Alan Frank volta à vida: ‘Ganhei uma chance após ver a morte’
Por Redação - 20/06/20 às 10:00
"Um milagre". É o que disse Alan Frank a OFuxico. Ainda internado, em plena recuperação de uma covid-19 grave, o ex-polegar atendeu nossa reportagem por telefone e revelou que apenas 20% da sua área pulmonar não foi atingida pela doença.
"Nesta sexta-feira (19), meu pneumologista me mostrou a tomografia que fiz e revelou que tive 80% da área pulmonar comprometida. Que foi muito mais grave do que eu pensava e é um milagre eu estar vivo, me recuperando em tão pouco tempo".
Alan, hoje médico oftalmologista, revelou como foram os primeiros sintomas da doença.
“Os primeiros sintomas começaram numa segunda-feira, dia 25 de maio, no final da tarde. Trabalhei normalmente o dia todo, e no final do dia senti dor garganta, tosse leve e dor no corpo semelhante à uma gripe. No dia seguinte, por precaução, não fui atender. Estive no hospital Albert Einstein, onde faço parte do corpo clínico, colhi exames necessários, eles estão oferecendo a todos os médicos exames de PCR RT. Os meus deram positivos para a covid-19”.
O tratamento então começou com isolamento e medicações em casa.
“Passei com meu pneumologista, Dr Marcelo Hisato Kuwakino, que me pediu repouso domiciliar. Tomei as medicações indicadas. Fiz tratamento corretamente, não adiantou, tive uma piora importante e controlava a oxigenação com um oxímetro em casa. Fui piorando, a saturação foi caindo e no domingo seguinte fui internado na UTI”.
Na UTI do Albert Einstein, Alan ainda teve uma piora de saúde, precisando se entubado.
“Iniciamos um tratamento com medicamentos, fisioterapia respiratória… No começo, achei que ia melhorar, mas tive piora muito grande de falta de ar. Meus exames pioraram, todos os indicadores pioraram. Meu médico veio e me trouxe um documento de consentimento informado, para receber o plasma de convalescente, que é experimental e precisa de consentimento. Não há comprovação científica com números suficiente de pacientes que comprovem a eficácia do plasma. Ou era isso ou eu ia morrer. Eu recebi o plasma e acho que isso foi um divisor de águas no meu tratamento. Mesmo assim, fui transferido dia 3 (junho) pra UTI e precisei ser entubado.”
Na cabeça do médico, pensamentos sobre os filhos e até a possibilidade de não voltar à vida.
“Pensava nos meus filhos, principalmente nos meus gêmeos caçulas. Tenho dois filhos mais velhos, do meu casamento anterior, o Renan (23) e Natan (20) e os caçulinhas gêmeos do meu atual casamento com a Fernanda Soglia, que estão com 7 anos, o Luca e o Luigi. Pensava muito nos pequenininhos: ‘se morrer, se acontecer isso, como será crescer sem ter referencial de pai, de passar referencial ético, moral’. Sofria e pensava muito neles… Cheguei pensar até no Gugu na hora, se ia encontrar com ele tão precocemente. Tenho muita saudade do meu amigo, mas pensava que não queria ir ao encontro dele agora, que não estava na hora. Passou tudo isso na cabeça em fração de segundos. Tive muito medo da morte. Fui entubado. Uma semana depois acordei e o mundo era diferente”.
A família de Alan foi toda contaminada, mas a esposa e os filhos tiveram a doença em estágio mais leve.
“Em casa foram contaminados eu, minha esposa e meus filhos gêmeos de 7 anos, que praticamente só tiveram umas manchinhas avermelhadas na pele, minha esposa sentiu muitas dores no corpo e um pouco de tosse. Por isso, fizeram o tratamento domiciliar mas eu estava com a doença num estágio mais grave e precisei ficar internado."
Sobre como se contagiou com a doença, Alan realmente não consegue entender, há que, além de manter uma higiene impecável por ser médico e lidar com as pessoas, ele havia redobrado os cuidados.
“Sinceramente, não tenho ideia de como fui contaminado. Trabalho com a maior cautela e me confesso exagerado. Atendia de jaleco, máscara N95, jaleco, luvas, tudo e mais um pouco pra me proteger e proteger quem tivesse contato comigo. Sempre que tocava um paciente, trocava as luvas para não encostar e contaminar os aparelhos, limpava e higienizava tudo com o maior cuidado. Quando saia, colocava meu jaleco na sacola e em seguida no porta malas do meu carro, chegava em casa, entrava pela porta de serviço, tirava toda a roupa ali e colocava pra lavar, ia direto para o banho, depois me esterilizava com álcool, limpava meu óculos, meu celular, em tudo que tinha contato. Mesmo com tudo isso, acabei me contaminando com o coronavírus.”
Ao voltar à vida, após estes dias entubado, Alan Frank afirmou que chorava muito e que via tudo absolutamente diferente.
“Parece que estou num filme louco. Eu tinha TV no quarto da UTI, mas eu não queria ver, só chorava. Uma parte pela depressão, medicamentos, outra parte pela situação. Foi difícil, muito difícil, porque eu não colocava pé no chão, sem forças, dependia de gente pra escovar dentes, tomar banho com paninho no próprio leito. Até pra engolir um suco, uma papinha, dependia de profissionais, pois se eu engolisse errado poderia ser aspirado e o líquido ir para o pulmão.”
Mais dias internados e a observação da vida e de anjos que cuidavam dele.
“Fiquei ainda mais uma semana e comecei observar o trabalho lindo dos funcionários que se dedicaram dia e noite. Comecei a chamá-los de anjos, esses profissionais desde os mais humildes e simples, como os da limpeza, que tiravam todo detrito, toda e qualquer possível sujeirinha, com alegria e o maior carinho em cuidar das pessoas internadas. Os enfermeiros, dentistas, médicos, fonoaudiólogos, enfim, se hoje estou vivo devo a todos esses profissionais, que tiveram minha vida nas mãos deles. Eles me trouxeram de volta.
Alan se emocionou ao comentar sobre as orações recebidas e um telefonema muito especial e inesperado: o de dona Maria do Céu, mãe do apresentador Gugu Liberato (morto após um acidente doméstico em sua casa, em Orlando, no mês de novembro passado), que foi o responsável pelo lançamento do grupo Polegar, do qual Alan fazia parte ao lado de Alex Gill, Ricardo Costa, Rafael Ilha e Marcelo Souza, além de amigo pessoal de Alan.
“Dona Maria do Céu foi extremamente carinhosa e especial. Ela me disse que está orando por mim, que ficarei bom. Imaginam uma senhora com a idade dela, e que ainda, certamente, sente a dor por causa da morte do filho, o meu amigo Gugu, e usou um pouco do seu tempo para me ligar e dizer que reza pra que eu saia logo e bem dessa. Não sei dizer o quanto fiquei emocionado, de verdade. Se estou vivo, além dos profissionais que me cuidaram, há também essas pessoas que gostam de mim e torcem por mim, que rezam. Sabe, independente da religião, muitas pessoas oraram por mim. Deus é grande e pessoas de diversas igrejas, independente da religião de cada um, tornou tudo muito importante. E os profissionais, volto a dizer, os mais humildes, precisam ser lembrados também, porque estão ali, na linha de frente, cuidando dos pacientes infectados, deixando suas famílias pra tomar conta de nós.”
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Reaprendendo a viver
Alan Frank segue internado, sem previsão de alta.
“Estou me restabelecendo, melhorado muito. Aliás, foi tudo muito meteórico. Com 80% do pulmão tomado, eu nem estaria aqui falando com você neste momento. A chance de viver era mínima. Depois que fui estubado fiquei uma semana na UTI, dois ou três dias na semi-intensiva e agora estou no quarto. Estou na fase de reabilitação, recuperando forma respiratória, a fala, fazendo exercícios vocais, esperando melhorar meus indicadores nos exames para aí sim ter alta.
Tratamento com plasma
“O tratamento com plasma foi um divisor de águas. Estou falando isso como paciente, não como médico, porque não é minha especialidade. Sou oftalmo, nem tenho autorização pra falar sobre esse tratamento, mas ele tem ajudado muita gente, ouço relatos de sucesso, de que faz muita diferença. Então me voluntariei para doar plasma de convalescente e ajudar a quem for preciso também”.
OFuxico – Como funciona isso, essa doação do plasma e a utilização?
“É assim: pacientes que tiveram a covid-19, que estão curados e desenvolveram imunidade, desenvolvem anticorpos, então você doa plasma: tira sangue, do sangue separa-se o plasma, que é doado junto com anticorpos para pacientes. Pode ajudar tanto na descoberta de tratamento da doença, quanto no tratamento de outros pacientes também. Achei importante ter recebido e tanto eu quanto minha esposa doaremos plasma para ajudar da melhor maneira que pudermos.”
Questionado por OFuxico sobre as possíveis sequelas que ficaram, Alan revelou:
“Ah, sim, eu desenvolvi uma pancreatite medicamentosa por conta provavelmente da quantidade imensa de medicamentos tive que receber. Mas isso também tem melhorado de um modo bem veloz e até os médicos estão surpresos. Uma das coisas que fazem parte dessa recuperação é a hidratação, então, isso depende de mim, claro. Preciso ingerir ao menos uns três litros de água por dia, mas como sou exagerado, tomo até uns quatro litros e meio. Tem também essa parte respiratória, que preciso exercitar, porque ficou mais fraca pra qualquer esforço mínimo que eu faça. Andar, também tive que reaprender, porque os movimentos enfraqueceram com a doença.”
Alan Frank terminou a conversa deixando um recado aos leitores de OFuxico e a todos que ainda acham que a covid-19 pode ser uma doença qualquer e que não oferece riscos à vida.
“Aos leitores do site OFuxico e a quem puder alcançar esta matéria, digo que a covid-19 é grave. Vejam que está pegando pessoas de todas as idades, não existe apenas uma faixa etária que está sujeita a ela. Jovens, crianças, quem tem boa saúde, enfim, todos estão aí e ela pode chegar, alguns de forma leve, outros de forma tão grave quanto eu. Cheguei perto, muito perto da morte, a doença veio de uma maneira violentíssima. E ela te afasta da família, dos amigos, pode te tirar a vida. Eu hoje sei que ela pega quem está saudável, pega quem toma vitaminas como eu. Não entrem em papo furado. Acreditem, todo mundo tem que se cuidar. Vejo amigos fazendo churrasco, passeando de barco, fazendo festa e me entristeço muito, porque as pessoas não se conscientizaram de quão grave e fatal é esta doença. Eu vi a morte de perto e tive mais uma chance de viver”.
Em um vídeo publicado neste sábado (20), Dr. Alan fala, mais uma vez, sobre não banalizar a covid-19. Confira!
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