Edvana Carvalho se emociona e revela bastidores de Inácia. Veja!
Por Flavia Cirino - 23/03/24 às 10:01
Emoção. Não há oura palavra que defina não apenas a figura de Edvana Carvalho, mas a uma sublime atuação em Renascer. Sobretudo nos últimos dias, em que a sequência de uma conversa sobre orixás, entre Inácia e Padre Santo, ganharam as rodas de conversa fora da TV e dominaram a web.
Atriz, poetisa, apresentadora, escritora e educadora, Edvana Carvalho é Natural de Salvador. A artista de 55 anos iniciou a carreira ainda na escola, passando pelo Grupo de Teatro do SESC/SENAC, chegando à primeira formação do Bando de Teatro Olodum, grupo do qual se enche de orgulho e classifica como seu maior êxito profissional.
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“Meu melhor trabalho, fiz no Bando de Teatro Olodum, fundando um grupo de atores e atrizes negras na cidade de Salvador, onde o teatro era todo branco. Montávamos clássicos europeus, no início da década de 90, mostrando que preto também artista, faz teatro, tem cabeça política. E estamos levando a voz da nossa comunidade, porque nós somos oriundos de vários lugares”, destacou ela a OFuxico.
Licenciada em Teatro pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduada em Psicopedagogia, Edvana – em paralelo as artes cênicas – ministra aulas/palestras em escolas públicas pelo Brasil.
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Na Globo, a atriz já atuou em produções como Malhação e Pega Pega. Já no cinema, entre mais de dez filmes, se destacou em Ó Pai, Ó e Os Homens São de Marte… E É para Lá que Eu Vou.
Confira a entrevista com Edvana Carvalho
OFuxico: Não tem como deixar de exaltar a aula de religiosidade que houve na novela. Conta pra gente um pouco dos bastidores daquela linda sequência e de que forma a sua baianidade ajudou nessa composição.
Edvana Carvalho: É uma felicidade muito grande pro ator quando ele pega um texto consistente, com profundidade. Essa é uma novela que tem poucos personagens, eu acredito é exatamente que seja por conta disso para ter profundidade das personagens. Além disso, fazer um papel que já foi feito por D. Chica Xavier, é um presente do universo. É também uma preocupação e responsabilidade muito grande.
OFuxico: Como você compôs a Inácia?
Edvana Carvalho: Eu trago aminha vivência para essa Inácia. Um pouco da minha vertente de comediante, embora Inácia seja só drama. São cenas muito fortes, mas eu trago um pouco da minha comicidade porque o Bando de Teatro Olodum é uma escola que tem humor. Eu trabalho com improviso e trago toda a minha história com a vivência do Candomblé. Salvador é uma cidade onde a herança africana é muito grande também na religiosidade. Fui criada dentro desse sincretismo e trago isso para minha personagem, não é uma emoção gratuita.
OFuxico: Como tem sido a receptividade do público?
Edvana Carvalho: Eu me emociono quando eu pego a cena para ler, quando eu vou fazer a cena, vou assistir e depois eu me emociono na rua com as pessoas porque quando me encontram, elas não pedem mais uma foto, como quando eu fazia Malhação ou Ó Paí, Ó. Agora, além da foto, elas falam a emoção que sentem diante da Inácia. A personagem tem a ver com avó, a mãe, a tia delas. E choramos juntos! Seja homem, mulher ou criança.
Acho que é a primeira vez que o Brasil está se vendo na TV é de uma forma bem diversa. Não estamos apenas mostrando e sim conversando, explicando de maneira didático, mas de uma forma profunda e muito amorosa”
Assessoria para assuntos religiosos
OFuxico: Você fez algum preparo especial pra viver a Inácia?
Edvana Carvalho: Temos um excelente texto e a preparação da novela. Eu tenho uma assessoria de Candomblé, tanto quando fiz minhas cenas em Ilhéus, quanto aqui no Rio. Eu peço essa assessoria porque estamos lidando com religião das pessoas. Tanto eu como os atores que interpretam padre pastor (Chico Díaz e Breno da Matta, respectivamente). Todos nós somos muito cuidados.
Edvana Carvalho usa mesmo brinco que Chica Xavier usava em 1993
OFuxico: E como funciona isso?
Edvana Carvalho: Como é que a gente vai falar alguma coisa no texto que a gente não concorda ou que está descolando porque a gente não entende? Aí, pedimos pra mudar, a gente conversa com a direção, que está sempre aberta. Eu não quero falhar, falar uma coisa que é uma inverdade. Temos que falar pra milhões de pessoas de uma forma bem didática, respeitosa. Esse é o compromisso que todo mundo tem com a novela e é o meu também. Trago desde a minha infância.
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OFuxico: Qual a sua relação com a religião?
Edvana Carvalho: Enquanto a minha mãe me levava na umbanda, minha tia me levava na Igreja Católica. Eu e meus primos íamos ao Candomblé. Então, quando a Inácia pede um canto, geralmente eu já conheço, fica muito mais verdadeiro. Conheça batida para Iansã, desde essa época é um conhecimento de vivência. Eu não que eu fiz Santo, não sou de alguma casa específica, mas o Candomblé tá dentro de mim, desde minhas avós É herança de família. A tia da minha mãe, no Curuzu, na Liberdade, era bordadeira das roupas de Santo daquela região, na década de 40. Minha bisavó tinha Exu sentado, mas ela ia à missa.
Salve a Bahia!
OFuxico: A Bahia é ecumênica!
Edvana Carvalho: Tudo na Bahia é muito assim. A gente pode sentar, comer bolo, tomar um café e conversar da vida, se ajudar, se curar. Porque no mundo em que a gente vive, quem vai te dar a mão é o seu colega que tá do lado, é o seu vizinho de porta. Essas pessoas podem ter pensamento político diferente do seu, uma fé diferente da sua. Mas nós somos seres humanos e temos uma casa, só que é o planeta Terra. Não dá para brigar com alguém ir para Marte, entendeu?
Inácia realmente traz uma mensagem de amor. Eu sou uma contadora de histórias e esse o trabalho através do qual estou sendo vista pelo Brasil, tendo reconhecimento maior
OFuxico: Temos hoje na TV aberta uma história que fala de das religiões de matriz africana sem estereótipos…
Edvana Carvalho: A gente vai evoluindo, com educação, convivência. Quem escreve também vai evoluindo, assim como quem dirige, quem monta e chama o elenco. E aí percebemos uma novela como essa, em 2024, que tem uma família preto-indígena.
Edvana Carvalho: Esse é o início do nosso país, porque quando os africanos chegaram aqui aqueles que não aceitaram aquela vida de escravização e fugiram pra mata, foram recebidos pelos povos originários. E dali se formou o início da família brasileira, já que, até então, os brancos estupravam as escravizadas, mas ainda não se misturavam. Temos que celebrar a diversidade em todos os seus sentidos. Por isso Deus nos fez diversos para a gente mostrar para o resto do mundo que dá!
É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino