‘Elas por Elas’ sofreu na audiência, mas deu aula sobre remakes

Por - 12/04/24 às 16:08

MÁRIO FOFOCA (LÁZARO RAMOS), NATÁLIA (MARIANA SANTOS), RENÉE (MARIA CLARA SPINELLI), HELENA (ISABEL TEIXEIRA), TAÍS (KÉSIA), LARA (DEBORAH SECCO), ADRIANA (THALITA CARAUTA) E CAROL (KARINE TELES) EM ELAS POR ELASFoto: TV Globo/Fábio Rocha

Chega ao fim nesta sexta-feira, 12 de abril, “Elas por Elas”, novela das 18h da TV Globo escrita pela dupla Thereza Falcão e Alessandro Marson. Porém, a trama acabou ficando entre as novelas de pior audiência da faixa horária do canal, conforme contou o Notícias da TV.

Todavia, este que vos escreve considera isso uma grande injustiça, pois mesmo com alguns deslizes e erros, que todas as obras do mundo estão sujeitas a cometer, a trama foi muito boa e divertida de e acompanhar.

Falando do gênero em si, “Elas por Elas” teve tudo que uma novela boa costuma ter: intrigas, romances, traições, mistério e investigação, sequestro, laços familiares e até mesmo críticas sociais pontuais. Ainda, soube ir guardando grandes segredos para revelar aos poucos, ao mesmo tempo que buscava dinamismo na condução da história.

Thereza e Alessandro diluíram bem os pontos importantes da história, não revelando tudo rápido demais, e nem deixando tudo para o final. Claro que grandes coisas aconteciam nas pontas, mas o meio também contava com seus momentos.de clímax. Uma pena que “Elas por Elas” sofreu na audiência.

Saiba final de Helena e érgio no remake

Atores excepcionais em “Elas por Elas”

Ainda, deve-se destacar grandes atuações de boa parte do elenco. Deborah Secco e Lázaro Ramos foram magistrais no divertido casal Lara e Mário, sempre arrancando sorridos do público. Isabel Teixeira e Marcos Caruso foram vilões excepcionais, e esbanjaram talento em muitos momentos, e souberam dar a carga dramática mais que necessária à trama.

Destaque também para Thalita Carauta, cuja personagem, Adriana, teve embates diretos com Helena e Sérgio, os antagonistas de Teixeira e Caruso, respectivamente. Com uma história tensa, a atriz eventualmente transmitiu bem tudo que sua personagem necessitava.

Outra protagonista de destaque foi Mariana Santos como Natália, cuja atriz era do humor e soube dar vida a uma aparente psicótica, acertando até nos trejeitos. Já Késia estreou bem em novelas com o Taís, e Cássio Gabus Mendes foi brilhante como Roberto.

Por fim, vamos falar do elenco jovem, que também teve suas pérolas. Primeiramente, Rayssa Bratilieri e Filipe Bragança arrasaram como Isis e Giovanni, o casal jovem principal, com uma química inigualável. Várias vezes a dupla dominava a trama mais que as sete amigas, e fez o Brasil inteiro torcer por eles ao longo dos capítulos.

Entretanto, Valentina Herszage não fica para trás como principal antagonista do casal, trazendo a maldade e inveja de Cris com precisão. Quem não amou odiar a personagem? Ainda, Castorine e Diego Cruz foram bem competentes na pele de Yeda e Aramis. Quem não assistiu “Elas por Elas” pela audiência baixa que sofreu, não viu vário artistas arrasarem, cuja maioria vai fazer ainda mais sucesso posteriormente.

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Aula de como fazer um remake

Diferente da audiência, “Elas por Elas” não sofreu em dar aula de como fazer um remake. Nem sempre, ao reviver uma obra nos dias atuais, o ideal é copiar e colar o que já foi feito, e sim adaptar o que existe com atualizações e mudanças, seja para melhorar o que já tem, ou até mesmo surpreender o público que conhece a obra original.

A trama fez exatamente isso: pegou a base da versão de 1982, de Cassiano Gabus Mendes, como o encontro das amigas 25 anos depois, uma ser amante do marido da outra, rivalidade de Helena e Adriana, morte de Bruno e segredos familiares, e contou uma história quase que nova.

A maioria dos personagens tem os nomes diferentes, exceto os três citados no parágrafo acima, Natália e Mário Fofoca. Isso já da uma originalidade maior, mostrando que há sim uma inspiração na concepção das personas, mas também não são as mesmas nas duas novelas.

Uma mudança, várias supresas

Inclusive, a troca de bebês na maternidade foi magistral. Enquanto na original, os filhos de Helena e Adriana estavam trocados, seria impossível em 2023/2024 uma história em que crianças de sexo diferentes foram trocadas entre si. Ultrassom já existia em 1998/1999, quando ambas deram à luz no remake, e já saberiam o sexo do bebê antes dele nascer.

Ao fazer Giovanni ainda ser trocado, o espírito da versão de 1982 foi mantido, mas sem parecer forçado caso fosse com Isis a troca. Ainda, abriu brecha para a entrada de Marcos (Luan Argollo), que gerou uma mudança na maternidade de Helena, e consequentemente, na morte de Bruno.

Uma atualização para os tempos atuais gerou novas histórias e surpresas até para quem conhecia a original. Também tudo foi se revelando aos poucos, instigando o espectador a adivinhar o aconteceria e acompanhar o desenrolar de toda a história. Novamente, uma pena que “Elas por Elas” sofreu na audiência.

