Os Outros: Série merece valor e atenção de produções gringas
Por Raphael Araujo - 19/04/24 às 18:12
Estreou na noite dessa quinta-feira, 18 de abril, a primeira temporada de “Os Outros”, série mais consumida no Globoplay, em 2023. Todos os episódios dessa primeira temporada serão exibidos todas as quintas logo após “Renascer”.
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Todavia, a atração não foi o produto mais consumido da maior plataforma de streaming brasileira à toa, e OFuxico vai te falar o porquê de a série ser tão boa e que, se ela fosse internacional, estaria recebendo ainda mais atenção e valor dos espectadores. Confira!
Antes de tudo, qual a trama de ‘Os Outros’?
Durante uma partida de futebol no condomínio, com outros adolescentes, Rogério (Paulo Mendes) agride Marcinho (Antonio Haddad) motivado por um desentendimento em um lance do jogo.
Mãe superprotetora e capaz de tudo para defender o filho, Cibele (Adriana Esteves) não tolera o que aconteceu e, sem abrir espaço para uma conversa, afronta a família do jovem que o atacou, o casal Wando (Milhem Cortaz) e Mila (Maeve Jinkings).
Movida pela raiva, ela arranha o carro de Wando. A atitude dá início a uma rixa que extrapola os limites da quadra, em uma sequência de atos impensados e agressões que trazem à tona reações adversas.
Motivados pelo que entendem como ameaças a si próprios e a suas famílias, os protagonistas deste drama contemporâneo se veem num emaranhado sem fim de atitudes extremas que mudam para sempre o curso de suas histórias. Os acontecimentos colocam a aparente normalidade do condomínio Barra Diamond em risco.
Dona Lúcia (Drica Moraes), a síndica, conta com a atenção do porteiro Elvis (Rodrigo Garcia) para mantê-la informada sobre tudo o que acontece por ali. Já Sérgio (Eduardo Sterblitch), um ex-policial expulso da corporação e morador do condomínio, vê oportunidades de obter vantagens diante do conflito entre os vizinhos.
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As qualidades da série
Com uma sinopse eletrizante, assim como um primeiro episódio sensacional, “Os Outros” é uma série de excelência, em todos os aspectos possíveis. O roteiro é instigante, te prendendo na história, e construindo bem quele mundo triste, tenso e sombrio.
Mas isso não seria nada se não estivesse aliado a uma direção completamente competente e uma fotografia excepcional, que sabem mostrar em tela tudo aquilo que a história precisa no aspecto visual. Quando vemos um flashback de Cibele, Amâncio e Marcinho chegando no Barra Diamond, felizes e esperançosos, tudo está claro e iluminado, tal qual o sonho deles.
Entretanto, na atmosfera geral da série, a iluminação tende a ficar mais soturno, e todo o clima mais pesado, pois tudo que os personagens estão passando é triste, grave e até desesperador, além de obviamente sombrio. Você sente exatamente o que precisa sentir!
Ainda falando de direção e fotografia, muitas cenas e takes são muito bem montados e gravados, com a cena de um personagem andando no corredor e as luzes automáticas iluminando aos poucos, ou uma troca de período de tempo com o elevador abrindo e fechando.
Ainda, a câmera busca sempre estar posicionada nos melhores ângulos, já focando na reação do personagem ou em todo o cenário, não se limitando a poucos planos. Há, destaque para cenas de plano sequência, sem cortes, muitas vezes utilizadas em filmes de ação, mesmo que nem sempre seja o caso aqui.
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Atuações e personagens
As atuações estão afiadas. Ariana Esteves reforça o poder de seu nome, entregando todas as nuances de Cibele, sendo o grande destaque ao lado de Eduardo Sterblitch, que muito ligado ao humor, sabe transmitir uma carga pesada perfeitamente aqui. O restante do elenco não fica para trás, e Drica Moraes sabe deixar sua misteriosa Lúcia, síndica do condomínio, bem “suspeita”.
Milhem Cortaz e Mila Maeve Jinkings estão muito bem em cena, exibindo como são um casal cheio de problemas e questões misóginas, e arrasam na atuação. Thomás Aquino tem boa fluidez com Adriana, e cumpre sua função com louvor. Mesmo mais jovens, Antonio Haddad, Paulo Mendes e, posteriormente, Gi Fernandes, carregam sua função com maestria.
Aliás, o motivo de os atores brilharem tanto é que eles interpretam personagens extremamente complexos e cheio e camadas. No fundo, a maioria ali tem motivo para ser odiado, enquanto quem não tem, toma atitudes que te fazem questionar o porquê. Mas ao decorrer dos episódios, vamos entendo cada vem ai os personagens, e o que os levaram a agir aquele jeito.
Entretanto, não ache que pessoas serão ditas como corretas ou não, ou quem alguém com atitudes bem negativas vá ser posto com herói. A série sabe deixar tudo na área “cinza”, sem tomar um lado específico, e apenas mostra as consequências da violência, falta de diálogo e mentes quebradas.
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Se fosse uma série gringa, teria mais valor…
É aqui que chegamos no ponto definitivo da discussão: se “Os Outros” fosse uma produção internacional, teria mais valor. Pesar da excelência técnica que descrevemos acima, não e vê a mesma repercussão da série como a de atrações de outros países, sobretudo dos Estados Unidos.
Ela foi bastante assistida, isso é fato, e os episódios eram comentados, mas não dominavam as redes sociais no dia do lançamento, a ponto de só falarem disso. Também não se vê internautas “panfletando” a série todo dia, compartilhando trechos, com outras costumam ter.
Sobre aspectos da produção, diversas séries semelhantes, por desenrolar ou temática, estão no rol de melhores obras televisivas da história. Por exemplo, acompanhamos a ida de personagens quebrados e dispostos a qualquer coisa, como Walther White (Bryan Cranston) de “Breaking Bad”. Ou, diversas famílias e núcleos com personagens “cinzas”, na qual ninguém é de fato mocinho da história, como em “Game of Thrones”.
Esses exemplos pontuais forma só a ponta do iceberg de como a temática da série é adorada, e ela tem uma qualidade à altura do sucesso das mesmas. “Os Outros” é aclamada, é querida, mas merecia ainda mais sucesso. Mas uma coisa boa ninguém vai poder tirar: é um “golaço” do Brasil!
Raphael Araujo Barboza é formado em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. OFuxico foi o primeiro lugar em que começou a trabalhar. Diariamente faz um pouco de tudo, mas tem como assuntos favoritos Super-Heróis e demais assuntos da Cultura Pop (séries, filmes, músicas) e tudo que envolva a Comunidade LGBTQIA+.