamente, compactuam mesmo que não intencionalmente.

É preciso entender ainda o modo como o racismo se comporta. Quando ele não é velado, gera ainda mais questionamentos e o alvo passa a ser questionado: será que foi isso mesmo? Houve quem dissesse que Sabrina confundiu por conta do barulho da chuva… e assim o racismo se perpetua. Não, gente! Não pode!

Que essa indignação tenha efeitos práticos, punitivos e que sirva de aprendizado para muitos que ainda insistem em não entender: RACISMO É CRIME!

*Flavia Cirino é repórter de OFuxico e editora da revista Raça Brasil 

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