Helena (Isabel Teixeira), Carol (Karine Teles), Adriana (Thalita Carauta), Lara (Deborah Secco), Natália (Mariana Santos), Taís (Késia) e Renée (Maria Clara Spinelli) reunidas em "Elas por Elas"
Helena (Isabel Teixeira), Carol (Karine Teles), Adriana (Thalita Carauta), Lara (Deborah Secco), Natália (Mariana Santos), Taís (Késia) e Renée (Maria Clara Spinelli) reunidas em “Elas por Elas” (Foto: TV Globo/João Cotta)

Relembre declaração de Natália e Carol uma para a outra

Homenagens à “Elas por Elas” original

Por fim, vamos falar de algo que foi um acerto: as homenagens à versão original de “Elas pro Elas”. Antes da estreia, teve a revelação de que haveriam fotos das atrizes originais presentes pelo cenário, e assim foi feito.

Porém, isso se estende mais quando a Helena de Isabel Teixeira olha para uma foto de Aracy Balabanian, a Helena original, e a chama de mãe. Um gesto bastante simbólico, não é mesmo? Isso se estende, aliás, na participação de Esther Góes na reta final, como avó biológica de Giovanni.

Sendo a Adriana em 1982, que na verdade era mãe biológica de Gil (Lauro Corona), correspondente ao papel de Giovanni (chamado de Gio, olha aí outra homenagem!), ser a avó o atual é tão honrado quanto. Aliás, ao mostrar foto da mãe biológica do rapaz, Olívia, era a própria Esther Goés mais nova, provavelmente da época que gravou “Elas por Elas. Ou seja, avó e neto, são de certa forma também, mãe e filho.

Ainda nesse núcleo, como Isis não poderia ser mais filha de Helena, como justificar que suas personalidades são bem similares? E dar um drama a mais aos personagens? Bem, ela agora é irmã de Helena, pois é filha de Adriana com Sérgio, e seu romance com Giovanni não é incesto pois ele não é filho biológico da empresária.

Foi uma saída, que novamente, ressalto como genial, pois além de criar novas tramas e revelações surpreendentes, pegou o espírito do que veio antes.

Elas Por Elas - protagonistas reunidos
Personagens ruenios para slucionar a morte de Bruno – Foto: Reprodução/ TV Globo os

Nomes em secundários

Lembra que falamos de os personagens terem, em sua maioria, nomes diferentes de 1982? Pois bem, os nomes originais forma mantido em outras pessoas. Eva Wilma, que corresponderia a Lara (Deborah Secco), se chamava Márcia, nome da mãe biológica de Vic (Bia Santana) e Tony (Richard Abelha) no remake.

Sandra Bréa correspondia a Taís de Késia, e se chamava Wanda, mesmo nome da colega de trabalho de Carol (Karine Teles) em 2023. Falando nessa última, ela corresponde ao papel de Mila Moreira como Marlene, mesmo nome da tia de Isis e Adriana na versão atual, vivida por Maria Ceiça.

Aliás, no original, a correspondente de Isis foi vivida por Tássia Camargo, cujo nome da personagem era Miriam. Aqui, a enfermeira que trocou Giovanni e Marcos na maternidade interpretada por Paula Cohen ganhou esse nome. Já a enfermeira de 1982, que era Nathália Timberg, se chamava Eva, mesmo nome da assistente virtual de Carol.

Ainda, na primeira versão, quem correspondia a Renée (Maria Clara Spinelli) era Carmem, e seu cunhado que se chamava René, vivido por Reginaldo Faria, que no remake foi batizado de Edu (Luís Navarro) e ganhou outra história e características.

Relembre o que aconteceu nos capítulos finais de Elas por Elas

Representatividade e conclusão

Elas por Elas: Finalmente Carol entende seu amor por Natália - Foto: Globo
Elas por Elas: Finalmente Carol entende seu amor por Natália – Foto: Globo

Por fim, mas não menos importante, preciso ressaltar a maior diversidade que o remake trouxe em relação à obra original. A começar, uma maior aparição de atores negros, que correspondem a mais da maioria da população brasileira, e tiveram seu espaço de direito (e precisam ocupar cada vez mais).

As protagonistas, todas mulheres, tinham sua força e independência, diferente do contexto sociocultural de 1982, com poucos avanços no feminismo. Também, “Elas por Elas” não pode dizer apenas que sofreu na audiência, mas também que fez história com a primeira protagonista trans das novelas brasileiras com Renée.

Encerro ainda com o romance entre Natália e Carol, que também não existia n original, mas trouxe uma nova representação com um casal história de duas pessoas do mesmo gênero. Quem não emocionou com a fofura das duas se declarando uma à outra?

Então, “Elas por Elas” sofreu na audiência? Sim. Tinha defeitos? Sim. Mas ainda foi uma boa novela, com ótimos personagens, história instigante e muitas atuações magistrais, sendo fruto total de sue tempo apesar de ser um remake. O lado é positivo, e apesar d abaixa audiência, foi a novela das 18h com o maior faturamento da TV Globo, de acordo com o portal F5.

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Raphael Araujo Barboza é formado em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. OFuxico foi o primeiro lugar em que começou a trabalhar. Diariamente faz um pouco de tudo, mas tem como assuntos favoritos Super-Heróis e demais assuntos da Cultura Pop (séries, filmes, músicas) e tudo que envolva a Comunidade LGBTQIA+.