D. Déa Lúcia protesta contra homofobia e emociona: ‘Ainda vou ver meu filho’

Por - 11/09/23 às 07:21

D. Déa Lúcia de preto, com expressão tristeD. Déa Lúcia teve emoções variadas ao longo do programa - Foto: TV Globo

Dona Déa Lúcia é necessária e não dá mais pra imaginar o “Domingão Com Huck” sem a presença dela. Muito participativa, divertida, politizada e atenta a cada detalhe, a mãe do saudoso Paulo Gustavo protagonizou momentos importantes no programa exibido no domingo, 10 de setembro, na Globo.

Em um deles, Luciano Huck fez uma surpresa para uma família de Angola cujos integrantes estavam separados pelo mundo. Uma jovem de Angola estava na plateia e ficou incrédula diante da presença da mãe, da avó e da irmã, no palco do Domingão. A mãe da moça chegou a cair de joelhos no chão ao ver a filha.

Dona Déa Lúcia ficou muito comovida com o reencontro e fez a plateia e o público de casa sentirem o mesmo: “Eu acho que um dia vou ver meu filho ainda”, disse, com a voz embargada.

Lívia Andrade elogiou a coragem da jovem que deixou seu país na África para tentar a sorte no Brasil. O padre Fábio de Melo confessou que foi difícil manter o controle ao presenciar a cena: “Você sabe que há muito tempo eu não me emocionava tanto como eu me emocionei agora? A ponto de perder… Eu vivi uma coisa que há muito tempo eu não vivia”, admitiu o religioso.

“É porque você se lembrou da sua mãe, e eu do meu filho”, interveio dona Déa Lúcia.

“A gente experimenta isso, depois que a gente perde uma pessoa muito importante, uma mãe, um filho, você vive numa constante expectativa de reencontro. E quando você vê isso acontecer, o que é possível ainda… Quem dera se dissessem pra gente ‘ligue nesse telefone que ele atende’?”, destacou o padre.

Protesto contra PL

Em outra situação do programa, Dona Déa Lúcia se pronunciou sobre o projeto de lei (PL) em análise na Câmara, que pretende proibir o casamento homoafetivo no Brasil.

Indignada com a proposta, ela garantiu que vai brigar para que o projeto não seja aprovado: “Quero aproveitar que estamos falando desse assunto que agora está em pauta, querendo acabar com o casamento homoafetivo. Que é o caso do meu filho, que é o caso do Carma Dalla Vecchia (o ator estava no palco), que é o caso de chefes de família. A gente não pode permitir que se acabe com o casamento homoafetivo no Brasil! Eu vou brigar por isso!”, disparou.

Luciano Huck, então, ressaltou que seu programa serve também para dar espaço para todos os tipos de amor. A mãe de Paulo Gustavo, que era casado com o médico dermatologista Thales Bretas, completou a fala: “As pessoas tem que ser felizes e com todos os seus direitos garantidos pela Constituição”, disse ela.

D. Déa ainda reforçou sua repulsa contra a homofobia: “Um homem, ele tem que ser homem em pé. Honesto, trabalhador, cumpridor do seu dever, respeitoso com os demais. Deitado é problema dele, ninguém tem nada a ver com isso. Eu durmo com quem eu quero e ele dorme com quem ele quer”, bradou, sob aplausos da plateia.  

O que diz a PL

No último dia 05 de setembro, a Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados debateu um projeto de lei que tenta proibir a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

O parecer é elaborado pelo deputado Pastor Eurico (PL-PE) e veta a possibilidade de que esse tipo de união seja equiparada ao casamento heterossexual ou tratada como “entidade familiar”. Na solicitação da PL, o deputado reacionário alegou que a aprovação do casamento homoafetivo no Brasil foi pautada em um ativismo judicial. 

“Percebe-se, por conseguinte, que, mais uma vez, a Corte Constitucional brasileira usurpou a competência do Congresso Nacional, exercendo atividade incompatível com suas funções típicas. A decisão pautou-se em propósitos ideológicos, o que distorce a mens legislatoris e a vontade do povo brasileiro, que somente se manifesta através de seus representantes regularmente eleitos”, declarou o político.

Em 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu, por unanimidade a união estável entre casais do mesmo sexo como entidade familiar. Em 2013, para cumprir essa decisão, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) definiu que nenhum cartório poderia rejeitar a celebração dessas uniões.

Em 2017, o STF equiparou a união estável, homoafetiva ou não, ao casamento civil.

Clodovil Hernandes propôs a legalização da união hmoafetiva

O parecer do deputado Pastor Eurico, na prática, inverte o projeto mais antigo que tramita na Câmara sobre o tema, apresentado em 2007 pelo então deputado Clodovil Hernandes (PTC-SP), que faleceu em 2009, aos 71 anos, de parada cardíaca, após sofrer um AVC.

O texto original propunha a inclusão no Código Civil da “possibilidade de que duas pessoas do mesmo sexo possam constituir união homoafetiva por meio de contrato em que disponham sobre suas relações patrimoniais” – algo similar ao que foi decidido pelo STF quatro anos depois.

  • O parecer do pastor Eurico defende a rejeição do texto de 2007 do deputado Clodovil e de sete outros projetos apensados – e a aprovação do texto que proíbe o casamento civil;
  • No documento, o pastor defendeu que a Constituição determina que a união estável deve ser apenas entre homem e mulher;
  • O pastor também escreveu que o casamento entre pessoas do mesmo sexo seria “contra a verdade do ser humano”.

“A Carta Magna brasileira estabelece em seu art. 226 que a família, base da sociedade, com especial proteção do Estado, reconhece a união estável como entidade familiar apenas entre homem e mulher. Nesse diapasão, qualquer lei ou norma que preveja união estável ou casamento homoafetivos representa afronta direta à literalidade do texto constitucional”, escreveu Pastor Eurico.

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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino