Quem tem medo de Maria Zilda?

Por - 16/07/20 às 14:55

Divulgação/TV Globo

De qual personagem de Maria Zilda você lembra? Atualmente ela pode ser vista na reprise de Êta Mundo Bom, que está sendo exibida na Globo na faixa das 18h, neste período de pandemia. Mas, se você não teve a oportunidade de ver, ou sequer lembrava, certamente já ouviu ou soube por alguém que são delas as lives mais polêmicas e reveladoras dos bastidores da TV brasileira.

A atriz carioca de 66 anos tem conversado com seus colegas de profissão, de diferentes épocas, e não passa um dia sem arrancar deles curiosidades inéditas e, mais do que isso, revelar assuntos inimagináveis. Foi assim inclusive, que na transmissão ao vivo com Elizângela, uma das que mais repercutiu, que Zilda falou sobre sua suposta doença, anunciada em alguns meios de Comunicação.

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"Tô ficando louca! Vocês podem dizer que estou muito doente, passando fome em casa, então eu posso tudo! Saiu num programa de fofoca, nem sei o nome, não vejo televisão, 'Maria Zilda, maravilhosa – passaram fotos lindas, minhas – pois é, mas ela está muito doente, com doença degenerativa, perdeu a visão!' Como uma cega decide fazer live na vida?", indagou.

E prosseguiu contando o que falaram, equivocadamente, sobre ela.

"'Ela mora numa casa muito grande, não tem ninguém pra ajudar e ela não sabe cozinhar'. Eu virei uma pobre coitada. Por favor, alguém me dá um pouquinho de comida, uma migalha que seja!", debochou.

Não seria exagero dizer, dadas devidas proporções, que o sucesso que a atriz já fez na TV, caminha para a web. Em seu perfil no Instagram, com apenas 22,2 mil seguidores, Maria Zilda Bethlem tem feito tanto ou mais barulho que influenciadores de milhões. Suas sacadas instantâneas, o jeito despojado, descontraído e sem amarras, está conquistando o público.

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Mas, e os colegas? Há de ter coragem e disposição para participar de uma live com ela. Afinal, não é qualquer um que tem jogo de cintura para segurar "entregação" alheia, como o momento em que ela falou da sexualidade de um colega de trabalho, na conversa animada com Elizângela.

Pelo quase divã revelador, já passaram, além de Elizângela, Rosamaria Murtinho, Cininha de Paula, Marcos Pasquim, Nelson Freitas, Mateus Solano, Lucélia Santos, Patricya Travassos, Sandra Pêra, Marco Pigossi e Claudia Mauro. Parafraseando o título da peça estrelada por Ney Latorraca (que está na losta de pretensões para a sabatina), nos bastidores já rola uma espécie de "Quem em medo de Maria Zilda Bethlem?".

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Elizângela

As duas já atuaram juntas e deram boas gargalhadas lembrando de papos de bastidores da época de Jogo da Vida, exibida em 1976. Maria Zilda disse que a personagem da colega "pegou o marido dela". E o papo engrenou.

"Você fazia a Mariucha, ordinária, traiçoeira e vulgar".

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"Não fala assim dela não, tadinha, era uma moça perdida", defendeu Elizângela.

"Você quer que eu fale o quem que era uma pobre coitada? E eu que moro sozinha aqui nessa casa, sem ninguém pra me ajudar? Você aparecia lá em casa pedindo pra ficar lá e eu dizia pro personagem do Paulo Gracindo, que não lembro o nome, 'poxa, meu amor, a gente vai ter neném, deixa ela ficar aqui que depois ela ajuda a tomar conta'. Você vai ficando, ficando", recordou Maria.  

"Você sabe por que, né? Na cidade dela do interior, ele já tinha passado ela na cara e depois você descobriu. Ela era garota do interior ele, com a lábia, papou"

"Sim, na novela Jogo da vida você pegava meu marido, sua ordinária! Quem você pega por aí fora, não quero saber. Mas pegava meu marido", disse Zilda, à época estava grávida e casada com Roberto Thalma.  

"Mas aí, nesse departamento eu sou mineirinha, mineiro como quieto, prefiro não expor ninguém. Em A Lua Me Disse, eu gostava de pegar os garotos. Eu pegava o Pauliinho Vilhena.", disfarçou Elizângela.

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Elas lembraram que, muitas vezes, nas tramas, não se encontravam, apenas nas festas.

"Ah, festa, casamento e enterro, todo mundo se cruza. A gente vai ter que arrumar um texto de duas mulheres pra fazer online", sugeriu a anfitriã.

