Por que festejar, se não existe Dia da Consciência Branca?

Por - 20/11/19 às 10:00 - Última Atualização: 21 novembro 2023

João Cotta/ TV Globo
20 de novembro. Desde 2003, é –  nacionalmente – o Dia da Consciência Negra. Dia de exaltar meus ancestrais. Foi pela dor deles que chegamos até aqui. E é também um dia em que muitos questionam o por quê do "privilégio", uma vez que não existe o Dia da Consciência Branca…

Respondo fácil, com fatos: dados do IBGE de 2017 destacam que, aqui no Brasil, um profissional negro recebe, 50% menos que um branco na mesma função e com a mesma formação técnica.

Negros são os que mais abandonam os estudos por ter o trabalho como prioridade. Leia-se subsistência. Relatorio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento estima que mais de 3,8 milhões de jovens entre 4 e 17 anos não frequentam a sala de aula.
 
Nos últimos 10 anos, a taxa de assassinatos de negros no Brasil subiu 33% no mesmo período a taxa entre não negros aumentou em 3,5%.

Dados mostram que, apesar dos negros e pardos representarem 54% da população, sua participação no grupo dos 10% mais pobres é 75%. maior que de brancos.

Em setembro de 2001, após a maior conferencia contra o racismo, a xenofobia e todos os tipos de discriminação o Governo Brasileiro se comprometeu a promover políticas antirracismo e de correção das desigualdades. De lá pra cá a União, estados e municípios têm realizado esforços na promoção da Igualdade.

Por aqui foi criada a  Lei federal 12.990, que reserva 20% das vagas em concursos públicos federais para pessoas que se declarem de cor preta ou parda. Temos ainda a lei 10.639, que obriga o ensino da Historia da África e de seus descendentes nas escolas

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que reserva ao menos 20% das vagas no Judiciário para candidatos negros.

Multiplicam-se secretarias estaduais, municipais e até um ministério de Igualdade Racial foi criado para coordenar as politicas de igualdade racial.

Tudo isso à toa? Então vamos parar por aqui. Até porque nem tudo é tristeza! Estamos  rompendo barreiras e, embora ainda sejamos minorias em cargos de decisão,  servimos de inspiração para muita gente. E que orgulho dá ligar a TV e constatar que o horário nobre, a partir de segunda-feira (25) terá negras no protagonismo. As personagens de Taís Araújo e Jessica Ellen já me inflamam o coração, cheias de representatividade! E isso importa, sim!

Contudo, foi a declaração de Regina Casé, ao falar de Lurdes, uma matriarca nordestina que encarnará na trama de Manoela Dias, que me fez pensar.

"Há quem diga que eu só interpreto nordestina. Sim, sou sempre a nordestina, e daí? Quando vocês se deparam com uma atriz que só faz a patroa, ela é questionada como se sente?", questionou.

É exatamente isso! Tais e Jessica Ellen carregam consigo o peso da cobrança. Romperam o estigma do segundo – quiçá terceiro – plano. Tal qual Érico Brás, o único apresentador negro no entretenimento, atualmente, na TV nacional. O mesmo que assola Maju Coutinho. E outros tantos… eu, inclusive, por que não?

Glória Maria está aí, recuperada, pronta pra luta! Era só ela… agora já acordamos com o competete Thiago Oliveira no Hora 1. Nossa força é renovada a cada chamada de Zileide Silva, Dulcineia Novais e Heraldo Pereira o JN! E o sorriso que brota diante de David Júnior, galã das 19h? Festejamos sim! E vamos, cada vez mais, comemorar a data de hoje! Até porque não é todo dia que reconhecem nossa história!

Em tempo: Natal está chegando. E esse ano a Globo destacou uma família preta como principal atração da Noite Feliz. Só pensa no que isso significa para uma criança que nunca se viu representada pelo Papai Noel… é a consciência chegando aos poucos…

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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino