BBB21: Precisamos falar de saúde mental no reality show

Por - 13/02/21 às 07:22 - Última Atualização: 6 abril 2021

Divulgação/TV Globo

O BBB21 está sendo um dos principais assuntos do País, nas últimas semanas, principalmente a relação entre os participantes dentro da casa, que têm gerado bastante desconforto entre o público.

Em um momento que pautas sociais são discutidas a rodo, uma delas nem sempre tem tanta atenção: a importância de se ter e manter uma boa saúde mental.

O maior exemplo foi o que aconteceu com Lucas Penteado, que chegou a ser completamente excluído e proibido de almoçar na casa por Karol Conká, que defende pautas antirracistas, anti-machistas e a favor da comunidade LGBTQIA+.

Em entrevista exclusiva a OFuxico, o psicólogo e escritor Alexander Bez, atuante na área há mais de 23 anos e especialista em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA), comentou um pouco sobre o assunto, ressaltando que o próprio ato de entrar em um reality show é um grande impacto psicológico na vida de uma pessoa.

“A primeira questão a ser pontuada é que entrar em um reality de qualquer natureza já coloca as pessoas em situações de vulnerabilidade. Pessoas já fragilizadas emocionalmente tendem a sofrer mais com as variações de emoções do game. O que irá promover o sucesso pessoal no reality é justamente a flexibilidade em diversas situações”, afirmou ele.

“O Lucas, por exemplo, sofreu as piores repressões e sentimentos já visto dentro do reality. Em decorrência dessas agressões psicológicas, Penteado pode adquirir inumeráveis deletérios mentais, todos prejudiciais à constituição existencial-emocional. Ansiedade e depressão são consequenciais comuns nessas situações. Esses transtornos irão constituir um quadro de conflitos intensos, piorados com o sofrimento e a autodepreciação, que se iniciou externamente. A pressão e exposição do jogo podem ocasionar desiquilíbrio emocional, mesmo que o participante não seja submetido em situações extremas como a de Lucas”, explicou Bez

O psicólogo garantiu que a tortura psicológica se manifesta de diversas maneiras como: humilhações recorrentes, insultos, repressões e isolamentos e mesmo que bastante recorrente, é pouco falado na nossa sociedade, e acaba se dando em relações próximas de casais, familiares, ambiente de trabalho e até amizades sem que se perceba

“Lucas sofreu duras repressões e pressões psicológicas por parte dos outros participantes. Penteado é jovem, periférico e faz parte da ‘minoria’ brasileira. Entrou na casa mais vigiada do Brasil para a realização de um sonho, mas com ele veio traumas e inseguranças que foram inflamadas todo o tempo no reality. A exclusão causa tristeza, ansiedade e pode gerar danos intensos ao trato psicológicos. Caso o participante não seja acompanhado por um especialista, transtornos de Stress Pós Traumáticos também podem acabar surgindo”, alertou Alexander.

O profissional comentou também sobre a questão de saúde mental no país como um todo, que ainda trata o tema com bastante tabu.

“No Brasil falta acessibilidade ao básico para um viver feliz e consciente. Assim como não temos incentivo na educação, falta muita visibilidade e reconhecimento à psicologia. A desinformação sobre a importância da psicologia está aliada à nossa cultura, questões religiosas e preconceito ao próprio tratamento, quem nunca ouviu a frase ‘não preciso de terapia, não sou louco’”.

“Essa rejeição generalizada leva ao tabu, ocasionando a falta de tratamento e consequentemente o aumento de pessoas com sintomatologias psicológicas. Fazendo com que nossa sociedade menospreze a saúde mental e dando continuidade a ataques, humilhações, preconceitos e agressões psicológicas, tudo como resposta a traumas internos”, afirmou ele.

Visão dentro da casa

Karol Conká é bastante autoritária dentro do BBB21

Com as atitudes extremas de Karol Conká, muitos se perguntaram se a rapper não estaria fazendo um personagem dentro do BBB21, mas Alexander Bez não enxerga essa possibilidade.