Maria Zilda e Elisângela

 

Cininha de Paula

Com formação em Medicina, Cininha de Paula foi questionada sobre o motivo de ter se dedicado às artes. E nessa as duas não pouparam críticas ao governo.

"Tem um povo que era metido e enveredou por isso, Eu, Zezé Polessa, Wolf Maya. De médico, poeta e louco, todo mundo teve um pouco. Acho que a Medicina foi meu eixo de equilíbrio e me botaram na real. O Miguel Falabela que diz: 'para de receitar, você já não exerce há muitos anos. Parei e passei só a indicar colegas. Tenho medo", disse Cininha.

"Você receitaria essa hidroxiclororquina?", indagou a anfitriã, citando o remédio contraindicado pelas autoridades de saúde ao combate à Covid-19, mas defendido pelo presidente da república.

"Claro que não, cheio de feito colateral. Queria que ele tomasse muito pra ver se a arritmia dele dispara. Eu não quero mal a ninguém nesse mundo, mas gente ruim não morre", disse a diretora de TV.

"Eu queria que ele dessa uma passadinha no hospital, não queria que ele ficasse só com um resfriadinho, não. Se ficar com um resfriadinho só, nós estamos f.", devolveu Maria Zilda.

"Já estamos, né? Eu acho que se ele tomar uma dose boa de hidroxiclororquina, quem sabe tem uma arritmia cerebral e organiza um pouco os neurônios… Eu não falo nem o nome dele porque acho que não dá sorte. Senão a internet trava", brincou Cininha.

Maria Zilda e Cininha de Paula

Dedina Bernadelli

Dedina não atuava ainda, mas ouviu de Zilda um ahistória de bastidor da época de Água Viva, novela exibida na Globo em 1980. Ela recordou a participação do cantor jamaicano Jimmy Cliff, na trama.

"Quem dirigia era o Roberto Thalma e o Paulo Ubiratan. A personagem da Tônia Carrero dava festas maravilhosas. E eles tiveram a ideia de chamar o Jimmy Cliff. Aí ele mandou o empresário dizer que só viria se eles pudessem fumar maconha, porque eles não viviam sem. Lá foram o Paulo e o Thalma falar com o Boni: 'Estamos com problema. Arrumamos a verba, mas ele só vem se puder fumar maconha. Como vai fazer pra fumar no estúdio?' Boni disse: 'vocês colocam uma tapadeira e mandam eles ficarem atrás, fumando'. Só que a maluca aqui pensou: não vou perder a oportunidade de conversar com o Jimmy Cliff. Eu fazia uma personagem de pouca importância e, pra sair de fininho, fui atrás da tapadeira e falei 'Hi'.

Para surpresa da atriz, ele ofereceu um trago.

"Ele pegou o baseado e disse: 'é seu'. 'Não posso, só quero dar um tapinha no seu'. Ele disse: 'não, lá cada um fuma o seu. A gente não fuma o mesmo. Você fuma esse e depois guarda'. Peguei o baseado e, pra não bancar a brasileira careta, acendi. Menina… aquela maconha deles da Jamaica, pensa. Voltei pra cena e cai dura. A Tônia perguntando o que houve, a pressão ficou louca, foi a zero. Foi um corre, toma café, toma água, whisky…"

Lucélia Santos

No bate-papo, as atrizes falaram bastante sobre direitos autorais. E revelaram que as reprises de novelas nem sempre são remuneradas, como se pensa. Tudo começou quando um internauta pediu que Lucélia Santos falasse sobre a novela Vereda Tropical, de 1984, na qual atuaram juntas.

"Nós éramos mega inimigas e disputávamos o Mário Gomes. Foi tão linda aquela novela, deviam reprisar, já que agora vai ter um monte de reprises. Acho que vai passar no Globoplay!"

"Ah, mas no Globoplay não serve, eles não pagam a gente", alertou Maria Zilda.

"Ah, minha filha, não pagam nada, nunca! Abafa o caso!", disse Lucélia. 

"Eu não abafo nada! Porque quando é reprisada na própria Globo, como é Êta Mundo Bom, agora, como foi Por Amor antes, eles pagam e aí você tem pela lei, direitos."

"E a Globoplay não é da Globo? A Guerra dos Sexos vai ser reprisada na Globoplay", insistiu Lucélia.

"É, mas eles dizem que foi vendido, eles têm lá umas leis que inventam, igual o Viva. Você sabe quanto eu ganhei pela reprise de Selva de Pedra? Toda a novela? R$ 237."

