Taylor Swift: Qual o saldo da primeira fase da turnê no Brasil? Quem assume a culpa do caos?
Por Flavia Cirino - 23/11/23 às 08:00 - Última Atualização: 22 novembro 2023
Os fãs esperaram 11 anos para ter a volta de Taylor Swift ao Brasil, em sua primeira turnê por aqui. Na primeira vinda, em 2012, a loirinha se limitou a divulgar seu álbum “Red”, participou de alguns programas e realizou um pocket show, uma apresentação pequena e fechada. Não por acaso, as atenções para essa vinda, de agora, foram irrestritas.
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Todos já sabemos o bololô que deu e continua dando… tanto que na noite de terça-feira, 21 de novembro, durante o jogo de Brasil e Argentina, pelas eliminatórias da Copa, a rivalidade clássica entrou para a lista de B.O.s da cantora norte americana.
Na transmissão da Globo, o narrador Luís Roberto, que se tornou o número 1 da Globo após a saída de Galvão Bueno, citou o caso das mortes de fãs da cantora e desorganização na segurança do evento em comparação ao ocorrido no jogo. Nas arquibancadas, torcedores saíram na mão, numa confusão generalizada e quase incontrolável.
“Temos uma vocação lamentável no Brasil de só tomar providências depois dos fatos ocorridos, como rolou no [jogo entre] Fluminense e Boca Juniors [pela final da Libertadores] ou no show da Taylor Swift no Estádio Nilton Santos. Só no último dia que a situação se controlou e foi funcionando como se deve”, avaliou. “Temos que tomar as medidas preventivas para que fatos [como estes] não ocorram”, acrescentou tendo a concordância dos colegas Caio Ribeiro e Júnior.
Um erro evitável, tal qual os muitos ocorridos nas apresentações da artista. Enquanto no caso da partida a organização do Maracanã já havia tido problemas com a disponibilização dos ingressos e não teve a sensibilidade de deixar as torcidas separadas, o que evitaria quaisquer transtornos a mais, no Engenhão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, onde aconteceram “todos os problemas do mundo”.
Muitos citaram a falta de organização: “Que organização lixo. Misturaram torcedores sem policiamento adequado. Vergonha mundial. Depois da Taylor Swift, mais essa agora.”
É claro que os torcedores deveriam saber se conter, tendo ou não arquibancada mista. Mas os fãs de Taylor têm culpa das condições climáticas? Têm que arcar com as consequências de não haver locais definidos nos estádios, como acontece em shows internacionais?
Produtora do show x poder público: qual a responsabilidade de cada um?
A turnê de Taylor Swift foi cercada de “donos”. Havia a gestora máster, que era a produtora responsável “pelo todo”; a produção da artista; uma produtora subcontratada no Rio de Janeiro; empresa vendedora dos ingressos e a empresa gestora do estádio onde ocorreu o show. Isso sem citar agentes que participaram de algum modo para que o evento pudesse ocorrer e lucraram com isso.
Qual deles assumiu o B.O,? Nenhum. Quem se pronunciou? Abertamente, apenas o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Elefoi quem “botou a cara” pra anunciar o cancelamento do segundo show da artista na cidade, uma decisão tomada por ela, horas depois de os fãs torrarem sob o sol, mesmo após a morte de uma fã, em virtude do calor, no dia anterior.
Mas vamos voltar um pouco na cronologia e pontuar as falhas: a maior delas a falta de distribuição gratuita de água para o público, uma prática em alguns eventos da cidade (e de outras pelo país), como o Carnaval.
Quem deve cuidar disso? O poder público. OFuxico ouviu um grande empresário da indústria do entretenimento e, por motivos óbvios, eles preferiram não se identificar.
Um deles pontuou que faltou atitude: “No primeiro momento e que se constatou o caos diante do forte calor, qualquer autoridade poderia providenciar a liberação para que a Cedae (empresa distribuidora de água no Rio de Janeiro) colocasse água à disposição. Foi uma situação emergencial, não foi vaidade ou disputa política. Todos sabemos que em qualquer circunstância, quem quer, faz”, pontuou.
Outo profissional do show business ressaltou que tanto a produtora responsável quanto o poder público erraram, principalmente por falta de comunicação.
“O poder público precisa estar envolvido com exigências como bebedouros. Da mesma que os bombeiros, para dar o alvará de liberação de um local, exigem um número x de extintores de incêndios, tem que ter a exigência de bebedouros”, ressaltou.
Um terceiro produtor de shows, com experiência em turnês internacionais, chamou atenção para a nova realidade que o Brasil e o mundo enfrentam: “Estamos numa nova era onde as questões climáticas precisam ser vistas, Antigamente se pensava em força maior, problemas de mal tempo com tempestades, chuvas, hoje é o contrário”, disse.
2023 já é considerado o ano mais quente da história e não será diferente com o frio, será um dos anos mais frios de todos os tempos. Quem está assumindo responsabilidades de organizar grandes eventos tem que estar preparado pra isso.
Quais os direitos do consumidor nessa bagunça toda?
De acordo com a advogada e consultora jurídica, Dra. Lorrana Gomes, do escritório L Gomes Advogados, pode configurar venda casada e falta de cumprimento de obrigação para com a saúde e segurança do consumidor.
Vale ressaltar que no primeiro dia de show de Swift, com temperaturas altíssimas, não era permitida a entrada de garrafas d’agua no estádio do Engenhão.
Diante da desorganização da fila na área externa; da falta de fornecimento de água de forma gratuita na área interna; o elevado e desproporcional valor da água vendida; o cancelamento do show com consequências em novos custos de alimentação, hospedagem, translado, passagens rodoviárias ou aéreas; para qualquer dano moral ou materiais, cabe reparo.
Para isso é preciso acionar o Juizado Especial Cível mais próximo. Para ressarcimento até 20 salários mínimos não é necessária a contratação de advogado, basta apresentar todas as provas de gastos e danos.
No sistema dos Juizados, em primeiro grau, não há a cobrança de custas judiciais, bem como não há a condenação em ônus.
Vale ressaltar ainda que o calor extremo já era previsto e divulgado pelas autoridades. Teria sido possível amenizá-lo com o fornecimento de água potável a todos os consumidores de forma gratuita, além de cortinas de água umidificantes no espaço interno do estádio.
Ao longo do primeiro show, relatos extraoficiais sugerira que cerca de mil pessoas desmaiaram, levantando preocupações entre os fãs sobre a proibição de levar garrafas d’água para o estádio, apesar das condições extremamente quentes.
E cadê a Taylor?
A morte de uma jovem em decorrência do calor gerou comoção total. Taylor escreveu um lamento á próprio punho e postou na web, A organização também lamentou
No segundo show, apenas incluiu no setlist a canção “Bigger Than the Whole Sky”, cuja letra fala de luto e perda. Nada além. A loirinha manteve o ritmo normal nos outros shows normalmente, sem nenhuma citação à fã falecida.
Especulou-se que ela faria contato com a família. Nada. E foi embora. Quando Michael Jackson veio ao Brasil, visitou uma fábrica de brinquedos e na saída, o motorista do carro que levava o saudoso Rei do Pop machucou uma criança.
No dia seguinte, a produtora responsável pela turnê do artista levou o astro ao hospital para visitar o menino. Não que isso apagasse o ocorrido, mas foi uma explicita prova de “satisfação” e afeto. Sobretudo, de respeito.
“Tem que ter, além de experiência, respeito ao público. A preocupação de quem organiza não pode ser apenas com o artista, mas com o público, que é quem sustenta toda essa indústria”.
Uma vaquinha precisou se feita para pagar o translado do corpo da jovem até sua cidade natal. Tanto a equipe de Taylor quanto a produtora responsável pela turnê, não se moveram.
A empresa responsável pela turnê, contratante e produtora dos shows de Taylor Swift no Brasil, ofereceu apenas “apoio psicológico” aos pais da fã sul-mato-grossense que passou mal logo no começo do primeiro show da artista, no último dia 17 de novembro, e morreu de parada cardiorrespiratória no hospital Salgado Filho, a poucos metros do estádio, momentos depois.
Hasta la vista, Taylor
Nos próximos dias 24, 25 e 26 de novembro, será a vez de São Paulo receber Taylor Swift. A expectativa é de que nada grave aconteça. Que a prefeitura da Terra da Garoa se faça presente, destacando órgãos responsáveis para a distribuição de agua e atenção ao público. Vale ressaltar que o Ministro da Justiça decretou que a distribuição de água em shows agora é obrigatória.
E que a empresa organizadora encontre o caminho que perdeu totalmente em terras cariocas. Talvez a sensação térmica de 60º C que tanta mal fez à Ana Clara Benevides, de 23 anos, tenha afetado o senso e a noção deles também.
É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino