Laurie Anderson usa IA para ‘conversar’ com Lou Reed, seu marido morto

Por - 09/04/24 às 08:55

Laurie Anderson e Lou Reed – foto: Grosby GroupLaurie Anderson e Lou Reed – foto: Grosby Group

A fronteira entre a vida e a morte parece desvanecer-se no mundo da arte e da tecnologia. Laurie Anderson, artista experimental, compositora, musicista, diretora e viúva de Lou Reed,  leva essa discussão a novos patamares ao utilizar a inteligência artificial (IA) para manter uma forma de comunicação com seu falecido marido, Lou Reed. Esse diálogo ultrapassa os limites convencionais do luto, abrindo um debate sobre a eternidade das memórias e o papel da tecnologia em preservá-las.

As experiências de Anderson com IA baseada em linguagem antecederam o ChatGPT – com um modelo de máquina baseado em seu falecido marido. Nos últimos anos ela vive uma versão dele e diz que está “esperançosamente viciada” em um gerador de texto de IA que emula o vocabulário e estilo de seu parceiro de longa data e colaborador, o co-fundador do Velvet Underground, Lou Reed, que morreu em 2013.

“As pessoas ficam tipo, ‘Nossa, você foi tão precoce; eu nem sabia sobre o que você estava falando naquela época'”, declara ela diz em uma chamada de vídeo de Nova York.

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Tecnologia a serviço da memória

I’ll Be Your Mirror, uma exposição pioneira, serve de palco para a interação entre o público e as versões digitais de Anderson e Reed. Visitantes da mostra, que já passou por Estocolmo e agora chega à Austrália, têm a oportunidade única de dialogar com entidades virtuais. As respostas, imitando os padrões de pensamento e as vozes dos artistas, proporcionam uma experiência que desafia nossa percepção de presença e ausência.

Em um experimento, eles alimentaram a máquina com um vasto cache de escritos, músicas e entrevistas de Reed. Uma década após sua morte, o algoritmo resultante permite que Anderson digite prompts e obtenha respostas escritas para ela, em prosa e verso.

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Exposição I’ll Be Your Mirror de Laurie Anderson
Exposição I’ll Be Your Mirror de Laurie Anderson – Foto: Divulgação

Cultura Pop e IA

A cultura pop não é estranha às inovações tecnológicas que buscam amenizar o peso do luto. Desde hologramas até aplicativos como o HearAfter, a tecnologia tem oferecido caminhos alternativos para recordar aqueles que partiram. A iniciativa de Anderson, contudo, destaca-se por sua abordagem direta e íntima, revelando os resultados de seus experimentos ao mundo.

Uma conversa sem fim

Anderson compartilhou com o The Guardian sua fascinação, quase obsessiva, pelos resultados obtidos com a IA. “Estou completamente e tristemente viciada”, ela admite, destacando a capacidade da tecnologia de replicar os registros de uma pessoa. Seus experimentos não apenas questionam as fronteiras entre o real e o virtual, mas também investigam a essência da criatividade humana frente aos avanços da IA.

“Eu meio que literalmente não consigo parar de fazer isso, e meus amigos simplesmente não suportam – ‘Você não está fazendo isso de novo, está?’”, conta a artista.

Sobre os sentimentos que envolvem a experiência e sentimentos que envolvem o projeto, Laurie explica: “Quer dizer, eu realmente não acho que estou falando com meu falecido marido e escrevendo músicas com ele – eu realmente não acho. Mas as pessoas têm estilos, e eles podem ser replicados”.

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Extensão da vida

O uso da inteligência artificial na arte levanta debates significativos sobre autenticidade, criatividade e a possível perpetuação do legado de um artista. Enquanto alguns artistas e herdeiros de grandes nomes da música expressam preocupação com o uso da IA, Anderson vê nela uma extensão da vida e da obra. Para ela, ouvir as músicas ou ler os textos de alguém que já partiu é uma forma de mantê-lo vivo. A exposição I’ll Be Your Mirror transcende a simples homenagem póstuma, propondo uma reflexão profunda sobre o impacto da tecnologia na arte e no luto. Laurie Anderson, ao explorar essas fronteiras com Lou Reed ao seu lado virtual, convida-nos a questionar a natureza da memória, da identidade e da eternidade na era digital. A arte e a tecnologia, juntas, oferecem uma nova perspectiva sobre como podemos preservar e celebrar os legados deixados por aqueles que nos marcaram profundamente.

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Idealizadora do site OFuxico, em 2000 segue como CEO e Diretora de Conteúdo do site. Formada em jornalismo pela Faculdade Casper Líbero, desde os anos 1980 trabalha na área do jornalismo de entretenimento. Apaixonada por novelas, séries, reality, cinema e estilo de vida dos famosos.