"Você sabe quanto eu ganhei por Água Viva, que passou há dois anos? Zero. Isso aí é uma questão para o Brasil depois do Covid", destacou Lucélia Santos.

Um internauta, então, comentou que a Globoplay paga sim, pelos direitos autorais.

"A classe está lutando pelos direitos há anos. Alguem disse aqui que a Globoplay paga. Onde? Você é advogado? Manda pra gente por mensagem. A gente não recebe nada, que esculhambação é essa? Se não fosse a gente, não tinha novela", afirmou Zilda.

"Com essa coisa de internet vai mudar muito essa questão de direito autoral", chamou à atenção Lucélia

Maria Zilda citou, então, que o contrato com a TV Globo tem vários melindres.  E afirmou que a visão atual de plataformas de streaming já era algo vislumbrado há anos.

"Nós atores, quando começamos a trabalhar, a fazer contrato com a TV Globo, que era única emissora na época, a gente não podia imaginar que o mundo ia caminhar pra essa coisa de streaming e eles sacaram. Então os contratos que a gente assina agora são leoninos, você cede a eles, primeiro porque, pela lei, é proibido ceder os direitos. Seus direitos autorais são seus e você não pode ceder. Mas no contrato com a TV Globo você cede sobre aquela obra na TV Globo, nos veículos ligados à TV Globo, nas vendas pro exterior, e a outros veículos que vierem a aparecer. Eles já previam. No futuro, se passar em Marte a novela, você não tem direito."

Lucélia enfatizou que tem tanto tempo de estrada que a legislação sequer existia, quando despontou.

"Eu sou da época em que a gente podia ir ao restaurante. Escrava Isaura (novela que a alçou ao estrelato, em 1976), é anterior à regulamentação à profissão de artista no Brasil. A minha história é, literalmente, do arco da velha. Portanto, todos os direitos são reais. Eles não eram reais, regulamentados. Tudo é discutível. Tem que se discutir isso um dia."

"Portugal, por exemplo, recolhe direitos de qualquer novela brasileira que passe em Portugal, eles recolhem e guardam lá porque se você se registrar, eles pagam seu dinheiro. Aqui, não", pontuou Maria Zilda.

A pergunta que os internautas mais fizeram foi o motivo que fez Lucélia sumir da TV, mais especificamente, da Globo.

"Ah, querida, pergunta pra Globo, não pra mim. Eu tô aqui, eu não recebi mais convite, problemas lá deles. Não tenho nada contra a Globo. Só quem tem hoje em dia é o Bolsonaro. Teve um momento da minha carreira em que eu fiquei muito poderosa, com sucesso internacional. A Globo ficou, acho, sem saber como lidar comigo e sem saber como lidar com isso. A mentira que eles encontraram foi me minimizar, me boicotando, não me dando papeis".

"Fizeram a mesma coisa comigo", disse Zilda.

"Existe uma energia muito ruim que é a da inveja e quando uma pessoa como meu chama muito a atenção faz personagens maravilhosos no cinema, no teatro e na TV, fica muito famosa, muito badalada, muito conhecida no mundo inteiro e eu comecei a viajar, aquilo começou a gerar tanta inveja… o problema comigo foi maledicência. As pessoas começam a falar mal do outro sem saber o que e porque estão falando. É isso que eu acho.  Sou a maior vítima do fake News. Tudo o que falaram sobre mim é mentira, é invenção, quiseram me diminuir, tirar de mim a importância, a visibilidade, tirar de mim meu brilho", desabafou Lucélia Santos, que não atua em novela, no Brasil, desde 2006, quando fez Cidadão Brasileiro, na Record.

As duas lembraram ainda da época em que Maria Zilda era "pegadora".

"Sempre fomos amigas, eu tava chegando de Santo André, foi montado um circo em Botafogo (bairro da Zona Sul carioca), na rua Mena Barreto, onde a gente encenou (a peça) Godspel com um elenco incrível. Metade do elenco era paulistano e metade carioca e nessa época a Zilda era muito amiga do Wolf Maya, a gente ficava na Resedá, que era uma comunidade onde morava Wolf Maya, Zezé Motta, Marco Nanini,, Maria Zilda não saia de lá, safadinha, pegava todo mundo. Era uma época tão incrível, de muita liberdade

"A gente vivia numa ditadura militar mas a gente tinha uma liberdade incrível", afirmou Zilda.

MAria Zilda e Lucélia Santos

Marco Pigossi

Parceiros de cena (memoráveis cenas, diga-se de passagem) na novela Caras e Bocas, exibida em , Maria Zilda e Marco Pigossi se divertiram muito lembrando de várias situações. Inclusive a que os aproximou mais.

"Eu tinha vasinhos capilares na perna e o médico disse que, se eu quisesse, a gente tirava em três dias estava boa. Faria numa sexta e pediria a produção pra me dar a segunda-feira. Cai na conversa, fiz a cirurgia. A produtora, não foi de propósito, me botou na terça pra uma cena  na qual eu dançava feito louca, com um salto alto, em cima da mesa. Quando li a cena… doía muito, eu estava com aquela meia de compressão, não tinha muito equilíbrio. Subi e Pigossi estava do meu lado. Falei: 'segura na minha mão e não larga nem que venha o diretor geral aqui'. Nunca vou esquecer o medo que sentia, agarrada me você", disse, cheia de ternura.

"Eu só lembro que eu ria nem lembro se podia rir na cena, mas eu não estava me aguentando."

Eles formaram uma parceria que rendia muita risada. Era a estreia de Pigossi, com o personagem que ficou marcado pelo bordão 'rosa chiclete'. Até que Klebber Toledo chegou à história.

"Você lembra que colocaram outro bofe escândalo, que o Klebber Toledo interpretou? Você chegou pra mim, no corredor, arrasada e disse: 'eles querem me dar outro bofe escândalo e eu não quero! Vão me tirar você e eu não quero."

Por não assistir novelas, Maria Zilda acabou esquecendo da figura de Toledo. E foi surpreendida.

"Colocaram o menino lá, que agora é gala. Nunca mais encontrei com ele. Não vejo novela, não é um gênero que eu goste, aprecie, nem no tempo que eu fazia, uma atrás da outra, nem tinha tempo de ver. E nunca mais vi o Klebber. Ele era magrinho, de repente bombou, ficou forte, bonito. Ele era meio breguinha naquela época

"Não pode falar essas coisas!", alertou Pigossi.

"Pode! Ele era breguinha e ficou gato! Ele mudou muito e anos depois, estava na casa de amigos que estavam vendo novela e vi aquele menino lourinho, lindo, forte, bombado, e perguntei, nossa, quem é esse ator?".

OS dois ainda riram bastante lembrando que na trama de Walcyr Carrasco, era proibido colocar cacos no texto. E eles tinham que se controlar.

"Walcyr é assim, se você botar um caco ele bota você com uma dor de garganta que você não fala uma semana. Toda reunião de elenco ele fala: 'perguntem como eu faço com a Elizabeth Savala?, Ele dá esse exemplo sempre. A gente tinha vontade de falar as coisas, a gente adorava botar umas palhaçadas", recordou Maria Zilda.

"Tinha dia que a gente gravava 30 cenas no dia e ficava biruta, era divertido", endossou o ator.

Maria Zilda e Marcos Pigossi

Patrycya Tavassos

Maria Zilda recordou o perrengue que passava quando tinha cenas com Tarcísio Meira, em Guerra dos Sexos.

"Quando tinha diálogo dele comigo, ele pedia: 'por favor, primeiro faz o meu lado?' Claro, quem vai contrariar? Eu dava tudo de mim, chorava e o Tarcisío falava o texto dele. Ok, vamos fazer o lado da Maria Zilda. Toma café, troca câmera, arruma a luz. Na hora de gravar, cadê o Tarcisio? Foi embora! Foi aí que Robeto Thalma me deu uma das grandes inúmera lições: 'você não precisa do Tarcísio Meira. Pense numa porta, imagine o que você quiser dessa porta e fala o texto, imagine a cara de alguém que você quisesse dizer esse texto. Vai na sua memória afetiva e faz seu texto. Botava uma tapadeira e fazia com a tapadeira, aos prantos, dando tudo de si".

Rosamaria Murtinho

No papo com Rosamaria Murtinho, ao recordar de Vereda Tropical, Maria Zilda acabou descobrindo a morte de uma colega de elenco, que ela achava que estava apenas sumida.

"Eu fazia uma dupla com a minha empregada, que era a Marina Miranda. A gente fica pobre e eu volto a morar na Vila. Era Vila Paraiso?", indagou.

"Na vereda? Onde tinha aquela atriz de São Paulo que depois eu nunca mais soube dela?", situou Zilda.

"A Georgia Gomide morreu, coitada, que Deus a tenha", revelou Rosamaria.

"Ah, mentira!", lamentou.

Maria Zilda e Rosamaria Murtinho

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