“É visível que a competição e o confinamento potencializam condutas e emoções em decorrência a instabilidade emocional. Devemos pontuar que emoções são diferentes de ações intencionais. Karol acabou se envolvendo em muitas questões conflitantes dentro do reality, com certeza a cantora imagina que esteja certa em seus posicionamentos, mas a realidade vivida lá dentro não é a mesma aqui fora”.

“O estresse e conflitos tem força para alterar comportamentos e até mesmo despersonificar ações e pensamentos. No caso, Karol está sendo bastante criticada aqui fora pois o confinamento pode sim intensificar ações, mas não transformar personalidades”, garantiu.

Quanto ao restante dos participantes, o psicólogo revela que eles podem não ter notado as atitudes hostis, mesmo que aqui fora elas estejam bem claras e muitos se questionem deles serem coniventes com tudo o que acontece no programa.

“Alguns participantes não percebem que estão sendo opressores e hostis, mas no caso dos participantes que agem propositalmente a resposta pode variar bastante. É mais fácil remar a favor da maré, correto? Geralmente os oprimidos não são os mais populares dentro do reality. As pessoas se sentem à vontade para falar mal, criticar e reprimir pessoas mais frágeis emocionalmente, afinal, esses participantes geralmente não entram em conflitos pois estão sem apoio. Além dessa questão, o ataque pode ser direcionado também como uma ação projetiva como mecanismo de defesa do ego”, detalhou ele.

Outro ponto comentado por Alexander é o fato de a cultura do cancelamento, tal comentada pelos brothers, não anular as ações deles dentro do programa.

“A nova conduta comportamental de excluir determinada pessoa representa uma enorme negatividade. Mas o cancelamento é algo relativamente novo, é forte e efetivo, mas essa preocupação não conseguiria alterar uma personalidade, por exemplo. Com certeza o medo leva a preocupação, mas o que é observado ali são questões associadas a personalidade, ligadas aos tratos inconscientes, que se dão pelo fato em atender a demanda do próprio caráter”.

Cuidados de Lucas na vida e cuidados da produção

Lucas Penteado deverá receber acompanhamento profissional após sair do BBB21

Voltando a falar mais especificamente de Lucas Penteado, Bez volta a reforçar como será importante para o ex-BBB receber acompanhamento profisisonal.

“É necessário o acompanhamento com profissionais da área da saúde mental, tratamento esse que irá cuidar da autoestima e de todo trato psicológico afetado. A agressão psicológica sofrida por Lucas, por exemplo, pode gerar traumas severos se não tratado”, afirmou.

Segundo o profissional, as sequelas de Lucas devem ficar ainda mais severas levando em conta o fato dele ter se assumido bissexual publicamente e a casa ter duvidado de sua orientação sexual, acusando-o de se aproveitar da comunidade LGBTQIA+ para crescer no programa.

“Esse episódio poderia causar inúmeros danos psicológicos ao participante. Os traumas emocionais são contundentes para evocar desequilíbrios psicoemocionais. Essa falta de empatia sofrida por Lucas pode gerar conflitos na vida sexual e amorosa. Em sua cabeça certamente passou raiva, mágoa e muitas frustrações anotados em várias nuances, como a vergonha de ser ele mesmo”, disse ele.

Por fim, o psicólogo comentou sobre a possibilidade de existir uma maneira de melhorar a questão quanto a saúde mental dentro de realities shows:

“Essa resposta é complexa! Geralmente os realitys dessa natureza não são compostos por roteiros, tendo em sua fórmula a espontaneidade, essa se revelando como o seu grande ponto forte. Nesse tipo de entretenimento, a falta de roteiro ocasiona muitos conflitos, alegrias e polemicas. O grande questionamento é até onde vai o limite do entretenimento”.

Os jogadores aceitaram participar e passar por todas as dificuldades, mas a exposição desnecessária, agressão psicológica e pressão emocional não são divertimento. Existem sim problemas inerentes a forma como é conduzido o programa, a assistência da produção poderia ser mais incisiva em casos de repressões como as sofridas por Lucas Penteado. Manteriam a espontaneidade, mas com mais responsabilidade”, concluiu Alexander Bez.

E você, o que achou de todas as explicações?

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