Crítica: ‘Jogos Mortais X’ refresca a engrenagem cansada da franquia
Por Murilo Rocha - 02/10/23 às 21:35 - Última Atualização: 3 outubro 2023
O retorno da franquia “Jogos Mortais” veio e com força, estreando no final de setembro e com muita expectativa, já que seria o grande retorno de Jigsaw, desde o último longa em 2017, com Tobin Bell como John Kramer. É verdade, em 2021 tivemos um spin-off, fraquíssimo e que mal podemos chamar de parte da franquia oficial, chamado de “Espiral”.
Em 2010 foi anunciado que o encerramento do slasher policial aconteceria com o seu sétimo filme. Depois, com a popularização de reboots e remakes de clássicos, era hora de ‘jogar mais um jogo’. Por isso, o décimo filme veio carregado de expectativas: Primeiro com o anúncio de que seria uma história direta da franquia. Segundo, dois personagens clássicos estão de volta: Kramer e Amanda (Shawnee Smith), sua fiel e amada discípula que morreu no terceiro filme ao perder a cabeça e não jogar conforme as regras. Muito se perguntou como isso iria acontecer, mas o bom do universo do terror é que sempre existem lacunas que podemos preencher com novas histórias.
Veja “Premonição”: O último filme lançado faz par com o primeiro e assim o ciclo se mostra ainda mais abrangente, já que tudo pode ser colocado e ninguém morre de fato em um mundo dominado por este gênero. Basta um pouco de imaginação. Pois bem, “Jogos Mortais X” é um retorno grandioso da franquia, promissor, mas apresenta mecânicas cansativas que deixa a desejar em alguns pontos.
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A História
Para quem não está familiarizado, ou quer relembrar, John Krammer tem um câncer terminal no cérebro. Ele deixa seu legado com discípulos que passaram pelos seus jogos sádicos para ‘dar valor a vida’, alguns casos perdendo membros, outros saindo com grandes cicatrizes, mas tudo em nome da vida. Sim, o cara que mata é o mesmo que brinca de Deus. Uma das frases mais fortes dele é que: “Eu não mato ninguém. Eu dou a escolha”. E assim é como as coisas seguem no “X”.
John está terrivelmente cansado e vem lutando dia após dia para agarrar-se em uma esperança de que pode viver, de que pode respirar novamente e de que pode ter a remissão completa do câncer. O longa se passa entre o primeiro filme e o segundo, então a fase terminal é onde vemos o arquiteto na maior parte do filme.
Ele se depara com um colega de grupo de apoio que conseguiu um tratamento milionário, mas que o curou: Coquetel de medicamentos revolucionário com a cirurgia de retirada de tumor. Animado, ele procura o Método Pederson e consegue a ajuda de Cecilia (Synnove Macody Lund) que abre uma exceção para ele ter o seu tratamento, que demoraria 3 meses, para uma semana. Ele parte ao México e lá conhece o local escondido, pois a polícia e o governo estariam à procura deles por que o método seria contra a indústria farmacêutica. Algo de errado acontece e a fúria de John vem com tudo: É hora do novo jogo.
A Armadilha de Tudo
Não vou entregar quem mais está envolvido e nem dar spoilers sobre quais são as piores. Mas, posso garantir que, depois de alguns filmes mornos, esse filme trouxe de volta a agonia que é estar sentado e assistir algumas coisas bem físicas e bem incisivas, digamos assim. Todas elas são muito bem boladas em combinação com as histórias criadas. No entanto, o resultado da grande maioria delas é muito previsível e acaba sendo o desfoque do filme.
Sim, um filme que tinha como base suas grandes armadilhas e torturas criou um grande plot twist para ser algo mais subversivo e conversado. É nítido a tentativa de reviver a franquia com o toque de um horror mais atual, aquele que não é apenas facas e lâminas dentro de um slasher, mas aquele que trás uma bela história para amarrar as mortes e tudo se conectar.
Confesso que o final do filme me fez muito feliz e muito animado: Quem conhece a franquia sabe que é nele que a música clássica começa a tocar e todas as ligações e as ‘bombas’ das suas sinapses acontecem. É muita informação e você não pode piscar, pois tudo é muito rápido e muito eletrizante, mas ao mesmo tempo é um dos finais mais envolventes que tem dentro dos dez filmes.
O Erro
O filme tem um ritmo um tanto quanto arrastado. O começo dele até o verdadeiro início é um caminho justificado para te envolver na dor de Krammer: Certo de que vai morrer, há uma esperança e de frente com a morte novamente. Tudo isto vem da nova prática de humanização dos vilões. Existem cenas que deixam o espectador comovido e emocionalmente ligado com John, esquecendo de que ele é a mente por trás de jogos tão sádicos e de que a teoria da segunda vida é válida. Ele é a sequência mais dramática e menos focada no terror.
Mas, o grande defeito do filme é se levar a sério demais. É um slasher. Um slasher deve ter as mortes com seu foco, mas ao mesmo tempo, precisa de alívios cômicos e de mais desenvolvimento para as vítimas. Aqui é bem pouco o tempo para algumas, na verdade, o tempo que se leva para humanizar o John é o tempo que poderíamos conhecer um pouco mais de cada um.
A armadilha de abertura… Bem, é pífia. Todos os “Jogos Mortais” tem uma abertura que te deixa o aviso de certa maneira. Neste aqui é muito mais ‘moralista’ do que algo que realmente seja mais carnal. Aliás, acredito, que o desenvolvimento da primeira vítima é muito confuso.
No final, “X” é o início de algo novo. O ritmo precisar ser acertado, as armadilhas precisam de mais tempo, talvez até mais vítimas, mas é sempre bom ver Tobin Bell trazendo vida para uma das faces mais marcantes do horror. O boneco característico tem pouquíssimo tempo de tela e deveria estar um pouco mais presente. O próprio fim indica que existe um começo para além de um suposto fim, principalmente pela participação especial na cena pós créditos. É definitivamente um revival, um frescor para uma engrenagem que precisava exatamente disto.
Em formação no Jornalismo pela UMESP. Escreve sobre cultura pop, filmes, games, música, eventos e reality shows. Me encontre por aí nas redes: @eumuriloorocha